Capítulo 5

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Cinco anos depois

   Noah chuta a bola, que bate no sofá e rebate no painel da TV. Meu coração deixa de bater por um milissegundos quando percebo o que vai acontecer. A TV balança bruscamente,então despenca no chão, estilhaçando a tela.
   Eu tinha ido procurar um técnico para apertar os parafusos da TV, pois a placa estava frouxa e com qualquer movimento ela balança, e agora com a força do chute do meu filho de cinco anos, ela despencou de vez.
— Noah Anthony Cooper. — Digo cada palavra pausadamente. Odeio brigar com ele, mas Noah sabe que não deveria jogar bola dentro do apartamento.
— Desculpa, mamãe! Desculpa, mamãe!
   Respiro fundo para não surtar. 1,2,3...28,29,30. Não vale apena perder a confiança de Noah brigando com ele de forma bruta, tenho que ter calma e fazer da melhor forma possível.
— Filho?
— Oi, mamãe. — Ele diz com a voz imensa em culpa.
— Lembra quando a mamãe falou que você não poderia brincar de bola dentro de casa porque poderia quebrar algo?
   O lábio inferior de Noah curva para baixo quando sua expressão se torna chorosa.
— Eu lembro, mamãe.
— Então — Me agacho, querendo ficar a sua altura. —, era disso que a mamãe estava falando. Você quebrou a TV e já sabe o que vai acontecer, não sabe?
— Sem Bob Esponja.
— E também...
— Vou ajudar a pagar o concerto com o dinheiro do meu cofrinho.
— Por que?
— Porque fui eu quem quebrei então é minha responbilidadade.
   É impossível não rir quando ele erra uma palavra. Noah é muito esperto e aprende rápido, mas tem dificuldade em aprender palavra muito grandes.
— Isso mesmo, agora se senta no sofá enquanto eu dou um jeito nessa bagunça.
    Ser mãe solteira é um desafio onde todos dias tenho uma prova diferente. Ontem foi Noah sujando o banheiro de talco, porque ele acidentalmente afrouxou a tampa e fez a maior bagunça, hoje a minha TV foi a vítima.
    Depois de verificar se não tinha mais vidros no chão e aspirar duas vezes o tapete. Me dei por vencido e cai no sofá, cansada do meu dia. Quando decidi abrir minha própria empresa não contava com a surpresa "Noah". Se tornou uma atividade árdua trabalhar e ainda evitar que meu filho arranque as cortinas da parede enquanto tenta imitar o homem aranha.
    Meu celular toca, e a foto e o nome de meu pai aparecem na tela.
— Oi, pai.
— Oi,filha. Como está o meu garoto?
— Abençoado, eu diria. — Mas agora está pintando com giz de cera desenhos do Bob Esponja que imprimi mais cedo.
— Estou ligando para confirmar a sua presença no jantar de noivado. É muito importante para mim que você e Noah estejam aqui.
  Viajar demanda tempo, dinheiro e psicólogo para se preparar para eventuais possibilidades, porque quando se é mãe você tem que estar preparada para tudo. E ainda tem o meu trabalho. Como sou minha única funcionária, se eu não trabalhar eu não ganho, e tem toda uma logística para meus planos futuros.
  Mas, é do casamento do meu pai. Ele passou tanto tempo sozinho depois da morte da minha mãe e agora reencontrou o amor. Posso fazer isso por ele, porque quero que ele seja feliz.
— Pois está mais do que confirmado, eu já estou fazendo as malas.
— Ah, que boa notícia. Meredith vai ficar muito feliz em saber, ela está louca para te conhecer.
— E eu a ela, vai ser bom deixar Noah em suas mãos enquanto eu tiro um longo sono.
— Ele está te dando trabalho?
— Noah é neto de Thomas Cooper, é claro que está me dando trabalho.
   Meu pai gargalha do outro lado da linha.
— Vou ficar esperando por vocês. Não vejo a hora de reencontrar o meu neto.
— Ah, é so dele que está com saudades?
— Você sabe que não. Tenho que ir, está uma loucura aqui. Mande um beijo para Noah.
— Vou mandar. Te amo,pai.
— Eu te amo mais.

{•••}

   Meredith Evergarden é herdeira da família Evergarden. Alguns dizem que eles tem poder devido a mineração de diamantes, outros que eles trabalham com petróleo, mas ninguém sabe ao certo de onde vem a fortuna dessa família poderosa?
   Como meu pai, um ex militar americano, conseguiu conquistar Meredith? Bem, eles se encontram em um incidente de pesca, que gerou uma discussão feroz, mas de alguma forma, mesmo com o jeito certinho e engomado de meu pai, ele conseguiu levar a garota.
   Quando contei a Noah que iríamos viajar ele simplesmente enlouqueceu. Passou dois dias agarrado com a bolsa da escola enquanto me perguntava se estava perto de irmos.
   Só piorou quando entramos no avião com o destino a Aspen. Ele ficou se soltando do cinto, querendo andar pela cabine.
   Todos sabemos como crianças causam o terror em aviões, mas depois que ele soube que tinha Bob Esponja na tela acoplada a poltrona da frente, ele se sossegou e passou o restante da viagem assistindo a sua série.
   Aspen é o outro mundo, um mundo que não me cabe. Até onde eu sei a festa de noivado será em Aspen mas a cerimônia na Itália.
   Ah, essa gente rica e suas viagens particular.
— Polo Norte, mamãe?
— Não, Noah, não estamos no Polo Norte.
— Então porque neve?
— Porque aqui é... — Como explicar para uma criança de cinco anos sobre as zonas de calor e frio pelo mundo? Ou que o planeta é dividido em zonas? — Aqui é a cidade da neve. Sempre tem neve.
— Sempre?
— Humrum, podemos fazer um boneco mais tarde.
   Se meu pai soltar Noah. Já consigo ver ele arrastando o menino com ele para todos os lugares.
— Boneco nariz de cenoura!
— É, meu bem, boneco nariz de cenoura.
   O taxista percorreu pelas ruas até a casa, ou melhor, mansão de inverno de Meredith. Meu pai se ele fora um homem simples, como ele está vivendo em um lugar tão sofisticado?
   Meu pai já estava nos esperando, então quando o táxi estacionou em frente a casa de pedras rústicas e madeira de carvalho, vidros em todas as janelas e algumas paredes do segundo andar.
   Abri a porta para que Noah pudesse correr direção ao avô. O pequeno correu com um casaco duas vezes maior que ele na cor azul — um casaco meu, inclusive — até o avô.
   Meu pai pegou o menino no colo e eu sei que ele apertou demais Noah em seu abraço. Saio do taxi, para ir falar com o meu pai.
— Ai, vovô. Não respirei.
— Apertei você demais, pequeno marinheiro?
— Apertou!
— Tá espremendo meu menino, pai?
   Meu pai deixa Noah no chão para me dar um abraço. O abraço de meu pai tem cheiro de lar e é tão confortável que sinto o cansaço da viagem aliviando.
— Oi, filha. Está com saudades.
  

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