Sem tempo pro amor

05. Estranhos

ETHAN

Um mês se passou desde a briga, um mês do dia em que reencontrei Léo e um mês que nunca mais vi Vante, de todos esses tópicos, o último é o único que não sai da minha cabeça. Faz trinta dias que o estresse dominou minha mente, soube por Miguel que a bicicleta voltou para a mão do dono. O ano novo foi estressante, tudo, até mesmo esses doces perfeitos demais que fui obrigado a experimentar para o segundo casamento do meu querido pai. Porra, eu quero meu quarto, ou um ringue, qualquer um dos dois me salvaria de ficar perto dessa vadia com uma vassoura amarela no lugar do cabelo.

Luke, o filho dela com nome de cachorro, deve ter comido todo o estoque dando em conta o quão grande é, mesmo tendo apenas sete anos. A casa é enorme, principalmente a sala onde o velho escolheu que será a cerimônia, e eu o odeio ainda mais por preferir distribuir novos votos no mesmo local que casou com a minha mãe, ele é repugnante, será que ao menos sente um pingo de remorso? Não, claro que não, pra que sofrer se ela já está morta? Foi isso o que ele disse logo depois do enterro dela quando implorei para faltar um dia sequer na escola. "Você tem responsabilidades, deixe a morte para depois." Foi quando decidi nunca mais seguir nada do que o agradaria, no início foi por rebeldia, agora tenho um propósito.

É tudo muito branco, meu terno a muito tempo se perdeu e minha blusa social está amarrotada, se eu estivesse com uma gravata me sentiria de volta na escola. Paro de comer um dos brigadeiros e o encaro, depois percebo o nome da empresa que os forneceu, a mesma em que Vante trabalha, ele vai vim? Será um dos garçom? Bufo em descontentamento, minha cabeça começa a doer por tanto estresse acumulado e paro de provar tanto açúcar, isso destruiria o pouco do físico que me restou, não tive tempo de treinar como antes para "manter as caras" depois que o velho pagou a escola para me passar de ano, agora passa o dia inteiro tentando me convencer a aprender a liderar sua empresa, ou melhor, um buraco que lidera a capital a evoluir destruindo os pobres. Não que eu seja algum Robin Hoody, não quero destruir esse homem para salvar os necessitados ou coisa parecida, mas qualquer um com consciência de classe entenderia o quão problematico é liderar isso.

Minha mãe era pobre e infelizmente me amava o suficiente para se arriscar casar com um homem podre para me fornecer o melhor da vida, a única coisa que eu devo agradecer em toda minha existência é não ser filho legítimo dele, até porquê ele não pode ter filhos, a infertilidade é algo perigoso em uma família de herdeiros que tendem a evoluir seu legado, por isso está preparando a próxima vítima com seu filho idiota para quando eu finalmente dar o fora nisso tudo, morrer ou não ter um "herdeiro". Ser gay me deu essa vantagem, quando tivemos uma briga feia sobre como eu "deveria pensar no bem do meu futuro" ou seja, o futuro do dinheiro dele, precisava engravidar alguém. Porra, estamos em que século? Vivemos na era digital, ninguém se importa com legado ou hierarquia, apenas os burros tolerantes que se escondem atrás de notas roubadas aceitam isso.

Peter é um homem inteligente, ele escolhe mulheres em busca de uma vida melhor para os filhos, solteiras que não queiram o dinheiro para si própria e que ele possa descartar quando bem entender, como fez com a minha mãe. Lilian é esnobe apenas de olhar por meros segundos, mas nunca submeteria a vida do pequeno Luke por isso, saiu de um relacionamento abusivo e podemos perceber pelas cicatrizes que tenta esconder com as meias rastões, tão falsa quando seu futuro marido, feitos um para o outro, duas cobras que, juntando os venenos, dominam o mundo. Falta uma semana para o anel de noivado virar de casamento e Peter faz de tudo para ela se sentir no controle, assim que ela disser "Sim" no altar, o documento que assinou onde comanda todo o resto de sua vida vai ser posto em prática, esse é o único motivo pelo qual ainda não saí dessa merda toda, prometi a minha mãe que iria aproveitar a boa vida que me ofereceu, desde os meus cinco anos nunca me faltou nada, não até os dezessete, onde virei um completo órfão.