Aquilo que (não) se apagou

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O ônibus estava a chegar. Uma longa viagem de São José do Rio Preto até São José dos Campos esperava por mim e assim tentei deixar o tempo passar olhando para o céu clareando-se aos poucos com o amanhecer. "Por que a viagem tinha que ser tão cedo?", pensei enquanto desenhava a linda paisagem que a janela me apresentava novamente; era a primeira vez que vivia aquela experiência de viajar bem cedinho antes do sol nascer e chegar na cidade antes dela acordar desde quando me mudei para estudar ao ganhar uma bolsa para uma das melhores faculdades do estado.

A brisa gelada soprava no meu rosto enquanto tentava me concentrar nos traços do desenho que ali decidi fazer, mas o céu lilás com azul bebê roubou minha atenção e ali meus olhos cor de mel ficaram observando o céu se azular e o sol aparecer aos poucos aquecendo meu rosto parcialmente gelado.

Aquilo estava tão relaxante que só fui interrompido quando uma voz anunciou:

- Atenção, senhores passageiros, chegamos ao destino!

Finalmente cheguei na cidade onde tive que ficar longe o ano inteiro e dando a volta parecia que Sanja progrediu como nunca. A voz no ônibus continuava falando para os turistas aproveitarem a viagem e não se esquecerem de conhecer os pontos turísticos da cidade; palavras essas que deixei ao vento enquanto saí carregando as bagagens e o caderninho onde dava vida aos vários desenhos de pessoas, paisagens do país ou da arquitetura brasileira.

Depois de dar alguns passos na rodoviária, encontrei um garoto de cabelo longo ondulado e escuro onde aparentava estar esperando ansioso por alguém e claro que eu fazia ideia de quem. Fiquei o encarando por uns minutos para ter a certeza que não estava me enganando; quando vi que era a mesma pessoa que imaginava, o chamei:

- Rodrigo!

O rapaz olhou para o lado e seus olhos violeta brilharam ao me ver.

- Victor! - e me abraçou - Que saudades que estava de você!

- Também estava com saudades de ti, Diguinho!

Rodrigo Lima, meu melhor amigo praticamente desde sempre, era apenas um mês (exato) mais novo e era como meu irmão inseparável, metade do meu coração. Talvez apelando um pouco pro emocional, minha vida só passou a fazer sentido depois que o conheci.

- E como está a faculdade?

- Hm?

- A faculdade, aquela que você faz lá onde Judas perdeu as botas. Como tá lá?

- Ah, tá indo, eu acho... Sendo bem sincero, não sei onde estava com a minha mente pra me meter nessa.

- É, concordo. De todas as coisas que imaginaria a respeito de Victor Castelo, a última delas seria ser estudante de química, logo a matéria que você mais odiava na escola e que mesmo assim conseguia ser o melhor.

- Eu gostava da matéria, não gostava era da professora.

- Victor!

Rimos histericamente como se mais ninguém estivesse ali, até porque ignorar o pessoal era algo que Rodrigo e eu éramos mestres.

- E cadê minha família?

- Estão ali pertinho. Vem!

Mesmo não sendo totalmente de minha vontade por conta do cansaço, segui Rodrigo e cheguei em frente a uma cafeteria da rodoviária onde estavam minha família. Mamãe logo correu para me abraçar.

- Victor, meu querido! Que bom que chegou! Como está sendo a vida de universitário tão longe da gente?

- Complicada... - suspirei com o peso nas costas, mas gostava da sensação de orgulho que estava trazendo a eles apesar disso. - Viajar cedo é tão chato!...

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