Capítulo 3

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Segunda-feira.

Como era possível eu amar e odiar esse dia ao mesmo tempo?

MOTIVOS PARA ODIAR SEGUNDA-FEIRA

Motivo 1: três tempos de Química II com o professor Houston, que sempre tinha comida grudada no bigode e cheiro de gente morta.

Motivo 2: dia de carne moída no cardápio.

Obs: rolava um boato antigo de que a carne moída era produzida com os restos mortais dos defuntos que foram enterrados no cemitério perto da escola.

Motivo 3: ter que acordar cedo depois de haver ido dormir muito tarde no domingo.

Motivo 4 (e pior de todos): ter que aguentar Marília Mendonça em todos os meus tempos de aula e ter a noção de que iria aguentá-la durante os quatro dias seguidos em todos os tempos de aula também.

Como aquela maldita conseguiu se inserir em cada segundo das minhas aulas?

Agora vamos a parte boa!

MOTIVO PARA AMAR SEGUNDA-FEIRA

Motivo único: Danilo gentili.

Fazia algum tempo que eu tinha uma quedinha pelo Danilo. Quedinha essa que poderia facilmente ser classificada como amor arrebatador, mas eu preferia chamar de quedinha para não parecer muito intenso e exagerado.

- Tenha um bom dia, filha! –Meu pai falou, assim que parou o carro em frente ao colégio – Tente não ir para detenção por brigar com a Marília. Eu espero que você vá para a faculdade um dia e se isso continuar acontecendo, nenhuma faculdade vai te aceitar. Eles não querem uma futriqueira tocando o terror na faculdade deles.

- Se ela não me infernizar, não brigarei com ela, papa. –Beijei seu rosto – Te amo! – Declarei, já saindo do carro para logo em seguida correr para dentro do edifício da Broomfield High School.

Detalhe, correr de mochila não é nada sexy.

Todos os dias eu pegava carona com o meu pai para chegar mais cedo ao colégio porque o armário do Danilo ficava ao lado do meu e eu gostava de fazer hora lá até o gostoso chegar e me dar o meu "bom dia, Isa" diário.

Enquanto eu corria pelo corredor vazio, pude ver ao longe as estruturas de metal e meu sangue começou a ferver.

Não era só eu que chegava mais cedo todos os dias, a maldita da Mendonça também chegava, e para o meu azar, também gostava de ficar fazendo hora em frente ao armário, que também ficava ao lado do meu.

Era como estar entre o céu e o inferno todos os dias.

Parei de correr e andei devagar disposta a ignorar Marília, como eu fazia todos os dias.

Por que ela se vestia como uma cantora de rock, quando eu sabia que ela só gostava de ouvir a depressiva e dramática da Lana del Rey? Ela tinha que ficar com aquela pose de John Bender? Ela estava em pé, com os ombros encostados no armário, os braços abaixo dos seios (ela não estava de sutiã e só reparei porque chamava atenção) e com aqueles coturnos imundos entrelaçados na frente do corpo. Só faltava o cigarro na boca. Maldita! E aqueles cabelos? Ela não penteava? Sem contar a regata cinza cheia de buracos e a calça escura, toda rasgada.

Parecia uma vândala.

A maldita me viu e teve a coragem de sorrir para mim larga e presunçosamente.

- Bom dia, Mara! –Eu odiava quando ela me chamava assim. Mara. Que espécie de apelido ridículo era aquele? Aliás, quem havia dado permissão para ela colocar um apelido em mim?

Eu a ignorei, abri meu armário e isso fez com que dezenas de papéis caíssem aos meus pés. Olhei para baixo e reparei nas dezenas de fotos espalhadas no chão. Em todas elas eu estava levando o lixo para fora de casa.

You Hate Me While I Love You- MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora