Amicus ad Aras ◇ Woosan

A viagem

Tudo o que eu sentia eram borboletas, mas o sentimento não era bom como descrevem, eu quero vomitar, posso sentir minhas entranhas se revirando e querendo abandonar o meu corpo não importando a forma de como o fazem. Sendo sincero eu nunca estive apaixonado, não que não acredite no amor ou algo assim, pelo contrário, por esse exato motivo me joguei de cabeça nessa loucura, só não achei que as tais borboletas na barriga se parecessem com diarreia explosiva. Eu moro em uma área muito remota, acho que isso pode explicar um pouco a minha falta de experiências, já que nunca tive a oportunidade de conhecer ninguém que me despertasse interesse o suficiente para ter algo além de amizade, e mesmo essas eram escassas. Mas agora eu tive e realmente quero viver estas experiências, já é hora, mesmo sendo tudo novo.

Eu conheci uma pessoa online num aplicativo de fazer amizades novas pois a minha solidão estava um pouco difícil de romantizar, e eu decidi dar uma chance e realmente me agradava a ideia de ter alguém com quem falar dos meus interesses fora o meu gato, mesmo que fosse por uma tela. Era só para passar o tempo no início, mas depois se tornou algo diário, conversar com ele era confortável, me fez sentir menos invisível. Na escola era monótono, eu tinha amigos mas eram aquele tipo de amigos que eu sabia que o minuto que pisasse fora daquele portão para sempre, eu nunca mais os veria. Mas como era o meu último ano lá eu não me esforcei muito nesse quesito, já que eu queria mesmo começar uma vida nova na faculdade, com pessoas que realmente me identifico, fazendo o que gosto e não tentando ser uma peça num puzzle que nem é meu. E acho que o mundo me recompensou por essa adolescência monótona, pois esse novo amigo mora na cidade onde eu vou começar a estudar em poucos meses e de alguma forma eu convenci meus pais a passar parte das férias lá com ele para me acostumar com o sítio, conhecer pessoas, os arredores e casas onde possivelmente posso ficar durante a faculdade, já que seria impossível ir e voltar todos os dias, obvio que tive de mentir um pouco e dizer aos meus pais que já tinha estado com esse amigo pessoalmente mas ele se mudou. Foras as quinhentas chamadas de vídeo que a minha mãe fazia com ele e com a família dele, podia-se dizer que ficámos bastante próximos nesses meses de conversa. Próximos ao ponto de algo a mais começar surgindo, mesmo eu não tendo bem a certeza do que, a gente decidiu dar uma chance e ver como vai funcionar pessoalmente. Mas não era nada definido já que decidimos que seria melhor definir pessoalmente, já que estaríamos próximos mesmo depois das férias.

Estava tudo pronto, meu cabelo longo caindo um pouco pelo meu rosto de uma forma charmosa e estilosa, que provavelmente não duraria durante a viagem de duas hora e meia de ônibus que iria passar. Coloquei um look simples e confortável para a viagem mas bonito. Já tinha as malas prontas, tinha beijado a minha mãe, que insistiu me levar mas eu garanto que chegaria bem e faria chamada com ela o caminho inteiro, e ela apenas me teria de levar ao ponto do ônibus e foi o que fizemos. Como ele morava bem perto do ponto e tinha um ônibus não tão longe de minha casa que fazia essas viagens longas por ser Seoul, uma cidade gigante, sem ter de passar por 20 metrôs, minha mãe deixou ir sozinho, sendo que ficava bem mais barato do que dirigindo. Ele também se ofereceu a me buscar ao ponto mas eu quis fazer uma surpresa.

Passou estranhamente rápido (eu dormi durante a maior parte da viagem). Para minha defesa eu mal tinha dormido no dia anterior de nervosismo. E ao ser acordado pela senhora desconhecida mas simpática que estava do meu que tinha fofocado e com a minha mãe também na video chamada antes de adormecer, todo o nervosismo voltou.

Peguei nas minhas coisas e segui para a localização que ele me tinha indicado.
Bati na porta, imediatamente vi os pais dele que me abraçaram calorosamente, e vi alguém de costas, era ele, tinha de ser, corri até ele e o agarrei pelo ombro, para ele se virar na minha direção.

- Yeosang cheguei.