Estou sentada em uma almofada enquanto uma diabrete trança meu cabelo para tirá-lo do rosto. Os dedos da criatura são longos, e as unhas, afiadas. Faço uma careta. Seus olhos negros encontram os meus no espelho com pés de garras que fica sobre minha penteadeira.
— O torneio é só daqui a quatro noites — diz a diabrete. Seu nome é Tatterfell, e ela é serva no lar de Madoc, presa aqui até conseguir pagar sua dívida com ele. Ela cuida de mim desde criança. Foi Tatterfell quem passou o unguento feérico em meus olhos para me dar a Visão Verdadeira e eu poder ver através da maioria dos feitiços, e era ela quem tirava lama das minhas botas e trançava sorvas secas para eu
usar no pescoço e resistir aos encantamentos. Ela limpava meu nariz molhado e me lembrava de usar as meias do lado avesso para nunca me perder na floresta. — E por mais ansiosa que esteja, você não pode fazer a lua se pôr ou nascer mais rápido. Agora, tente trazer glória para a casa do general ficando tão linda quanto eu conseguir deixar você.
Dou um suspiro.
Ela nunca teve muita paciência com minha rabugice.
— É uma honra dançar com a Corte do Grande Rei debaixo da colina — constata Tatterfell.
Os criados adoram me dizer quanto sou sortuda; uma filha ilegítima de uma esposa infiel, uma humana sem uma gota de sangue de fada, sendo tratada como a filha verdadeira de um feérico. Eles dizem as mesmas coisas para Taryn.
Eu sei que é uma honra ser criada junto aos filhos dos nobres. Uma honra terrível, da qual nunca serei digna.
Seria difícil me esquecer, considerando todos os lembretes que me dão.
— Sim — digo, afinal ela está tentando ser gentil. — É ótimo.
As fadas não são capazes de mentir, então costumam se concentrar nas palavras e ignoram o tom, principalmente se nunca viveram entre humanos. Tatterfell assente com aprovação, os olhos iguais a duas bolas de azeviche, nem as pupilas e nem as íris visíveis.
— Talvez alguém peça sua mão e você se torne uma integrante permanente da Alta Corte.
— Quero conquistar meu próprio lugar — informo.
A diabrete faz uma pausa, um grampo entre os dedos, provavelmente pensando em me espetar com ele.
— Não seja tola.
Não adianta discutir, não adianta lembrá-la do casamento desastroso da minha mãe. Há duas maneiras de mortais se tornarem parte da Corte: se casando ou desenvolvendo uma grande habilidade, que pode ser em metalurgia ou tocando a saúde ou qualquer outra coisa assim. Não estando interessada na primeira, tenho que torcer para ter talento suficiente para a segunda.
Ela termina de trançar meu cabelo em um penteado elaborado que faz parecer que tenho chifres. Cobre meu corpo com veludo safira. Mas nada disso disfarça o que realmente sou: humana.
— Dei três nós para trazer sorte — diz a fadinha, gentil.
Solto um suspiro enquanto ela corre até a porta, então me levanto da frente da penteadeira e desabo de cara na cama coberta por uma colcha. Estou acostumada a ter servos ao meu redor. Diabretes e duendes, goblins e elfos. Asas transparentes e unhas verdes, chifres e presas. Já estou no Reino das Fadas há dez anos. Nada mais me parece estranho. Aqui, a estranha sou eu, com meus dedos gordos, orelhas redondas e vida efêmera.
Dez anos é muito tempo para um humano.
Depois que Madoc nos sequestrou do mundo humano, ele nos levou para suas propriedades em Insmire, a Ilha do Poder, onde o Grande Rei de Elfhame também mantém sua fortaleza. Lá, Madoc nos criou — Vivienne, Taryn e eu — por uma obrigação de honra. Embora eu e Taryn sejamos prova da traição de minha mãe, somos filhas da esposa dele e, pelos costumes do Reino das Fadas, somos também problema dele.
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