3.

106 22 124
                                    

— Você recebe alta hoje — Gwen disse enquanto mexia no celular.

— Legal — falei fingindo um entusiasmo.

— Não está feliz? — ela guarda o celular — bom, eu e o papai estamos, porque a casa sem você é bem sem graça, segundo ele.

— Sei... e bom, tanto faz receber alta ou não, de qualquer forma, sei que ainda essa semana estarei aqui novamente.

— Pense pelo lado bom...

— Gwen, não existe lado bom — a interrompi.

Minha irmã bufou e respirou fundo.

— Por que você é tão ingrato?

— Eu tenho câncer, se ainda não percebeu. Isso não é ser ingrato, e sim realista — falei irritado.

— Não estou falando disso, estou dizendo que o papai faz de tudo por você, e ainda sim, você fica se fazendo de coitado. Não sei se você sabe, mas isso é insuportável. Estou tentando te fazer mudar de ideia em relação a esse câncer que você tem, mas parece que você não quer sair dessa sua bolha, porque já se acostumou a viver no fundo do poço.

— Gwen — chamei.

— Não, agora você vai me escutar. Eu estou cansada, Finney, parece que nem você e nem o papai me enxergam. Acho que ele esqueceu completamente de mim e só foca em você!

— Isso não é verdade.

— É sim! você diz isso porque é o filho amado e que tem de tudo, todo o dinheiro que o papai ganha, é direcionado a conta que ele tem do hospital. Porque você vive aqui — gritou.

— Como se eu tivesse escolha! — gritei de volta.

— Eu sei que você não tem, mas eu também sou filha dele, porém ele só enxerga você. Ontem nós íamos para o cinema juntos, mas você passou mal e ele teve que ficar com você, e eu? eu fui pra casa, chorar de novo porque meu próprio pai sempre esquece de mim, mas quando se trata de você, ele vai correndo.

— Tenho certeza que ele faria o mesmo por você...

— Mas não faz! só por que você tem câncer, não significa que seja mais importante do que eu — ela gritou.

— Você está sendo uma fudida egoísta, Gwendolyn Blake!

— Egoísta é você.

— Sai do meu quarto. Vai embora!

Ela me olhou com raiva e saiu do quarto batendo a porta com força. Respirei fundo e passei a mão pelos meus cachos, que estavam quase na orelha.

Que raiva.

[...]

Saí do hospital andando, olhando em volta. Eu já estava um pouco ofegante porque não aguentava ficar tanto tempo em pé, então sentei num banco ali em frente. Liguei meu celular e chamei um Uber.

Meu pai não poderia vir me buscar, e Bruce estava cuidando de coisas da escola, então não poderia vir também. Eu também não queria que eles parassem oque estavam fazendo para virem me ajudar em algo que posso fazer sozinho.

𝐀𝐋𝐄𝐌 𝐃𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒  ━━ 𝒓𝒊𝒏𝒏𝒆𝒚. Onde histórias criam vida. Descubra agora