Durante a noite, no meio de um jardim, um menino muito pequeno caminha olhando curiosamente para a frente. Seus braços balançam e se chocam com a lateral de seu corpo enquanto suas mãos abrem e fecham demonstrando inquietação. Ele anda rápido, com uma pressa incerta, tendo em vista que não sabe para onde está indo e muito menos o que está procurando.
- Soonyoung! – um grito desesperado soa na escuridão. O menino começa a correr assim que reconhece a voz.
- Mamãe! – ele grita de volta, tão desesperado quanto ela – Mamãe, estou aqui! Mamãe!
As folhas mortas caídas no chão emitem um barulho alto enquanto são destroçadas pelos pés ansiosos do menino. Ele corre na direção da voz, entrando em um longo corredor rodeado por flores enormes. O caminho parece eterno, como se duplicasse de tamanho sempre que ele estava perto de alcançar sua mãe.
- Soonyoung, me ajude! – a voz familiar continua a gritar cada vez mais alto. O grito é gutural, quase desumano, como se alguém estivesse machucando sua pobre mãe.
- Aonde você está? – o menino grita de volta, chorando desesperadamente. Seus pés doem e ele não tem mais forças para continuar, até que para e olha ao redor com urgência.
Assim como a voz, as flores também são familiares. Fileiras e mais fileiras em tons de branco e amarelo, um pouco desbotadas por conta da escuridão. Os crisântemos que cresciam no enorme jardim de sua mãe e que eram muito especiais para ela.
- Mamãe, eu não sei o que fazer... – Soonyoung soluça, olhando para as flores em busca de respostas.
Seu coração dispara assim que um eco de vozes se junta à da sua mãe. Vozes masculinas e juvenis, tão conhecidas por ele quanto a voz feminina que ecoava. Eram as vozes de seus amigos.
- Socorro! – todos gritavam, fazendo o corpo do menino reagir com um grande desespero, como se cada voz fosse uma lâmina perfurando seus ouvidos. Ele volta a correr, tentando ignorar a dor que tomava conta de si.
- Aonde vocês estão? – grita, com uma raiva sobrenatural. Sentia-se irritado, perdido e, principalmente, desnorteado. Quanto mais corria, mais as flores o engoliam e as vozes aumentavam. Tudo parecia como uma grande sessão de tortura.
Até que as vozes se calaram.
Soonyoung cai de joelhos contra as flores secas, tremendo como folhas em uma chuva violenta. Lágrimas salgadas escorrem por todo o seu rosto, enquanto ele soluça em um ritmo descompassado que ecoa em meio à aquela escuridão. Não sentia paz, apesar do silêncio. Sentia medo, muito medo. Tomado pelo pânico, esconde seu rosto entre as mãos e entrega-se totalmente à solidão.
- Soonyoung... – um sussurro masculino ecoa, como se os fragmentos dessa voz flutuassem ao redor de Soonyoung, que aos poucos recupera o fôlego e afasta as mãos da face.
O menino não reconhece a voz que sussurra seu nome. Todavia, algo lhe diz que a pessoa que a possuía era familiar, tendo em vista que o coração de Soonyoung aos poucos se acalma e as lágrimas param de escorrer.
- Quem é você? – Soonyoung sussurra de volta, olhando rapidamente para todos os lados, buscando encontrar o dono da voz.
- Soonyoung... – dessa vez, o sussurro carrega consigo um tom urgente, como uma ordem – Não deixe que as flores levem você.
Subitamente, todos os gritos voltam e o garoto se vê derrotado pela dor alucinante. Até que tudo se transforma abruptamente em uma escuridão absoluta.
Com um pulo, Soonyoung abre os olhos. Seus cabelos loiros estão grudados em sua testa enquanto uma poça de suor molha sua camiseta velha de pijama. Sua respiração está acelerada, assim como os batimentos de seu coração. Ao seu redor, um silêncio acolhedor o recebe dentro de seu quarto, tão familiar a ele.
- Não é real. – sussurra para si mesmo, puxando de leve sua camiseta que colava em seu peito – Nada disso é real. Vou esquecer isso assim que voltar a dormir.
Contudo, Soonyoung sabia que jamais esqueceria daquele pesadelo, principalmente da voz que havia o ajudado a acordar.
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O Jardim de Crisântemos • soonhoon
HorrorAnos depois do desaparecimento de sua mãe, Soonyoung encontra um caderno deixado por ela no meio das flores antes de desaparecer. Nele, uma carta pede para que o garoto encontre sua mãe dentro da floresta. No entanto, o caminho para encontrá-la vai...