Conto 1 - Lady dos Prazeres

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Eu nunca tive o privilégio de ser uma mulher cuja autoestima fosse minimamente decente. Sempre fui a garota esquisita dos ambientes que frequentava: magra demais, pequena demais, muito "sem sal" - na tão valiosa e não solicitada opinião popular.

Cresci cercada de elogios no diminutivo, ou sendo obrigada a ouvir "críticas construtivas" e conselhos sobre como uma academia faria meu corpo ficar realmente bonito e esbelto. Talvez se meus peitos fossem maiores, mais fartos, os garotos olhariam duas vezes para mim; se minha bunda fosse grande e redonda eu teria mais admiradores; se meu cabelo fosse 100% liso as pessoas não o comparariam à um ninho de rato todas as vezes que eu não tivesse tempo de penteá-lo antes de sair.

Para minha completa infelicidade, eu nunca tive colhões para mandar toda essa gente se foder. Ouvi cada comentário com um sorriso sem graça, me desculpando por ser quem era, oferecendo motivos para justificar o porquê de o meu corpo não ser tão bonito quanto supostamente deveria. Eu queria não me importar com a opinião alheia, queria não ouvir, não armazenar, no entanto... todas as vezes que alguém comentava sobre minha aparência, uma parte intrínseca da minha vaidade morria.

Com isso, eu passei de esquisita e desajeitada à desleixada. Parei de me arrumar completamente, porque aparentemente nenhum esforço compensava o fato de que eu era, e sempre seria, uma mulher de beleza sub mediana. Passei pela fase horrorosa da puberdade como um verdadeiro caco. Vestia os shorts enormes do meu irmão, uma camisa puída qualquer, um vestido velho da minha mãe... não comprava roupas, não arrumava o cabelo e estava me lixando para a estética decrépita do meu corpo. Entrei em depressão, engordei 15kg - depois de todos aqueles anos sendo quase raquítica de tão magra - e sobrevivi no limbo da autonegligência por quase dois anos inteiros.

Quando eu finalmente me formei no ensino médio, decidi que não estava pronta para a faculdade ainda. Havia passado os últimos três anos prestando vestibular à contragosto, apenas porque parecia a conduta socialmente aceitável. Eu já tinha dezoito anos e, mesmo indo contra o desejo dos meus pais, arranjei um emprego no estado vizinho e saí daquela cidade deprimente na qual havia crescido.

Comecei a trabalhar em um bar, no período noturno, atuando primeiro como garçonete e depois como balconista. Os clientes eram, em sua maioria, homens jovens sedentos por uma cerveja, ou homens mais velhos sedentos por um destilado. De modo geral, eu lidava mais com homens do que com mulheres.

Em meio à esse ambiente majoritariamente masculino e elitista, comecei a ter contato com algumas garotas de programa que eram contratadas pelos clientes do bar. Eram mulheres lindas, poderosas, confiantes e corajosas - tudo o que eu nunca havia sido capaz de ser. Usavam roupas extravagantes, sensuais, tinham cabelos alinhados, peles perfeitas, seios fartos, bundas empinadas... Eram a personificação da beleza e sensualidade feminina.

Elas circulavam em duplas, ou às vezes sozinhas, e se insinuavam para os clientes de forma bem descarada, à vista de todos. Eram tantas mulheres que eu sequer tinha tempo de decorar suas feições, e conhecia apenas algumas de vista.

Pouco menos de um mês depois de eu ser contratada, um cliente bêbado com cara de engomado parou no balcão e me olhou de cima à baixo antes de zombar:

- Se eu te pagar uma marmita você me paga um boquete?

Fiquei paralisada no lugar, encarando-o por vários segundos. Eu usava uma roupa comum, não estava desarrumada, e meu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo. Sabia que minha aparência simples não era convidativa para deboches, afinal eu estava trabalhando, mas ouvir aquelas palavras sujas disparou um gatilho muito recente na minha cabeça. Claro que engoli em seco e deixei que outra pessoa o atendesse, ao invés de gritar ou chorar de raiva e humilhação como eu realmente queria fazer.

CONTOS ERÓTICOS LÉSBICOS - VOLUME IIOnde histórias criam vida. Descubra agora