02. F5

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VANTE

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VANTE

O notebook finalmente liga após vinte longos minutos, quase desisto da minha sessão de hoje, mas infelizmente ele ligou. Apoio na mesa da cozinha e me sento, vou até meu quarto e abro a primeira gaveta da minha cômoda, a única coisa que eu guardava lá era um caderno com uma capa preta escrito "agenda" em letras brancas. Levo até a mesa junto a uma xícara de café, isso me lembra que meu turno começa em uma hora e meia, ainda nem tirei meu uniforme quando ela atende.

- Boa tarde! - Já cansei. - Como estamos hoje?

Sempre as mesmas perguntas, sempre se referindo a nós, ela diz ser uma forma de confortar minha mente para que eu não me sinta sozinho, nunca funcionou, eu estou sozinho, por que me enganar a isso? Só continuo nas sessões de terapia pela minha mãe, aos quatro anos tive meu primeiro contato com um psicólogo, agora, com 17 anos, finjo que ainda funciona assim como fingia quando criança.

- Acordei antes do terceiro horário. - Ela abre um sorriso do outro lado da tela, se eu não fosse ético, reviraria os olhos.

- Que ótima noticia! - Por que parece que ela sempre fala com ponto de exclamação? Ela é tão feliz e autêntica assim? - E sua lista? Algo novo?

Olho pro caderno ao lado do notebook por alguns segundos e pego, me encosto na cadeira e abro folha por folha dessa semana.

- "Escola nova", "Fui aceito no emprego", "Escola, aula chata", "Almocei", "Sessão de terapia, devo atender?", "Trabalho", "Cheguei em casa, que sono", "Tomei sorvete no caminho", "Enfim, na cama"... - Repito essas mesmas anotações a cada folha que passo, algumas coisas eu descarto como nos finais de semana por não trabalhar, ou adiciono como "Li um livro, péssimo", mas paro de ler assim que chego na ultima folha de hoje. - "Meu maior arrependimento" - Ao lado tinha uma seta apontando pra cima e o número um seguido."

Fecho o caderno e o coloco na mesa novamente, voltando a atenção para a mulher na tela, ambos em silêncio, decidindo o que fazer sobre a nova informação escrita. Ela sabe que eu nunca me arrependo da minha semana, até porque sempre caminho nos trilhos para não precisar me arrepender de algo, além das lutas diárias, trabalhar, dormir tarde uma noite antes de um dia de prova, não ter estudado, mas nunca precisei anotar nenhum desses arrependimentos. O objetivo dessa lista, de acordo com ela, é porque eu odeio precisar me explicar, conversar sobre meu dia ou desabafar, então depois de muitas tentativas como um diário, eu rasguei, escrever histórias, não passava de "era uma vez..", ela lançou um: "Faça uma lista para mim sobre tudo que fez durante o dia amanhã, depois leia em voz alta". Não posso dizer que foi revolucionário, mas eu não rasquei, nem desisti na primeira frase, na verdade me senti organizado, tinha controle sobre minhas ações, então sempre sei o que acontece ao meu redor e o que faltava caso não listasse.

Sem tempo pro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora