Agosto de 2013— CADÊ O MEU VESTIDO, DINAH JANE! — A voz de Normani rasga o silêncio do quarto. Dinah, aparentemente, usou o vestido da Normani no evento passado que fomos convidadas.
— Você tem uma porrada de vestido! Vai cair a bunda me empresta um? — Dinah rebate do outro lado da sala, segurando uma pá de vassoura.
— Você alarga os quadris das roupas! Você não percebeu ainda que minha bunda não é um terço do tamanho da sua? — Disse Normani.
Eu estava deitada no sofá comendo um pote de sorvete, quanto mirava a cena icônica da Normani de braços cruzados e a Dinah com uma pá de lixo na mão. Ela realmente acredita que isso vai defendê-la?
Ao meu lado estava Ally Brooke lendo um livro grosso, semelhante a escrituras de uma bíblia, enquanto usava um óculos de descanso e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Todas nós estávamos mais largadas que mendigos de rua.
— Você deveria comer algo mais saudável, Camila. — Ally se pronuncia. Sua atenção estava focada apenas na leitura, mas parecia que me encarava pelo canto dos olhos. Parei a centímetros a colher dos meus lábios.
— Eu não como isso sempre. — Tento acionar uma defesa.
— Só quando está ansiosa ou triste. — Rebate Ally. Solto um som de confirmação e Ally vira sua atenção pra mim. — Ou seja: quase sempre.
Touche. Ally conseguia me corrigir usando palavras atenciosas e uma expressão tão carinhosa que mal via qualquer indício de maldade ou de repreensão negativa vindo dela. Ela não me olhava mais, sua atenção voltou a ser o livro, mas meu estômago embrulhou depois do que ela disse e o gosto do chocolate estava ficando amargo.
Coloquei o pote de lado e levantei para colocá-lo no freezer, onde eu sabia que em um dia só teria a lata. Normani e Dinah estavam no quarto ensaiando coreografias. Acho que a discussão teve um fim diplomático mais sofisticado. Quando fecho a porta vejo uma foto nossa segurada por um pequeno ímã de banana. Foi dias depois da nossa apresentação no THE FACTOR USA, quando estávamos ensaiando para o Simon publicar nossa primeira música. Aquele dia minhas pernas não paravam de tremer e eu tive que me segurar na Lauren para não cair no chão. Sem contar as idas e vindas no banheiro de tanto nervosismo. Nesse dia, a criança dentro de mim gritava de felicidade por realizar meu sonho, mas ainda mais por poder dar tudo que a minha família merece. Isso não tem preço.
— Você caiu em devaneio de novo? — Era embriagante ouvir a voz da Lauren. Era como se a melodia fosse feita especificamente para meus ouvidos ouvirem. Olho de canto para ela e ela encosta na geladeira. Seus olhos estavam mais vibrante do que quando saiu de manhã.
— Estava a onde? — Perguntei.
— Simon me chamou para conversa. — Sua expressão se tornou mais melancólica. Seu olhar mais exausta. Acho que sei o motivo da conversa.
Me aproximo dela. Encostando da mesma forma na geladeira a olhando de frente. Ela me lançou um leve sorriso.
— O mesmo motivo? — Ela assenti. Mordo o lábio. — Isso está começando a me incomodar.
— Não é nada de mais, Camz — Eu odeio quando me chama por esse apelido. Meu corpo enrijece e anestesia qualquer sentimento que eu sinta. — Eu não me importo.
Bufo, virando o corpo para frente e encostando a cabeça na parte metálica da geladeira. Sinto meu corpo pesar e a mente ficar distorcida. Como se eu tivesse tendo um colapso tanto físico como mental. Sinto Lauren encostar a cabeça na dobra do meu pescoço. Ficamos paradas por um tempo ali. Os momentos em que eu queria que o mundo para-se só um pouco para mim.
Dinah pigarreio fazendo com que eu e Lauren foca-se a atenção nela.
— Será que eu estou atrapalhando o casalzinho? — Ela debocha com um sorriso reluzente no rosto.
— Sim. — Eu a Lauren respondemos juntas.
— Independente. Temos uma apresentação que esta se aproximando e precisamos das duas focadíssimas na coreografia para sair perfeito.
— Justamente no domingo? — Pergunto.
— Justamente no domingo. — Responde Dinah passando com a mesma pá que a vi se defender momentos antes, agora quebrada. Me leva acreditar que alguém levou uma pazada na cabeça e eu não notei. Normani estava intacta com aquele top e leg que enalteciam seu corpo moreno. Lauren empurra o corpo na direção de Normani a abraçando. Uma tática sutil de fazer seu inimigo ter empatia. Algumas vezes funciona.
— Não vem que não tem. — Normani afasta de leve o rosto de Lauren. — Coloca a roupa que estamos esperando.
Eu disse que as vezes funcionava. Ally passou com um extensor, vestida da mesma forma que Normani e Dinah. Eu não iria contrariar. Mesmo que a nossa musica tenha sido um sucesso e tem trazido nosso reconhecimento no mundo da indústria, ainda sim, não me tira a exaustão de tentar deixar tudo perfeito. Tudo precisava sair conforme o esperado, conforme o que o Simon esperava.
Recebo uma mensagem. Falando no diabo. Simon tinha mandado uma mensagem sobre as apresentações que iriamos fazer naquele ano. Ele tinha mandando para todas nos no grupo, mas uma mensagem foi em particular.
Como o combinado, Camila.
Estremecia só de ler aquela mensagem. Meu sistema colocava uma sobrecarga gigante nas minhas costas, era um peso que eu não queria carregar e que me sentia injustiçada por ser a única a senti-lo. Não necessariamente a única. Eu sabia que eu não era a única a sentir aquela carga, sabia que mais alguém tinha recebido a mesma mensagem. Era um fardo que compartilhávamos só por termos o mínimo de contato, o mínimo de afinidade.
— Camz? — Lauren me chama.
— Estou indo me trocar. — Subo as escadas. Não tinha a intenção de ser grossa, mas qualquer coisa que ativa-se meu estresse fazia com que eu toma-se atitudes emocionais, das quais me arrependia quando me acalmava. Aquilo não era justo. Mas parecia que era só a ponta do iceberg.
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Talvez, em outra vida
Fanfiction- Acha que um dia, poderíamos dizer o que sentimos em voz alta? - Lauren me questiona, enquanto seus olhos esmeralda olhavam a plateia ao longe. Ouvíamos o som de suas vozes rasgarem em comemoração, gritando nossos nomes ainda que não ultrapassasse...