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Quando se tem câncer, qualquer dor que você sente, pensa que vai partir dessa para uma melhor. Confesso que me sinto culpado por fazer meu pai e minha irmã viajarem diversas vezes em um mês, somente para manter meu tratamento em um bom hospital, mas não há nada que eu possa fazer.

Infelizmente eu não escolhi ter leucemia.

Eu já não me sentia tão péssimo quanto a uma semana atrás, quando, as pressas, meu pai me trouxe para um hospital particular em Seattle. Sim, saímos de Denver até Seattle. Dezenove horas de carro. Mas ele alugou um jatinho por conta de uma crise que eu tive, que no final, eu não bati as botas.

Infelizmente.

Suspirei e cliquei no botão onde chama a enfermeira.

— Ahn.. oi? É o Finney, do quarto 23.

Não obtive resposta.

Suspirei e fechei os olhos, soltando o botão. Isso é uma droga. Estar nesse hospital é uma droga, me sentir imponente é uma droga, fazer meu pai gastar rios de dinheiro com meu tratamento e passagens só para me ver melhorar, e ainda vê-lo chorar é a porra de uma droga.

Eu disse "droga" tantas vezes que perdeu o sentido.

Me sinto mal porque ele sabe muito bem que eu não tenho tanto tempo assim de vida, e mesmo assim insiste em um caso perdido.

E tudo bem, eu entendo. Eu também faria isso se eu tivesse um bebê, que de repente virou um adolescente de dezessete anos com câncer. Mas estar na posição do adolescente, também não é legal.

Imagina você achar que está melhorando, quando de repente tem uma recaída e simplesmente tudo que você acha que superou, vir à tona, muito pior.

É oque eu sinto, quase todos os dias.

Suspirei novamente e tirei os aparelhos de mim mesmo, até aquela coisa que me faz respirar melhor. Eu nem precisava dela tanto assim. Levantei e dei de cara com um espelho, oque me assustou.

— Puta merda, eu tô horrível — falei enquanto tocava meu cabelo.

Fazia dois dias que eu não tomava banho. Bruce está com inveja por eu estar mais fedido que ele.

Saí do quarto cambaleando um pouco, mas eu me sentia melhor. Peguei minha carteira no bolso do jaleco do hospital, e depositei uma moeda para pagar uma Soda. Desconfio que a causa da minha morte vai ser por diabetes, e não por Leucemia.

Abri a latinha a andei pelo hospital, vendo coisas horríveis acontecerem por ali. Entrou um homem baleado, e os médicos correndo com ele em cima de uma maca. Suspirei e fui até a recepção com a esperança de ver meu pai ou minha irmã, mas nenhum deles estava lá.

Não quero cobrar isso deles, eles deviam estar cansados.

Mas eu também estava.

[...]

— Tem certeza que é uma boa ideia você dirigir? — Bruce me perguntou enquanto eu colocava as mãos no volante.

— Nada pode dar errado.

— Você nem tem carteira!

𝐀𝐋𝐄𝐌 𝐃𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒  ━━ 𝒓𝒊𝒏𝒏𝒆𝒚. Onde histórias criam vida. Descubra agora