A luz do poste no outro lado da rua, embora vencida, ainda consegue entrar fraca pelas frestas da janela que a cortina de Louis não conseguiu vedar. Essa sempre foi uma questão que o irritava profundamente, em um nível que beirava o irracional, exceto agora.
Agora, essa mesma luz, fraca e pálida, se estica no lânguido e comprido corpo malcoberto em sua pequena cama de solteiro. Ele resiste ao ímpeto de acender um cigarro e abalar a paz de espiríto que habita no ambiente. Ao invés disso, ele evita se mexer, os olhos azuis caminhando lentamente dos pés descobertos até os cachos desgrenhados e a vontade de rir coça em sua garganta, mas ele não o faz.
A mehor parte é que todo o ensejo que culminou naquele momento, todos os meses anteriores, desde o primeiro encontro (completamente não intencional), a angústia do sentir e a completa inabilidade em se abrir e se entregar completamente para outro ser humano, faz daquele um momento inerentemente cômico.
Afinal de contas, não é todo dia que um rival — e provavelmente o seu cara, mesmo Louis tendo sido ensinado que sentimentos são um meio pelo qual as massas são manipuladas e o amor é o mais idiota deles — aparece na sua porta, colocando a própria vida em risco apenas porque você talvez, e somente talvez porque longe de Louis Tomlinson fazer algo minimamente próximo de dizer que, bom, que estava com saudade.
O segredo deles é ridículo, é sujo, é indecoroso e, já que ele está sendo honesto em sua própria linha de raciocínio e apenas porque essa teia de pensamentos está segura e bem guardada dentro de sua cabeça, beira a falta de ética e de camaradagem, mesmo que um par de anos atrás ele tenha jurado defender os seus independente do que aquilo custasse. Mas não é como se o maior oferecesse um grande perigo ou algo do tipo.
Muito tempo atrás, quando Louis era apenas um moleque com a mochila do governo no ponto de ônibus, ele havia compreendido que pessoas como eles não eram nada além de uma pequena pecinha no mecanismo da coisa toda. No quadro geral do crime, ele era apenas um peão obediente, pronto para declarar que dois e dois são cinco se assim os chefes desejarem — ele mesmo consegue pensar até em uma equação para provar aquela máxima, apesar de nunca ter sequer concluído o colegial.
A verdade é uma só, não importa de qual lado você esteja: todos eles vão morrer antes mesmo de vislubrarem o poder no topo da cadeia alimentar e nada é mais fajuto nessa área que as leis. Tudo é uma grande ilusão.
E é por isso, e apenas por isso, que Louis admite, mesmo que apenas naquele segundo e dentro da segurança de sua cabeça, que ele está sem pudor algum, irracionalmente, inevitavelmente muito apaixonado por Harry Styles.
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efêmeros | l.s. shortfic
FanficEm um bairro periférico e violento, esquecido por qualquer piedade do Estado ou mesmo de forças divinas, o único caminho viável para adolescentes é encontrar a sua função na facção e ser útil para a sua comunidade antes de levar um tiro ou perder o...