Capítulo 1 - Entregue

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Todos estavam afoitos, mesmo tendo virado algo comum daquela província. Claro, nunca se acostumaram realmente com a ideia de sacrificar alguém para que a paz permaneça, mas era tudo o que o Rei pedia em troca de proteção e prosperidade pra terra. O Rei era cruel, sua soberania se espalhou por todo o mundo, sendo temido por vários e evitado por muitos reinos. Foram poucos aqueles que ousaram pisar em seu território, onde a boa maioria acabou sendo executada. Um dos poucos que o Rei mantinha uma ligação de negócios era Satoru Gojo, um imperador do Sul, que acabou chamando a atenção pelo poder e beleza incomum. Apesar de tudo, para o Rei, ele não passava de um ser insignificante e insuportável que podia manter ligação. O Rei não era burro de desperdiçar o respeito e fama que o outro tinha, ou seja, vantagens. Nunca se sabe dos aliados que vai precisar em uma guerra, e de preferência, os fortes.

Era de manhã cedo quando começavam os preparos para a partida, o sacrifício precisava ser entregue no palácio real no mesmo dia e o caminho era longo demais para as pernas cansadas e calejadas dos trabalhadores, exigindo muitas pausas para descansar. A movimentação era grande na pequena vila, alguns corriam com cestas e roupas, outros embrulhavam comida para a viagem , enquanto alguns apenas choravam. A comoção não poderia ser menor, pois aquele ano seria diferente das outras vezes. Normalmente a pessoa a ser sacrificada é alguém velho e com muita experiência de vida, que já viveu uma longa vida. No entanto, aquele ano o Rei exigiu algo novo, espantando a todos: ele queria uma criança.

Quando a notícia chegou, todos ficaram devastados em terem de preparar uma criança para o abate. Uma criança. Uma vida jovem e ingênua, com tantas coisas a viver ainda. Durante a noite do dito dia, os anciões debatiam em quem deveriam enviar para o sacrifício. A vila não tinha muitas crianças, então muitos pais ficaram preocupados com as chances altas de escolherem seus filhos. Depois de uma grande discussão, escolheram por fim uma das crianças. Era um garoto que não tinha pais e morava com o avô em uma cabana humilde, mas o idoso já estava em uma idade avançada e já não sabiam quanto mais o senhor aguentaria de vida. Aquela criança acabaria ficando sozinha de todo jeito.

Em um cômodo movimentado, várias moças ajustavam e davam os últimos retoques em uma pequena yukata preta. Era tão pequena. As moças passaram anos preparando yukatas grandes para cobrir um corpo adulto, mas pela primeira vez elas relutavam em ajustar uma yukata tão delicada em um corpo minúsculo e frágil. Era quase um pecado se orgulhar do trabalho bem feito que fizeram.

As vestes pretas eram largas em seus braços, e seus pés pareciam soltos em tanto tecido. Os detalhes vermelhos combinavam com seus cabelos rosados, e até sorriria pela beleza da roupa se não soubesse o significado por trás dela. O preto simbolizava a partida, o luto, a morte; enquanto vermelho simbolizava o sangue das presas do Rei. Era o que ensinavam desde cedo às pessoas de sua província.

- Está lindo, Yuuji-kun - Disse uma das moças, como se tentasse quebrar o silêncio.

- Sim, tenho certeza de que o Rei irá gostar de você - Concordou uma das moças, prosseguindo o diálogo.

Itadori teve vontade de revirar os olhos e mostrar sua língua para as mulheres, mesmo com a pouca idade, compreendia bem que aquilo não era algo legal.

"Ele não vai gostar de mim, só vai me matar"

Foi tirado dos seus pensamentos quando uma mão tocou suavemente seu ombro, um toque cuidadoso e reconfortante.

- Olha, Yuuji, sei que deve estar com medo e assustado, mas saiba que somos todos gratos a você, você está salvando milhares de pessoas - a voz suave ficou embargada - Seja forte!


E então, pela primeira vez, Yuuji Itadori sentiu vontade de chorar como a criança que realmente era.

...

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