capítulo dois.

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O sol se levantava temeroso no horizonte. Louis já podia ver, pouco mais ao norte, as multidões caminhando alvoroçadas em direção a arena em que ele em breve seria o espetáculo.

Mas eis então o privilégio de ser da coroa: enquanto seu oponente o aguardará em um corredor sujo e escuro, ele tinha para si as regalias de passar o mesmo tempo no conforto de seu aposento, recoberto pelos tecidos de linho e seus objetos de maior estima.

Louis olhava tudo que tinha com apreciação, se demorando em todos os detalhes que eram invadidos pelos primeiros raios de sol daquele dia. Contudo, foi em sua mesa que ele se demorou um pouco mais. Em dois objetos, em particulares: dois pequenos medalhões em que se inscreviam, respectivamente, as letras D e A.

Junto aos pequenos tesouros, vinha também um pequeno bilhete, em que se lia:

"Para nosso valente irmão,

Que nossos nomes levem a você a proteção de nosso amor.

Delia e Anthea."

Louis sorriu melancólico para o ato das irmãs, enquanto guardava os objetos dentro de suas vestes na altura de seu peito.

Aquela era uma tradição antiga entre os três, em que trocavam objetos significativos entre eles toda vez que brincavam entre si, quando pequenos, de batalhas. Contudo, dessa vez o embate era real. Louis, de fato, iria para arena, enfrentar não mais estacas de madeira sem ponta, mas um soldado estrangeiro com destreza e armas verdadeiras.

A luta foi, para Louis, a matéria de maior facilidade, nos anos que passou em seus estudos. Estudava-a todos os dias, sem ao menos folgar nos dias dedicados aos Deuses.

Sem seu título de príncipe par acobertá-lo no exterior, o tutor colocava o jovem garoto para competir em olimpíadas e lutas clandestinas até mesmo com o maior dos espartanos. Mas para Louis, que conhecia todos os golpes e contragolpes, o duelo era como uma dança intensa da qual se deveria compreender o oponente pelos olhos.

Os olhos entregam tudo que você precisa saber, dizia Telêmaco.

E assim, Telêmaco passou a dizer que Louis tinha o sangue de Ares e a mente de Athena para enfrentar seus combatentes.

Mas mesmo com todo domínio nesta arte, Louis não poderia deixar de se sentir inseguro com o combate que disputaria. Neste havia muito mais em jogo do que apenas algumas cicatrizes em seu corpo. Havia os olhos de seu povo, de sua família e, principalmente, os de seu pai.

Para Louis, os olhos de Perseu eram uma incógnita. Não diziam tudo, como Telêmaco dizia. Neles, Louis encontrava sempre pouco e, portanto, se sentia como uma criança perdida em busca de qualquer resposta. Naqueles olhos, ele sempre seria pequeno e insignificante. E aquela era sua chance de mostrar-se diferente e mudado. Agora, um homem, ou até mesmo um herói como sempre desejou.

Mas enquanto divagava sobre os olhos de seu pai, sua mente foi trazida de volta ao cômodo quando por de traz da madeira clara, toques suaves foram depositados.

— Entre! — Louis pediu.

E por entre as pesadas portas, um sorriso leve trouxe familiaridade: Andrômeda.

— Mamãe! — Louis levantou-se do pequeno banco que o acomodava direto para os braços da mulher.

Agora, assim, tão perto, você podia ver como ambos eram parecidos. Os mesmos olhos de tempestade em dia de sol, o mesmo nariz redondo e avermelhado, os mesmos lábios rosados.

— Eu pensei que você não pudesse vir...

Mais antes mesmo que pudesse completar, Andrômeda levou um dos dedos até a boca do filho, interrompendo-o:

romã [l.s.]Onde histórias criam vida. Descubra agora