No entardecer do terceiro dia, Louis acordou.
O suor recobria sua face e o desespero, sua alma. Desorientado e irritadiço, ele olhou o entorno sem reconhecer onde estava.
Tratava-se de uma tenda, muito humilde, com diversas estruturas de ripas de madeira e tecido fino que sustentavam homens enfermos e debilitados. Seus ferimentos variavam de fraturas expostas até mesmo doenças silenciosas, que se demonstravam apenas pelas fáceis abatidas e tosses escarradas.
Nenhum daqueles rostos, no entanto, despertava no jovem príncipe qualquer familiaridade. Ou ao menos foi o que Louis pensou até ver, na porção mais longe de onde ele estava, aqueles olhos outra vez.
Mas antes mesmo que a adrenalina pudesse surtir efeito em sua carne, uma voz como canto dos pássaros primaveris chamou sua atenção:
— Meu irmão!
A jovem, que destoava de todos outros ali, carregava vida em seu rosto arredondado e noviço. A mulher, única entre tantos homens, chamava atenção para si, mas parecia pouco se importar com isso.
— Anthea! — Louis disse, dispondo-se de um esforço na tentativa de sentar-se, mas logo sendo impedido tanto pela dor quanto pela garota, que veemente bradou:
— Não faça isso! Você precisa de repouso.
— Não, Thea, eu preciso falar com Perseu imediatamente. Eu preciso terminar aquele embate e...
— Louis... — a garota disse, com os olhos baixos e certa melancolia — O embate acabou.
— Não. Como pode?
— Louis, você foi golpeado.
— Não! — ele bradou, apesar da dor —Eu não posso perder assim.
Com um ato de carinho, a irmã tomou as mãos do rapaz entre as suas e disse:
— Louis, aquele homem golpeou seu coração. Ele atacou para matar. O duelo se encerrou.
— Mas como posso estar aqui então?
Anthea tirou então de suas vestes requintadas dois medalhões amassados e laçou ao príncipe um sorriso triste.
— Os medalhões estiveram entre a lâmina da espada e seu coração. Quiseram os Deuses que estivessem onde estavam naquela hora.
Como se fossem um tesouro, Louis apanhou-os e passou a observá-los atentamente. Não se liam mais nem D ou A, eram apenas pedaços de bronze deformados.
— Não. — O rapaz disse convicto — Deixe-me falar com Perseu. Eu posso reverter a situação e...
— Louis, — o rosto de Anthea, antes jovem e cheio de graça, agora parecia enevoado e cheio de maturidade — Perseu não falará com você.
Pelo semblante confuso do irmão, ela se sentou próximo do enfermo irmão e passou a dizer, quase por entre sussurros:
— Você o desonrou diante de seu povo.
A dor destas palavras se enterraram sobre o coração fraco de Louis, cortando todos os espaços onde a espada de Harry não havia chegado.
— Perseu bradou com nossa mãe, — Anthea continuou — certo de que deveria te banir de Micenas pela eternidade.
Louis se lembrou do rosto de Perseu antes do golpe. Fora a primeira vez que Louis pôde ler os olhos do pai: repletos de repulsa e infortúnio.
— Mas Andrômeda se impôs. Você sabe como ela é.— a irmã sorriu, tirando o mesmo gesto do rapaz. — Ela conseguiu reduzi-lo há um acordo: você deve ser banido da corte, mas ainda pode permanecer no palácio, e consequentemente em Micenas, como parte do exército.
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romã [l.s.]
FanficBanhado nas promessas de um trono, narcisos e glórias, Louis vive seus dias inebriado na aura de ser, não somente filho de Perseu, um dos maiores heróis de toda Grécia Antiga, como também um dos mais promissores jovens de toda Micenas. Contudo, sua...