Angelina princesa do céu

Volta às aulas

-Henrique? -Naná me chama batendo na porta do quarto. Angelina não dá o mínimo sinal de ter ouvido -Está na hora de você acordar Angelina pra ir pra aula.

-Pelo amor de Deus, eu te pago o dobro se acordar ela no meu lugar!

-Nem vem. Seu monstrinho, você acorda.

Respiro fundo deixando o joguinho de lado. Estou de férias, mas as aulas de Angelina em seu curso acabaram de voltar e vai ser um pesadelo deixar ela na escola, porque se eu estou de férias ela tem que ficar pendurada no meu pescoço 24/7 aparentemente.

-Angelina? -balanço seu ombro de leve -Princesinha -vou dizendo o máximo de apelidos fofos que conheço, até que ela acorda com um sorriso lindo.

Ok, esquece, eu tô de férias e ela tem que ficar pendurada no meu pescoço 24/7.

-Bom dia Papai.

-Bom dia, meu amor. Vamos te arrumar? Ta na hora.

-Na hora de que? -confusão passa por seus olhos e eu não quero mais que ela vá pra aula, quero que continue sorrindo o dia todo, como estava antes.

-Hoje é dia de escolinha.

-Mas é férias!

-São minhas férias amor, você já teve as suas.

-Nam.

-Como assim?

-Nam.

-Princesa, eu vou te arrumar, te levar, e te buscar. Vai ser legal, poxa.

-Nam -ela continua me encarando fixamente.

-Você não vai faltar de aula, Angelina.

-NAM!

-Sem gritar. Você vai pro curso.

-NAM!

Ela cobre a cabeça e vira pro outro lado.

Vou até o quarto dela e pego seu seifuku rosa, e a chupeta nova que ela comprou pra levar pra aula.

-Olha o que você vai vestir pra ir pra aula. Eu sei que você gosta desse!

Ela nem se mexe.

-E o bubu de escolinha? Vai deixar ele triste e abandonado dentro da caixa? Ele veio pra cá só pra isso.

Ela espia pelo cobertor, bufa, e se levanta, jogando a cabeça pra trás e fazendo um som de reclamação.

-Essa é minha garota! Vem, ei vou te dar banho -deixo as coisas em cima da cama e a pego pela mão.

Ela fica empurrada durante o banho. Enquanto penteio o seu cabelo. Enquanto toma café.

-Eu vou te buscar na aula, e depois vamos pro shopping, pode ser? -me sirvo café suficiente pra não levar pro pessoal ser ignorado pela minha pequena. Machuca -.-

Enquanto ela termina de tomar seu café da manhã eu corro no andar de cima pra arrumar sua mochila.

Dedeira, bolsinha de remédios, livro de colorir e giz de cera, kindle, um steam toy... to esquecendo alguma coisa? Acho que não!

Parece exagero, ela vai ficar umas duas horas fora, mas isso serve pra garantir que qualquer tipo de ansiedade que ela sinta ela consiga resolver sozinha.

Nós dois prezamos muito por autonomia, emocional e financeira, e tudo que um de nós não sabe fazer o outro ajuda a aprender. Auto regulação foi uma dessas coisas.

-Amorzinho, sua mochilinha tá pronta.

-Pegou meu bubu novo? -ela pergunta com um beicinho triste.

-Peguei. Vamos?

Ela se despede de Naná com um abraço que faz parecer que ela está indo pra um intercâmbio na Austrália, e não pra uma aula a dez minutos de carro da nossa casa.

Seu beijo de despedida é dado com muita má vontade, e a mim cabe apenas aceitar. Sei que ela vai se divertir na aula, aquilo era só pirraça. Se tivesse motivo de verdade pra não ir, ela teria me explicado. Eu não me importo que ela falte quando se sente deprimida, ou resfriada por exemplo. Ela sabe que pode me falar dessas coisas. Agora, não querer ir porque quer passar o dia brincando... não dá.

Faço as compras da casa com a maior calma que existe no mundo, porque não tem ninguem pra me estressar enquanto eu olho oito vezes o preço de cada coisa porque esqueci o da marca anterior na hora de comparar. Nessas horas percebo o quanto Angelina e Naná são barulhentas, e como a minha impaciência não é com o mercado, e sim com o excesso de estímulo auditivo agudo.

Depois das compras, fico perdendo tempo no meio dos eletrônicos. Naná diz que tenho um vício, tal qual Angelina que compra o triplo de livros que consegue ler, mas eu juro que só troco de telefone quando necessário. E de câmera. E compro jogos. Enfim.

Pra não deixar Angelina esperando, fico na porta da escola me dedicando ao meu novo hiperfoco: como fazer velas aromáticas. Eu ainda não fiz nenhuma, mas não paro de ver isso no pinterest.

-Papaaaaaaaai -Angelina corre pros meus braços, feliz da vida e me enche de beijos.

-Oi, princesa! Como foi na aula?

-Muito legal! A gente jogou joguinho e teve...

E aí ela começou a falar igual pobre na chuva e compensou tudo que não disse no café da manhã, e ainda falou o suficiente pro resto da semana.