— Você era muito próximo dela?
— Sim
— O que aconteceu?
Depois dessa pergunta breve de Kalli. Houve uma longa pausa, tão longa que deixou Kalli desconfortável. Apenas o suave tic-tac de um relógio antigo e impecável ecoava pelo quarto. Kalli agitava ansiosamente os dedos, aguardando uma resposta de Davy. Mas por fim ele disse:
— Ela suicidou-se. — Disse ele breve em baixo tom, com seu olhar abaixado para janela. Kalli soltou um suspiro trêmulo, tentando controlar suas emoções. — Deve ter doído terrivelmente. — Disse ela com delicadeza, mantendo uma certa distância de Davy para evitar o desconforto entre ambos. — Eu sinto muito.
Ele não disse nada. Seu rosto se fechou novamente e ele parecia estar olhando alguma coisa distante, algo doloroso que só ele podia enxergar, como um fardo invisível que o consumia por dentro. Através dos muros que Davy colocava, ela podia ver o olhar torturado de culpa e solidão. Um olhar tão confuso e atordoado que ela foi em passos lentos quase cambaleando ao lado dele antes que se desse conta de algo. — Davy. — Disse ela em uma voz calma, não em um tom baixo, mas em um tom que o reconfortava. Ela não pôde deixar de colocar a mão em seu braço. Ele olhou para a mão dela, como se acabasse de nota-lá ali, como se tivesse raiva em si por Kalli ter derrubado as barreiras e ter tocado nele. Seus olhos azuis como um oceano sereno, que refletia a calma e a profundidade de sua alma.. dessa vez estavam dilatados e escuros enquanto ele se livrava da mão de Kalli, atirando a mão dela com força, que poderia se escutar o estalo, afim de impedi-la de toca-lo novamente... e de algum modo, em vez disso, ele segurou a mão gelada e macia de Kalli, entrelaçando seus dedos com força, segurando-a com ansiedade e afeto. Ele olhou para as mãos entrelaçadas, confuso. Depois com lentidão, seu olhar sincero passou dos dedos para os olhos azuis escuros de Kalli. — Kalli... — Falou ele com a voz quase falhando. E então ela testemunhou a aflição dilacerando o olhar dele, como se ele simplesmente não conseguisse mais resistir. A rendição enquanto as barreiras finalmente desmoronavam e ela vislumbrava o que havia além delas. E então, desamparado, ele curvou a cabeça em direção aos lábios de Kalli.— Espere! pare aqui. — Disse Biah. — Acho que vi alguma coisa.
O Ford amassado de Doniy reduziu, indo para a lateral da estrada, onde se erguiam amoreiras e arbustos densos. Algo branco reluziu ali, aproximando-se deles.
— Ai Meu Deus. — Disse Merlin. — É a Karol.
A menina cambaleou para os faróis e ficou ali, oscilando, enquanto Merlin pisava nos freios. O cabelo castanho-claro estava embaraçado, e os olhos vítreos numa cara suja de terra olhavam para frente. Ela só usava sua parte de cima do biquíni preto e um shorts jeans que deixava sua pele despida. — Traga ela para o carro. — Disse Merlin. Biah já estava abrindo a porta. Pulou para fora e correu até a menina perplexa. — Karol, você está bem? O que aconteceu com você? você tá acabada garota. — disse Biah em um tom sarcástico, porém sem conseguir esconder sua inquietação e preocupação. Karol gemeu, ainda olhando para frente. Depois pareceu perceber a companhia de Biah, que assustada agarrou na ruiva e cravou suas unhas nela.
— Vamos embora daqui. — Disse ela, desesperada e assustada, a voz estranha e espessa, como se ela tivesse alguma coisa na boca. — Todos vocês... saiam já daqui!! aquela coisa está vindo.
— O que está vindo? Karol, onde está Kalli?
Sem resposta de Karol. Biah olhou a estrada e levou a menina para dentro do carro. — Você precisa dizer o que aconteceu. Meu Deus você está congelando de frio. — Disse Biah após pegar seu casaco de tricô roxo e cobri-la.
— Ela foi ferida. — Disse Merlin em tom grave. — E está em choque ou algo assim. Enfim, onde estão os outros? você estava com Kalli? — Karol começou a chorar, colocando as mãos no rosto enquanto Biah desembaraçava seus cabelos com um pente que tinha na bolsa da ruiva. — Não... Dick.. Estávamos perto da entrada do cemitério — Parecia doloroso ao falar. — Foi horrível.. Aquela coisa apareceu.. com barulhos agonizantes cercando tudo.. Os olhos dele me queimavam..
— Ela está delirando. — Disse Biah.
— Karol, onde está Kalli? o que aconteceu com ela? — Perguntou Merlin com clareza.
— Eu não sei.. — Disse Karol soluçando. — Eu e meu namorado estávamos sozinhos. Sozinhos.. cercado pela aquela coisa.. Foi horrível. — Na luz fraca do carro as duas conseguiram ver os arranhões fundos e recentes que desciam pelo pescoço de Karol.
— Precisamos achar Kalli. — Disse Biah.
— Eu estou preocupada com Kalli, igual a você, Biah, mas temos que voltar para levar Karol. — Respondeu Merlin pisando no volante sem hesitar.
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𝒜𝓅ℴ𝒸𝒶𝓁𝒾𝓅𝓈ℯ ♰ 𝓐𝓷𝓬𝓮𝓼𝓽𝓻𝓪𝓵
SpiritualUma cidade do interior chamada Blackwood convive com humanos e vampiros em segredo. Um certo dia um homem misterioso fez experimentos com o mundo espiritual que acabou abrindo um portal para o mundo humano. Com a abertura do portal, humanos e vampir...