4.

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Entrei em casa ouvindo vozes altas, me deparando com Gwen e papai discutindo. Parecia sério, porém eles nem perceberam minha presença.

— Olha, filha, você não está entendendo a gravidade da situação... — meu pai diz, já estressado.

— Claro que estou, pai. Tudo que eu te peço é um pouco de atenção, literalmente cinco porcento da atenção que você dá ao Finney — ele suspira — estou cansada de ser excluída.

— Você não é excluída, o Finney precisa de um tratamento especial porque...

— Porque ele tem câncer. Eu sei, é sempre a mesma desculpa, não é, papai? por que não diz logo que me ama menos que ele? — ela o interrompeu.

— Gwen! pare com isso, a culpa não é de ninguém que Finney tem câncer, eu só estou te pedindo para ser compreensiva! é só isso que eu te peço meu amor — falou.

— Bla bla bla, é sempre a mesma história! sabe, eu cansei, de verdade. Finney não merece um tratamento especial só porque é doente.

— Gwen, eu sou o pai dele...

— VOCÊ É MEU PAI TAMBÉM, SABIA? — gritou, percebi seus olhos marejarem mas ela não abaixou a cabeça por isso — se a mamãe estivesse aqui, nada disso teria acontecido. A culpa é toda sua.

— Gwennie.

— Ela foi embora por sua causa. Você é o causador de todos os nossos problemas...

— Já chega! — gritou — vá para o seu quarto, e não saia de lá até que eu mande.

Gwen não debateu, apenas subiu as escadas e foi em direção ao seu quarto. Fiz barulho na porta e finalmente entrei na sala.

— Oi, filhote — meu pai bufou — como se sente?

— Bem, pai.

— Que bom. Você está aí a muito tempo? — perguntou. Apenas neguei com a cabeça — bom, preciso fazer o jantar.

Sorri sem mostrar os dentes e subi as escadas, indo para o meu quarto. Assim que entrei, tirei os sapatos, ficando apenas com minhas meias verdes.

Eu não sabia que a Gwen se sentia dessa forma, e eu nunca havia reparado que ela era excluída. Eu entendo a atenção que o papai me proporciona, mas ela também merece, porque também é filha dele. Câncer não é uma justificativa para isto.

Suspirei, me jogando na cama e pegando meu celular. Quando um número desconhecido começou a ligar. Atendi.

— Alô? — falei.

— Por acaso estou falando com Finney Blake? — o sotaque mexicano do outro lado da linha me fez revirar os olhos.

— Idiota. Como conseguiu meu número?

— Tenho meus meios. Mas e aí, quer fazer alguma coisa?

— Não estou afim, obrigado. Preciso ir.

— Calma, calma, hombre — falou ele naquele sotaque insuportavelmente atraente — quer sair pra comer? ou sei lá, assistir um filme? eu vi que tem um bem legal no catálogo e...

— Tchau, Arellano — desliguei a ligação, rindo.

Joguei o celular na cama, e olhei para o teto

— Que cara atirado — suspirei — talvez ele pense que eu ficaria com um cara como ele... Deus me livre e guarde.

Peguei um livro que estava na cômoda ao lado da cama, se chamava "vermelho, branco e sangue azul". Eu já havia lido ele diversas vezes, e nunca me cansava.

Não que eu queira viver um romance como o deles, até porque, era meio impossível, na minha situação. Passei meus olhos pelos primeiros parágrafos, e logo minha cabeça começou a latejar.

Parece que a ressaca literária ainda não havia passado.

Deixei o livro de lado e liguei para Bruce, não gostava de quando eu ficava muito tempo sem conversar com ele.

— Alô, Bruce? — falei, assim que ele atendeu.

— Oi, Finni. Tudo bem?

— Tudo sim, ahn... você não quer vir jantar aqui em casa? — o convidei.

— Eu adoraria, mas eu tenho um date hoje — meu sorriso logo apareceu.

— Sério? com quem?

— Já já você vai descobrir, agora preciso desligar, lindão.

— Tudo bem, beijos.

Desliguei a chamada e me cobri até a cabeça, pensando no como minha vida era entediante e chata, pela milésima vez no dia.

[...]

— O que é o jantar? — perguntei enquanto sentava na mesa.

— Surpresa — meu pai disse sorrindo largo — vá chamar sua irmã.

Suspirei e fui até o andar de cima, batendo na porta rosa claro que tinha algumas figurinhas de desenhos animados.

— Gwen? — chamei — o papai está chamando para o jantar.

Ouvi passos, e logo ela abriu a porta.

— Não estou com fome — sorriu falsa e virou de costas, mas puxei ela pelo braço.

— Gwen, eu ouvi sua discussão com o papai — suspirei e ela desviou o olhar — olha, eu não sabia que você se sentia dessa forma, e você tem todo o meu apoio. Só quero te dizer que eu não escolhi estar doente, e que eu nunca pensei que isso fosse afetar tanto você dessa forma. Eu sou seu irmão, e só quero seu bem.

— Desculpa Finney, eu fiquei com muita raiva e...

— Não precisa se desculpar, eu quem preciso por ter te chamado de egoísta, quando na verdade o único egoísta era eu. Me desculpe, irmãzinha — apertei suas bochechas e ela fez uma careta.

— Também não precisa dessa melação toda — ela riu.

— Pelo menos tirei um sorriso seu. Vamos jantar? — perguntei passando meu braço em volta de seus ombros.

— Só se for agora — ela riu.

Descemos a escadas e nesse jantar em específico, eu coloquei a comida no prato da Gwen, somente para fazer um agrado. Fazer isso sendo irmão dela, é um passo enorme.

Após o jantar, eu tomei um banho e coloquei uma roupa leve. Desliguei as luzes do quarto e me enrolei no cobertor, esperando o sono vir.

Ouvi um barulho estranho na varanda, levantei colocando meus pés no piso frio, sentindo meu corpo se arrepiar por inteiro. Fiz uma careta assim que vi que Robin estava na minha varanda.

𝐀𝐋𝐄𝐌 𝐃𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒  ━━ 𝒓𝒊𝒏𝒏𝒆𝒚. Onde histórias criam vida. Descubra agora