Capítulo 6 - Passagem do tempo

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Dentro de si, Soonyoung sentia seu sangue transformar-se em gelo. Cristalino, sem sabor, gélido, paralisante. Suas veias queimavam, uma dor física atordoante que fazia com que todo o seu corpo se encolhesse involuntariamente. Todavia, o seu emocional parecia ainda mais dolorido do que suas veias que se destruíam. A mente de Soonyoung, que antes era estruturada como um enorme iceberg, agora desmoronava rapidamente consumida pelo calor da destruição deixada pela ausência de Seokmin, Joshua, Seungkwan e Hansol.

Ele não era o único que se sentia assim. Cinco passos atrás dele, Jeonghan estava sendo carregado por Seungcheol, enquanto seu corpo permanecia paralisado pelo choque. Por todos os momentos de sua existência, Joshua esteve ao seu lado, desde o ventre de sua mãe, até que, subitamente, ele não existia mais. Era quase como se Jeonghan não existisse também.

Sem Seungkwan para causar distrações, o grupo parecia ainda mais desolado. Além disso, Chan e Soonyoung sentiam-se completamente distantes, sem o trio de melhores amigos que tinham o poder de fortalecer qualquer relação.

-Mingyu... – A voz baixa de Wonwoo ecoou no silêncio da floresta, atraindo a atenção do grupo, que logo direcionou seus olhares para a dupla que estava atrás de todos eles. A cena era completamente desoladora.

Em meio às flores coloridas, Mingyu estava de joelhos, cobrindo o rosto com as mãos. Apesar de não emitir nenhum som, era nítido que ele chorava. Em sua frente, Wonwoo acariciava seu cabelo com uma das mãos, enquanto a outra se apoiava em seu ombro, apertando levemente. Os olhos de Wonwoo estavam brilhantes com as lágrimas, mas ele tentava controlá-las.

- Não consigo mais. – Mingyu sussurrou, a voz abafada pelas mãos – Não dá.

Antes que pudesse dizer outra coisa, outra pessoa se ajoelhou ao lado direito de Mingyu, o abraçando em seguida. Era Soonyoung. O contato entre os dois pareceu derreter o sangue cristalizado nas veias do mais velho, devolvendo lentamente o calor que antes habitava seu corpo. O compartilhamento da dor da morte de alguém fez com que Soonyoung percebesse que eles ainda estavam vivos.

- Estou aqui com você. – Foi tudo o que ele conseguiu dizer para Mingyu, enquanto os dois dividiam as lágrimas e o abraço.

Lentamente, os outros garotos se juntaram ao abraço, desajeitadamente, apoiando-se uns nos outros. Percebendo as aproximações, Mingyu retirou as mãos que cobriam sua face, olhando para os amigos que o rodeavam. Em seu lado esquerdo, Jeonghan o observava com os olhos inchados pelas lágrimas que cobriam seu rosto. Quando seus olhos se encontraram, eles sorriram. Não era um sorriso de alegria, mas sim um sorriso tranquilizador, que expressava que tudo ia ficar bem, sem palavras serem necessárias.

✽ ✽ ✽

Aparentemente, a tarde havia chegado, já que o céu estava azul claro e brilhante, com poucas nuvens. Os raios de sol tocaram os rostos dos nove garotos que agora caminhavam em uma área sem árvores, mas com muitas flores, principalmente crisântemos brancos. Os meninos permaneciam em silêncio, porém agora caminhavam mais fortes, sentindo a presença de cada um, como se tornassem uma coisa só.

Os passos de Soonyoung haviam perdido a velocidade com o tempo, fazendo com que ele lentamente fosse indo para trás, até assumir a posição posterior no grupo, ficando por último. Sem perceber, Jihoon igualava seus passos ao do mais velho, até parar ao seu lado, atrás de todos os outros garotos. Os dois caminhavam próximos, as mãos balançando sincronizadas com poucos centímetros de distância. Seus olhos estavam focados no chão e se moviam minimamente, imitando os reflexos das ações que o outro fazia.

- Parem. – A voz de Minghao fez com que o grupo parasse de caminhar, erguendo o olhar na direção em que o mais velho olhava.

Um pouco à frente do grupo, um grande lago cristalino se estendia, brilhando com a luz do sol que se refletia na água. Ali, um grupo de doze criaturas se banhava. Eram corpos de diversos tamanhos e cores, vestidos em trajes construídos com flores que combinavam com seus tons de pele. Os corpos tinham pernas, pés, braços, mão, tronco e tudo o que um corpo normal poderia ter, todavia, não possuíam cabeças. No lugar onde elas deveriam estar, pequenos ramos e pétalas se emaranhavam, conectando-se com as vestes florais.

O Jardim de Crisântemos • soonhoonOnde histórias criam vida. Descubra agora