Capítulo 3 - Amigo

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Longos dias se passaram desde que chegou ao palácio. Dias tortuosos. Nos primeiros dias, Uraume - descobriu ser o nome da mulher que o ajudou - foi sua única companhia; lhe ajudava em tarefas e se sentava consigo à mesa para as refeições em uma sala isolada das outras. Pensando melhor, Uraume deveria fazer isso para o manter longe do Rei, talvez ela soubesse o desconforto que sentia perto do outro. Em todo tempo que esteve no palácio foram poucas as vezes que trocou olhares com o Rei, a qual evitava a todo custo o encontro de ambos. Após os acontecimentos do primeiro dia, apenas fora encontrar o Rei novamente dois dias depois do ocorrido enquanto perambulava pelo palácio; o segundo encontro aconteceu enquanto estava com Uraume, onde ele precisava da ajuda de sua tão leal serva. Uraume era fiel ao Rei, Yuuji havia reparado, e estava sempre ao lado daquele ser monstruoso. Por esse e outros motivos, Itadori acabava ficando sozinho a maior parte do tempo.

Vez ou outra agradecia mentalmente pela imensidão que era o palácio, lembrando vagamente um labirinto, pois isso dificultava encontrar quem não devia enquanto explorava sua nova morada. Havia outros servos que ajudavam na limpeza e servir o Rei quando chamava, mas ainda assim, era raro encontrar algum por aí. Os poucos que encontrou sequer olharam em seu rosto, evitando diálogos e interações. Era tudo entediante. Sentia falta da vila que morava, da sua pequena casa, de seu avô e amigos; lembrava dos momentos na tardinha que ele e seus amigos, Kugisaki e Megumi, saíam para brincar no campo e ver os vagalumes quando caia a noite. Será que eles voltariam a se ver?

Era de manhã cedinho, a primeira coisa que fez ao acordar foi tomar um banho com auxílio de Uraume e colocar uma muda de roupa para o dia. Outra coisa que havia mudado desde que passou a morar no palácio foram suas vestimentas, que foram trocadas por tecidos de seda que só pelo toque deveriam custar centenas, senão, milhões. Enquanto se trocava, Uraume insistia em dizer que aquelas roupas luxuosas eram presentes do Rei, mas isso só fazia Yuuji preferir andar pelado por aí do que usar aquelas roupas. Logo em seguida, após se vestir, ela preparava seu café da manhã reforçado: bolos, sucos, leite quente, biscoitos etc. Ela distribuía tudo pela mesa e deixava o menino a vontade para pegar e comer o que quiser, mas sempre certificando de que pegasse o bastante para encher o estômago.

Porém, esses momentos juntos eram curtos, Uraume sempre precisava sair após sua refeição e só voltava a aparecer quase meio-dia para o almoço, e depois sumiria novamente até anoitecer. Ele não gostava de admitir, mas havia se apegado a sua presença e se sentia sozinho quando a mesma ia embora; de certa forma era aceitável a falta que sentia, pois foi obrigado a conviver em um ambiente que não conhecia ninguém, além de acabar ficando sozinho boa parte do tempo. Uraume era a única que ficava com ele, e a única que parecia se importar com ele.

De barriga cheia, Itadori pegou alguns pães e guardou dentro de seu kimono para comer mais tarde: havia pego uma mania de, após explorar, sentar-se em algum corredor e comer pães ou bolinhos enquanto refletia sobre seu dia - outras vezes se escondia em algum cômodo deserto e cochilava na parte da tarde. Estava cogitando a ideia de brincar no jardim, mas estava decidido a terminar de explorar o palácio! Não entendia a necessidade de um lugar tão grande se quase tudo era vazio ou deserto, dependendo de empregados para mantê-los longe da poeira pela falta de utilidade. O Rei era realmente idiota.

Com bons minutos de caminhada, optou por parar um pouco e descansar, mas um barulho chato acabou chamando sua atenção. Um barulho contínuo de "tec tec” procedia em algum lugar naquele corredor, talvez de alguma sala que ainda não tenha visto. Parado, tentava assimilar o que seria o barulho, chegando à conclusão de que só poderia ser algo batendo em vidro, ou melhor, porcelana. Mas Itadori se encontrava bem longe da cozinha ou de qualquer cômodo que servisse como lugar para comer, sabia pouco sobre a planta daquele palácio, mas já havia memorizado algumas coisas.

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