Merecedor!

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POV AMAURY

Entro na minha casa quase cego, caminho direto para o banheiro, tirando minha roupa pelo caminho, e entro no chuveiro beirando ao desespero. Sou lavado pela água corrente e pelas lágrimas. Dói. Dói o preconceito. Dói a ameaça. Dói o medo. Dói a tristeza. Dói o sentimento de impotência. Dói saber que se for um cara branco não vai dar em nada. Dói saber que minha voz é calada. Dói saber que meu esforço é invalidado. Dói. Sangra. Machuca.

Não sei quanto tempo fiquei no chuveiro quando ouço o barulho de murro contra a madeira ressoando pela casa junto com os gritos.

— AMAURY!

Busco o som e o tom conhecido. Enrolo a toalha na cintura e ando pela casa até a porta de entrada, encontro ele com a pele corada e os cabelos bagunçados.

— O que... o que você está fazendo aqui?
— Eu não podia te deixar sozinho... eu não CONSEGUI te deixar sozinho - Ele sorri e abraça minha cintura. O rosto contra o meu peito volta a esquentar a pele. Sinto ele respirar fundo contra o meu peito e aperto um pouco mais nossos corpos em um abraço silencioso que discorria a mais bela poesia.
— Obrigado... - Sussurro baixo contra os cabelos dele e mesmo sem enxergar tenho a certeza que ele sorriu.

      Puxo ele para dentro sem separar nosso abraço e bato a porta em um baque estrondoso.

— Eu vi o que aconteceu... monstros. Estupidos. Covardes! - Ele se separa de mim e anda em círculos pela sala praguejando cada um dos haters. Não falo nada. Não tenho forças. Não tenho vontade. - Como podem dizer essas coisas? Você é tão talentoso. Tão maravilhoso. Tão incrível. Tão... - Ele me olha e morde o lábio - gostoso... mas isso não vem ao caso.

      Não consigo disfarçar o riso e balanço a cabeça em uma negação pela frase. Ele conseguia, do jeitinho dele, amenizar toda a dor que os ataques causaram.

— Eles são seres humanos pobres de espirito e alma. Não se contamine desejando algo ruim a eles. Você é um serzinho de luz, Di.
— Se eu pudesse eu queimaria cada um deles com minha luz, isso sim, Amaury. Malditos!

      Caminho até ele e o abraço novamente, ele se cala no mesmo instante e a única coisa que conseguimos ouvir é a nossa respiração.

— Obrigado por se importar.
— É claro que eu me importo, Amaury. Eu hein. Como não iria me importar? Ainda mais sendo algo tão injusto assim?
— Diego, eu só estou agradecendo.
— Eu sei, eu sei, mas não precisa agradecer. Eu só queria que você não precisasse passar por nada disso. Você não precisa passar por nada disso!
— Eu já passei por isso tantas vezes, Diego. Eu só... - Suspiro - Acho que não tenho mais forças para rebater. Não hoje. Talvez amanhã. Mas não hoje.
— Você não precisa, podemos só tomar um chazinho e ver um filme.
— Por mim está ótimo assim.
— Vai lá se trocar que eu preparo.
— E sua mãe?
— Ela queria vir junto, eu que não deixei, quando ela leu as mensagens no gossip do dia ficou enlouquecida.
— Que linda. Mas você vai deixa-la sozinha? Não precisa. Eu estou bem.
— Amaury, eu vou ficar, não discute. Vai se trocar que eu vou preparar o chá.

      Concordo com um aceno e um sorriso e caminho até o meu quarto. Coloco uma cueca e um short e retorno sem camisa e descalço para a cozinha. Diego esta na ponta do pé tentando alcançar a segunda xícara que está um pouco mais atrás. Sem pensar eu deposito minha mão na lombar dele e seguro a xícara que ele estava quase derrubando.

— Baixinho.
— As coisas que ficam muito altas aqui.

      Dou risada com a revirada de olhos dele e encho as duas xícaras com o chá de camomila com hortelã que ele havia feito. Me apoio na pia e ele senta exatamente na minha frente.

— Como você está? De verdade...
— Machucado. Doeu ler o que eu li. Doeu ter minha arte invalidada. Doeu sentir que isso não me pertencia depois de sentir tanta felicidade pelo reconhecimento. Doeu ler as palavras que usaram. Doeu me sentir um impostor na profissão que eu tanto amo.
  
      Diego deposita a xícara na pia e me encara segurando meu rosto com as duas mãos.

— JAMAIS! JAMAIS REPITA ISSO. Jamais, Amaury. Me promete. Jamais você vai falar que não pertence ao sucesso. Jamais você vai falar que não merece o reconhecimento. Você é um exímio artista. Você conquistou uma legião de fãs. VOCÊ MUDOU O RUMO DO SEU PERSONAGEM. Você reescreveu a sua história dentro e fora da novela. Foi você, Amaury. Não eu. Não os haters. Foi você! Foi você que me ajudou a realizar a cena que vai ficar marcada para sempre para a teledramaturgia brasileira. Se tem alguém que merece esse reconhecimento, esse alguém é você!

      Por um segundo eu não estava mais ali, eu estava no set. Eu estava na cena que ele citou. Por um segundo eu senti o tremor nas mãos, a emoção que rondou todo aquele dia. Por um segundo eu estava no fatídico dia do beijo entre Kevin e Ramiro, e tudo o que aconteceu pré e pós cena.

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Boa tardeeee,
Um pouquinho de drama pré putaria pq goxtamos!
Próximo cap eu finalizo (eu acho) essa fic
Vamos de flashback de beijo kelmiro com pré, pós cena e um hotzinho Dimaury pra coroar.

Espero que gostem!
Beijoooo🌚

Eu estou aqui - DiMaury 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora