Depavenir

epílogo: A serpente na tempestade

                  Na penumbra da noite, a cidade continuava a se movimentar, embora todos estivessem dormindo neste horário, ela nunca deixava de funcionar, em todas as suas engrenagens e máquinas, a grande nave precisava trabalhar para manter todos seguros. E é nesta calada da noite que vagos sons podem ser ouvidos andando sobre o telhado de uma casa, passos rápidos e ágeis, eles se movimentavam e a sombra de uma pessoa passava pela luz dos grandes postes e refletia sobre as ruas.
    Uma de suas mão agarrava o gancho de um descolador, e com ele se jogava do telhado da casa sendo puxado por um longo fio para o outro lado do bairro, o vento gelado incomodaria se não estivesse usando um capacete. E com sua outra mão colocava seus dois dedos sobre o lado direito do capacete e algo dizia:

- Estação central 1077, aqui é a agente 941 e estou me dirigindo para a terceira camada neste exato momento.
- Positivo 941. Mas poderia responder do por quê se recusar a usar um elevador diretor ou um túnel expresso? — Dizia a voz de uma mulher no seu fone.
- Os túneis estavam sendo já usados e o elevador diretor foi novamente cercado, repetindo, o elevador diretor foi novamente cercado. Estou chegando na entrada de um labirinto, logo entrarei em contato de novo. — Ela desligava a chamada retirando a mão do capacete e se soltando do descolador.

  Caindo quase ajoelhada na área de pouso, agente 941 se levantava batendo suas mãos levemente sobre as suas pernas, para retirar a sujeira. Andando até a direção de uma parede, começou bater suas mãos procurando por algo naquela enorme parede de metal, até ouvir um barulho oco.

- Parece que essa entrada foi selada há algum tempo...

Encostava as pontas de seus dedos sobre o metal e com eles, a perfurava com um laser e em um movimento giratório derrubou um grande pedaço em formato de círculo, após ele cair pode-se ver o caminho de instalações e tubos em sua frente. Fechando seus olhos por dois segundos, ativou sua visão noturna deixando seus olhos que eram roxos em uma cor vermelha, assim podendo entrar no labirinto com um pouco de dificuldade por ser apertado, mas ficando na posição de quatro patas ajudava.

- A verdade é que... Eu apenas não quis escolher nenhum dos transportes. — Falava consigo mesma a agente. - Todos chamariam atenção, meu uniforme em sí já faz esse papel, quero agarra-la sem que me descubra...

E naquela mesma madrugada, em uma mansão longe dali, sobre a primeira camada. Um barulho de torneira se ouvia na cozinha, alguém acendeu a luz ali também e alguém estava vendo isso da escada. Ao caminhar até a porta, a empregada botou as mãos sobre sua cintura e:

- Toro, o que você tá fazendo acordada em uma hora dessas?! — Angela tentava não falar muito alto.
Toro quase engasgando tomando água se virou para ela imediatamente, batendo a mão no peito.

- Quer me matar do coração?! - Ela tossia e batia a mão no peito.- Eu que pergunto por que você tá acordada.

- É por costume... — Angela andou até Toro e suspirou. - Não me diga que, não consegue dormir por causa do exame técnico de amanhã?

- Estudei por três anos por esse dia, eu não posso falhar agora Angela, ela acredita em mim...— Toro abaixava um pouco sua cabeça e colocava o copo de volta na pia.

O silêncio tomou conta do lugar por alguns segundos. Angela foi do lado de Toro e colocou a mão sobre seu ombro.

- Vem... É duas da manhã e a gente precisa sair sete horas. Se você dormir no exame eu vô quebrar seu pescoço garota. — Angela saía da cozinha puxando Toro junto.

- Eu não consigo dormir. — Falava Toro olhando pro chão indo até às escadas. - Tem algo me incomodando bastante, não é a ansiedade pelo exame, eu tenho certeza disso... É como se-