Capítulo 3

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As fadas são criaturas do crepúsculo, e eu também me tornei uma. Nós acordamos quando as sombras se alongam e vamos para a cama antes de o sol nascer. Já passa da meia-noite quando chegamos na grande colina do Palácio de Elfhame. Para entrar, precisamos passar por entre duas árvores, um carvalho e um espinheiro, e depois seguir diretamente para o que parece ser uma parede de pedra de um pavilhão abandonado. Já fiz isso centenas de vezes, mas me encolho mesmo assim. Meu corpo todo se prepara, eu seguro as rédeas com força e fecho bem os olhos...

Quando volto a abri-los, estou dentro da colina.

Seguimos cavalgando por uma caverna, depois por pilares de raízes e então por terra batida.

Há dezenas de feéricos aqui, todos amontoados em volta da entrada da ampla sala do trono, onde a Corte está acontecendo. São pixies de nariz comprido e asas esfarrapadas, damas elegantes de pele verde com vestidos longos, todas com goblins segurando as caudas. Gnomos boggan traiçoeiros, vulpinos risonhos e um garoto com máscara de coruja e enfeite dourado na cabeça. Uma idosa com corvos

nos ombros, um grupo de garotas com rosas selvagens nos cabelos, um garoto de pele de casca de árvore com penas no pescoço e um grupo de cavaleiros de armadura verde-escaravelho. Muitos eu já tinha visto antes; com alguns, já tinha falado. São muitas criaturas para que meus olhos consigam absorver todos, mas sou incapaz de parar de olhar.

Eu nunca me canso disso, do espetáculo, da pompa. Talvez Oriana não esteja completamente errada ao se preocupar de um dia acabarmos nos envolvendo demais, nos deixando levar e esquecendo de tomar cuidado. Consigo entender por que os humanos sucumbem ao belo pesadelo da Corte, por que se afogam nele por vontade própria.

Sei que eu não deveria amar essas coisas na proporção em que amo,

principalmente depois de ter sido sequestrada do mundo mortal, de ter

testemunhado o assassinato de meus pais. Mas amo mesmo assim.

Madoc desce do cavalo. Oriana e Taryn já desmontaram e entregaram os animais aos cuidadores. É por mim que estão esperando. Madoc estica os dedos como se fosse me ajudar, mas salto da sela sozinha. Meus sapatinhos de couro batem no chão com um estampido.

Espero estar parecendo uma cavaleira aos olhos dele.

Oriana se adianta, provavelmente para lembrar a Taryn e a mim de todas as coisas que ela não quer que a gente faça. Mas não dou chance a ela. Em vez disso, passo o braço pelo de Taryn e caminho rapidamente. A sala está cheirando a alecrim queimado e a ervas moídas. Atrás de nós, ouço os passos pesados de Madoc, mas eu sei aonde ir. A primeira coisa a se fazer quando chegamos na Corte é cumprimentar o rei.

O Grande Rei Eldred está sentado no trono com seu manto cinza, uma coroa pesada de folhas de carvalho de ouro sobre o cabelo fino e dourado. Quando nos curvamos, ele toca de leve em nossas cabeças com as mãos ossudas e cheias de anéis, e então nos levantamos.

A avó do rei foi a rainha Mab, da Casa Greenbriar. Ela viveu como uma das fadas solitárias antes de começar a conquistar o Reino das Fadas com seu consorte chifrudo e os cavaleiros-cervos dele. Por causa dele, dizem que cada um dos seis herdeiros de Eldred possui uma característica animal, o que não é incomum no Reino das Fadas, mas um tanto inusitado entre os nobres da Corte.

O príncipe mais velho, Balekin, e seu irmão mais novo, Dain, estão ali perto, bebericando vinho em cálices de madeira decorados com as prata. Dain usa uma calça que termina nos joelhos, exibindo os cascos e as patas de cervo. Balekin usa seu sobretudo favorito, o com gola de pele de urso. Seus dedos têm um espinho em cada junta, e espinhos também decoram seu braço, subindo pelos punhos da camisa,

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