Livro 2 (Cap. 2)

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Vinho, karaokê e lembranças de um cara desconhecido (ou não).

Encaro as árvores cobertas de neve e a única coisa que minha mente consegue fazer é se questionar sobre como vim parar aqui. Abraço com força o meu corpo que treme conforme a brisa fria me abraça com mais força. Tudo que consigo ver é neve, neve e mais neve... parece sem fim. As árvores, antes verdes, estão brancas de tanta neve. Eu só tinha visto cenas assim em filmes, nem mesmo quando fui passar um Natal em Gramado e nevou, ficou desse jeito. É incrível. É assustador e frio!

— Ca! — Uma voz chama meu apelido. Eu conheço essa voz... mas quem é?

— Eu? — Berro de volta, mas não obtenho resposta concreta, exceto pelo chamado do meu nome. É uma voz grave e boa de se ouvir.

Sigo o som da voz, mas parece que estou andando em círculos, pois tudo que vejo é árvores e neve. Corro e sinto meus músculos doerem. Há quanto tempo não corro? E ainda mais, na neve? Paro para respirar e tento controlar o ritmo da respiração, mas me perco quando vejo um homem parado a minha frente. Ele tem a pele preta como a minha. Seus cabelos são cacheados e volumosos, que não se destacam por isso e sim pela cor verde-brócolis. Aperto os olhos para enxergar seu rosto, mas tudo que vejo são seus olhos amarelos... ou será que estou imaginando?

— Quem é você? — Tento me apoiar nele, mas ele se afasta e eu caio. — QUEM É VOCÊ?

— Ca...? — Sua voz é chorosa agora. De onde eu o conheço? Por que ele me parece tão familiar?

— Que lugar é esse? E como eu vim para aqui? — Meu queixo treme a cada palavra. Tenho a impressão de que ele vai falar algo, mas não chego a ter certeza, pois acordo com frio.

Droga, foi mais um sonho com o cara misterioso. Percebo que o ar-condicionado está desligado e o quarto está uma geladeira de tão frio. Pucho o coberto até o queixo e sinto um alívio instantâneo. Por que consigo lembrar apenas de detalhes, mas não consigo formular uma imagem concreta desse cara?

Encaro o teto. Já estamos no meio do ano, logo, logo é Natal e época de comer biscoitos, escutar Mariah Carey e tomar vinho em frente a lareira. Por hoje ser sábado, marquei de ir à casa de Larissa, para fazermos "uma noite de karaokê", na verdade, ela marcou e confirmou minha presença sem eu dizer um "a" se quer. Bom, pelo menos tem vinho e pizza.

Não quero levantar da cama, mas já são 16h. Hoje acordei 11h, almocei com minha tia, então ela saiu com umas amigas da igreja e eu fui dormir, já que o trabalho da faculdade estava pronto, e acordei agora, quase 5 horas depois. Me derrubo - literalmente - de cima da cama. E se eu mandar uma mensagem mentindo, como, por exemplo, que estou com diarreia? Será que ela acredita? Bem, a conhecendo, eu posso afirmar que não. Droga!

— Estou indo para o banho. — Falo ao atender o telefone. Assim que pisei no banheiro, meu celular tocou e era ela ligando para me lembrar da noite de hoje. — Guria, tu não tem dedo, não? Ligação é tão anos 80. — Brinco e ouço-a gargalhar.

— Verdade, isso é tão cringe.

Super! Agora me deixa tomar banho, se não, eu só chego amanhã aí. — Com isso eu desligo a ligação e me arrasto para dentro do box.

Don't you remember da Adele começa a tocar e uma fala vem a minha cabeça: "Você tem um corpo bonito". Quem me disse isso? Eu não sei. Será que estou começando a ficar esquizofrênico? Isso é hereditário? Quem da minha família teve? Meu Deus!

— Garoto, para de loucura! — Digo a mim mesmo e sorrio. — Com certeza, estou ficando louco.

Após o banho, e por está frio, visto uma blusa rosa manga longa e uma calça jogger preta. Coloco minhas botas tratoradas e cato mais um casaco do guarda-roupa. Eu gosto do clima assim, frio, mas não gosto de chuva, pois quase sempre alaga a cidade, o que não é tão legal.

Série: Um Natal Mágico (Prévia)Onde histórias criam vida. Descubra agora