III

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" Minha querida,

Nesta carta podes encontrar o dinheiro que prometi mandar todos os meses, espero que seja útil e que te ajude em tudo o que precisares. Envio também um extra, pois deduzo que a idade já não cura e que precises de cuidados especiais assistidos pelo médico.

Uma vez que o assunto principal desta carta já se encontra esclarecido tenho que te contar as novidades. Para ser honesto não são bem novidades, são mais desabafos...

Lembraste de te falar do Paul? Eu já não o aguento! Eu preciso que me tires este peso de cima, eu não sei o que mais fazer! Agora, para além de roubar, ele quer que mate pessoas de uma forma tão cruel...

13 de Junho de 2015. Matei o John McMan, ele estava mesmo à minha frente, conseguia ouvir o bater forte do seu coração, ele estava extremamente nervoso. Conseguia ver as suas mãos húmidas, os seus lábios secos, apontei-lhe a arma à cabeça mas lembrei-me do que Paul havia proferido . Prendi-o à cama degradada, ele pedia socorro e o desespero estava cravado no seu rosto. Peguei na navalha que estava guardada nas minhas calças e passei a lâmina no seu peito vendo-o ser pintado por sangue. Engoli em seco e quando senti a sua respiração abrandar arranquei-lhe o coração.

Estou a dar em maluco, tenho pesadelos com isso todas as noites! Acordo e tenho que lavar as mãos um milhão de vezes.

Ontem recusei fazer isso a uma mulher. Ela estava mesmo ali... Vulnerável... Pensava que eu a queria assaltar e dava-me todo o dinheiro que tinha. Eu deixei-a viver e quando cheguei ao escritório do chefe, ele prendeu as minhas mãos com uma corda que me fez feridas profundas nos pulsos. Ele bateu-me com o cinto e disse que se não a matasse ele matava-me de uma forma dolorosa e que ia demorar dias e dias...

Sam, eu preciso que me ajudes! Por favor preciso das tuas palavras que sempre me ajudaram a acalmar! Preciso que me acaricies o cabelo enquanto me cantas músicas calminhas. Eu sinto tanto a tua falta não imaginas o quanto!

Beijinhos Harold.

P.S.: Eu tentei escrever uma musica mas não consegui encontrar as palavras certas. Tem outra folha com a letra."

Respirei fundo pousando a caneta, dobrei o papel em três e coloquei-o dentro do envelope. Sei que estão a questionar-se sobre quem é esta de tal Sam, bem estou aqui para colocar esse ponto de interrogação mais explícito.

A Sam ou Salma é uma senhora já de idade, quando a minha mãe morreu ela tentou acolher-me com o pouco dinheiro que tinha. Apesar do dinheiro ser pouco consegui sustentar-me e tirar-me da rua onde vivia.

Sai de casa olhando para as estrelas. esta paisagem fora, em tempos, a minha tela de sonhos. As estrelas simbolizam o maior sonho de cada pessoa, pelo menos era o que a Sam dizia. A senhora contava-me histórias maravilhosas que me enchiam o coração de coragem, também me criava expectativas para um futuro promissor. Uma vez, após ela me contar o conto do João e o pé de feijão, eu peguei no nosso coelho e dei-o à senhora do supermercado ela, em troca deu-me os feijões que lhe pedi, plantei-os e não aconteceu nada. Na altura fiquei desiludido mas agora entendo que a história não era real. A Sam riu-se imenso, mas só depois de me chamar á atenção e fazer-me recuperar o senhor calças fofas (como podem ver eu sei escolher muito bem nomes para animais).

Entrei uma vez mais no café onde a minha namorada trabalha, porém não inalei o aroma a jasmim do seu perfume, esse cheiro costuma tornar o ar mais acolhedor. Franzi as sobrancelhas quando a silhueta de Paul se cruzou no meu campo de visão. Aí vem merda.

"Harry, ainda bem que te encontro" Engoli em seco vendo os companheiros dele.

"Tenho um trabalhinho para ti" Permaneci em silêncio enquanto o homem exageradamente obeso, esfregava as suas mãos gordurosas (talvez tenha comido nuggets, desculpem tenho fome).

Segui-o para o armazém onde o pessoal se encontrava para discutir negócios, não sei se referi, mas também se vendem prostitutas neste sector.

Ao que parece, Paul queria que voltasse a fazer um trabalho imundo. Desta vez tinha que raptar uma tal de Samantha Parker, não me disse o porquê, apenas proferiu que era de extrema importância e era crucial nunca revelar a minha identidade. Concordo com a última parte, a última coisa que queria era ser denunciado pela tal rapariga, isto se ela eventualmente escapar.

Coloquei os meus óculos escuros e a minha gabardine preta, o meu chapéu estava ligeiramente descaído enquanto observava a rapariga a brincar com as crianças. Ela parecia realmente feliz à volta daquelas miniaturas. Não quero que nada de mal lhe aconteça, ela é apenas uma rapariga normal, não vejo o quão violenta se pode tornar... bem se ela tiver uma lingerie vermelha e um vibrador na mão hum...aí sim ela pode ser violenta.

Abanei a cabeça para afastar os meus pensamentos perversos e concentrei-me na rapariga à minha frente, tirei várias fotos ao seu rosto enviando-as de imediato ao chefe para este se certificar que estava a seguir a rapariga correta.

Bebi um pouco mais do smoothie de morango sorrindo, as crianças riam enquanto ela lhes fazia cócegas, os seus sorrisos rasgavam as bochechas das crianças, mas algo aconteceu. Elas começaram a gritar e a fugir para longe da porta, olhei. Era o Paul.

Ele fez-me sinal para desaparecer e avançou com o Joshua, ele agarrou a rapariga e levou-a para uma carrinha preta com vidros escuros. Engoli em seco e, apesar do pedido do meu superior, não recuei. Tentei ajudar a rapariga, contudo as minhas forças foram em vão e vacilei quando o Paul me ameaçou com uma arma. Recuei voltando para casa com o cagadinho de medo, sentei-me no sofá imaginando o que eles estariam a fazer à pobre rapariga.

Suspirei e, para esquecer este assunto, dirigi-me aos correios enviando a carta à minha querida Sam. Espero que lhe seja útil o dinheiro.

A Matter of secondsOnde histórias criam vida. Descubra agora