Segredos.

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Os pequenos tinham adormecido ao som da minha voz. Novamente, não saberiam o final da história da nossa deusa Mãe, a última guerreira do fronte de elfos, abençoada pelos deuses que estavam adormecidos e acordaram com suas súplicas. Eu amava essa história, fazia-me imaginar, quando pequena, que um dia o mesmo aconteceria comigo. A Mãe não deixaria passar por tudo que passei em vão. Theo me encarava, parecia esperar que continuasse a ler.

- Não vou terminar sem as crianças, Theo! - o elfo à minha frente bufa de insatisfação, mas logo se põe a sorrir.

- Você consegue me prender nessa história como se eu fosse uma criança que nunca a escutou - dou um sorriso tímido com a confissão de Theo. Esses elogios repentinos me fazem querer fugir daqui, me afastar dele, mas não consigo.

- Vamos colocá-los nos colchões. - iríamos todos dormir na sala, os colchões já estavam alinhados um ao lado do outro perto da lareira. Colocamos Aerin e Billi em seus colchões, que estavam no meio dos nossos. Após alguns resmungos e sussurros incompreensíveis, eles se acomodaram e deixaram o cômodo silencioso. Observava o fogo queimar, a sensação de conforto e calma me tomava. Depois de um dia tão cansativo e cheio de tensões, precisava de um conforto. O inverno estava indo embora, dando lugar à primavera. As noites ainda estavam geladas, então o calor do fogo era bem-vindo. O silêncio estava se tornando desconfortável, então decidi me deitar. Não queria que ele tocasse naquele assunto novamente.

- Mary, ainda está acordada?

- Sim.

- Você sabe que pode contar comigo. - sabia que ele não deixaria isso para trás. Theo era teimoso demais para isso.

- Sei.

- Então me conte o que está acontecendo com você.

- Theodor, tem como deixar isso para lá? Eu só não quero falar sobre isso, é algo que não tem importância.

- Mas, Mary, se está te incomodando é porque faz diferença para você. Tem como confiar em mim, como confiava quando éramos crianças?

- Não somos mais crianças, Theo... - Ele suspira pesadamente. Espero que agora ele desista desse assunto.

- Mary? - Finjo estar dormindo. Se ele continuar insistindo, vou acabar contando tudo que está guardado há tanto tempo. Por agora, não é disso que preciso. Theo adormeceu, eu, pelo contrário, não consegui dormir. Tudo que aconteceu hoje me assombrava. As vozes carregadas de rancor dos caçadores assombram meus pensamentos. Me pergunto o que fariam aqui, o que procuravam. A séculos foram proibidos de andarem por essas terras, achava que nem se lembravam de nós. Decidi me levantar para tomar um copo de água. Ao chegar na cozinha, vejo um cartão postal com a imagem da árvore onde se encontrava a pousada Lírio, era da Cristal. Ainda não acreditava que ela estaria no festival da primavera. Tento ser positiva e pensar que ela mudou, já não é mais aquela garotinha mimada e cruel. Observava a lua pela janela da cozinha, a noite estava bonita, mas algo incomum me chamou a atenção: elfos do fogo fazendo rondas noturnas. Fazia tempo que não via eles fazendo isso, talvez tenham ficado em alerta por conta dos caçadores que vi mais cedo, pelo menos deram atenção devida para o ocorrido. Assim fiquei até amanhecer. Não consegui dormir, mesmo sabendo que havia guardas fazendo rondas. Resolvi aproveitar e fazer o café para os que dormiam. Fiz panquecas, chocolate quente e um pouco de café. O cheiro se espalhava pela casa, que, junto com os raios de sol que entravam pela janela, dava um ar aconchegante para o recinto. Escuto risadinhas e sussurros vindos até a cozinha.

- Esse cheiro está ótimo, mana! - Disse meu irmãzinho, que veio logo dar um abraço e um bom dia, juntamente a Rin.

- Que bom que gostou, os pratos de vocês já estão à mesa. - Digo isso apontando para seus assentos sobre a mesa. Ambos se dirigem e começam a se servir.

- Eu amo calda de caramelo nas panquecas.

- Sim, a mana sempre faz lá em casa para o café da manhã.

- Por favor, deixa eu morar com vocês, Mary. Se depender do meu irmão, eu morro intoxicada, porque suas comidas são horríveis.

- Como assim, dona Aerin? Achei que gostasse das nossas comidas. - Theo aparece na porta, com uma cara de ofendido.

- Irmão, nem os passarinhos comeram as migalhas das panquecas que você fez. - Com esse comentário, eu e Billi caímos na gargalhada, mas Theo se mantinha com cara de ofendido. Depois, não aguentou e riu.

- Você não presta, Rin. - Disse Theo para a irmã, que mostrou a língua para ele.

- Vou começar a trazer café para vocês pela manhã ou vão lá na pousada.

- A verdade, você começou a trabalhar na pousada da sua avó.

- Sim. Ela está mais limitada, então me pediu para ajudá-la. - Minto novamente. Minha avó Freda nunca me pediria algo; ela não é tão educada assim.

- Podemos fazer isso, por favor? - Rin quase implora para o irmão.

- Claro, vamos sim.

- Por falar nisso, termine logo, Billi, para irmos para casa.

- Não vão se arrumar aqui?

Não trouxe o uniforme do Bil, vou levar ele na escola antes de ir para a pousada. - Theo afirma e continua seu café. Me junto a eles para comer. Foi um momento tranquilo e de risadas, mas assim, que terminamos, arrumamos a sala e eu e Billi fomos embora para nos arrumar para enfim fazermos nossos afazeres diários.

Obs: Capítulo um pouquinho mais curto, espero que estejam gostando💗🥀

O legado perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora