Capítulo Vinte e Um - •°Você sempre esteve lá°•

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•°palavras°•1081

"Eu preciso pensar"

Depois de um tempo, os professores que não estavam em sala de aula me encontraram e me levaram para a diretoria.

Eu fui mantida lá até que a professora que eu havia discutido chegasse. Logo eu fui obrigada a reviver o momento em que recebi a notícia da minha expulsão.

Eu saí de lá pisando forte, e fui até uma sala que costumava estar sempre vazia, o laboratório.

Chegando lá eu me sentei no chão encostada em um balcão perto da parede enquanto abraçava minhas pernas e abaixava a cabeça.

Qualquer um que passasse ali não me veria, exceto alguém que se sentou ao meu lado.

" -Sai, não tô afim de conversar Hikari" -Eu respondi melancólica e mais uma vez sendo grossa com a minha irmã, sério isso?!

" -Foi quase, quer tentar de novo?" -Ouvi uma voz famíliar, apesar de que ela está meio diferente, provavelmente por conta da idade.

" -Tsukasa..." -Eu pareci me mobilizar muito com a presença dele, não sabia que éramos tão próximos, na verdade nem sabia que eu conhecia ele.

Ele abriu seus braços e me envolveu em um abraço reconfortante, fazendo com que eu parasse de abraçar minhas pernas e retribuisse a tentativa dele de me confortar.

" -Acho que aquele negócio que tinha pra te contar pode esperar outra hora... " -Ele disse me fazendo ficar confusa, ele me esconde coisa até aqui?! " -Me conta, oque aconteceu?"

" -Eu fui expulsa..." -Eu disse chorosa

" -É, não é tão surpreendente assim quando se tem a sua personalidade"

" -Sério isso?" -Eu perguntei indignada

" -Foi só pra descontrair, foi mal" -Ele riu fraco " -Mais esse foi um péssimo momento sabia?"

" -Sei que a expulsão não é uma coisa boa, mas, porque?" -Eu perguntei, provavelmente tentando me agarrar a qualquer coisa que me distraísse dos meus problemas.

" -Eu ia te dizer que gosto de você, mais parece que demorei demais..." -Ele sorriu fraco, mais ainda sim, de um jeito melancólico.

" -Sério?" -Eu perguntei e ele balançou a cabeça em afirmação.

Como assim? E porque raios eu não me lembro de uma coisa dessas?!

" -Perdão Tsukasa... Eu..." -Eu me segurava com mais força nele a cada palavra que eu dizia.

Eu ainda não consegui digerir tudo isso.

" -Não precisa dizer nada, só queria que soubesse..." -Ele deu uma pausa mas logo retomou a sua fala " -Com as lutas cada vez mais frequentes e as aparições na TV, não sei se vamos conseguir manter muito contato..."

Ao ouvir essas palavras eu me separei dele de forma brusca.

" -Você vai mesmo se mudar?" -Disse finalmente olhando nos olhos dele.

Desse ângulo agora eu pude observa-lo com mais calma. Ele estava diferente, parecia mais novo e sem aquelas rachaduras no rosto, mais os olhos dele não mudaram em nada.

Desde a época em que estudávamos juntos, até 3.700 anos depois, os olhos dele sempre mantinham aquela expressão que independentemente de quantas palavras eu tentasse usar para descreve-lo eu ainda não conseguiria.

Gentil, calmo, me remete a paz e me trás uma sensação de tristeza ao mesmo tempo, não sei explicar.

" -Não é nada confirmado ainda, mas muito provavelmente" -Ele disse.

" -Não quero que a gente se separe" -Eu estava começando a lacrimejar.

" -Mesmo que você não fosse expulsa, isso ainda aconteceria" -Ele passou a mão nos meus olhos enxugando as minhas lágrimas.

" -E..." -Quando ele estava prestes a retirar sua mão eu a segurei firmemente perto do meu rosto " -Sobre você gostar de mim..."

" -Já sei que você não sente o mesmo" -Ele falou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa " -Você ainda espera por ele, mesmo não tendo me dito eu sei disso"

Ele apontou para o meu colar que tinha um pingente de E=mc².

Nossa, eu tinha até esquecido desse colar, mais eu já não o tenho mais. Quando eu acordei, ou melhor, quando eu fui despetrificada, ele já não estava comigo, provavelmente se deteriorou com o passar desses milhares de anos.

" -Mais como sabe disso?" -Eu perguntei surpresa.

" -Você odeia ciências S/N, acha mesmo que eu não sei que o único motivo de você usar isso seria por alguém?" -Ele disse cheio de si.

" -Mas eu gosto de ciências!" -Da onde ele tirou uma coisa dessas?

" -Não, você não gosta, você só é boa, absurdamente boa" -Ele riu com sarcasmo " -E entre uma coisa e a outra tem muita diferença "

" -As vezes parece que você sabe mais de mim do que eu mesma" -Eu disse voltando a abraçar Tsukasa, este que retribuiu o ato.

" -Mas é a verdade" -Ele riu alegremente me fazendo rir junto a ele " -A gente pode continuar sendo somente amigos, mas caso sinta que ele não era bem o que esperava, eu vou sempre estar aqui pra você"

Eu ainda nem tinha entendido tudo o que aconteceu quando eu acordei. Eu me levantei devagar fui até a janela e ao olhar lá pra fora percebi que estava anoitecendo, eu realmente dormi bastante.

Mas também pude ver os meninos lá embaixo em volta de uma fogueira enquanto comiam a caça que Tsukasa provavelmente conseguiu hoje.

Não pensei duas vezes e fui lá pra baixo.

" -Não me chamaram pra jantar, sério?" -Perguntei com indignação.

" -Eu até ia mas o Senku não deixou" -Taiju disse e eu me sentei ao lado dele.

" -Achei que você ia dormir pelo resto da noite" -Senku respondeu simplista.

" -Como se eu dormisse tudo isso" -Eu peguei um dos espetos que estava no fogo e comecei a comer.

" -Poderia" -Ele me deu outra alfinetada.

Sinceramente, porque que ele se intromete tanto no meu sono?!

" -Vou fingir que você não disse isso" -Serrei os olhos e logo depois voltei a comer calmante.

Nesse momento olhei para Tsukasa. Se tinha alguma coisa pra lembrar eu com certeza tinha revivido hoje ao vivo e a cores, ou talvez tenha sido paranóia da minha cabeça, eu não iria arriscar.

Mas parecia tão real e... Ah! Que ódio! O que que eu faço agora?! Mesmo que fosse real como eu iria falar sobre isso com Tsukasa? Apesar de a memória terminar com nós dois sorrindo, com certeza não deve ser algo bom pra se conversar.

Eu terminei de comer enquanto Senku nos explicava como estava o andamento da reconstrução da humanidade, e fui até a casa na árvore, ou melhor, até aquele meu famoso galho que eu passava as minhas madrugadas.

Me sentei ali observando todos irem dormir enquanto sentia o vento passar pelo meu rosto e balançar meus cabelos.

"Eu preciso pensar"

DIVERGÊNCIAS: 𝔸𝚜 𝚍𝚞𝚊𝚜 𝚏𝚊𝚌𝚎𝚜 𝚍𝚊 𝚁𝚎𝚟𝚒𝚟𝚒𝚌𝚊𝚌̧𝚊̃𝚘 "Onde histórias criam vida. Descubra agora