A Tragedia

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— Atende, atende Kevinho.

Ramiro dirigia em alta velocidade, enquanto tentava ligar pra Kelvin. Sabia que o ruivo dificilmente o atenderia, mas a situação demandava. Eram 3:00 da manhã e Kelvin já deveria estar dormindo. Mesmo se já estivesse acordado, não atenderia. Na 14 ligação, um Kelvin sonolento e puto atendeu.

"O que você quer, enviado do satanás?"

"Kevinho, é a Mari. Corre pro hospital"

"Hospital!?" Kelvin saltou da cama, enquanto procurava uma camisa pra vestir. "O que aconteceu, Ramiro? Pelo amor de Deus!"

"Eu não sei... eu não sei!" Sentia a voz sibilar, não podia perder a mãe de seus filhos "só corre pro hospital"

Kelvin fora todo o caminho para o hospital com a vista embaçada pelas lágrimas. Mesmo com todos os problemas que enfrentou com sua irmã, não podia se imaginar vivendo em um mundo sem ela. Ao adentrar o hospital, correu para a recepção, encontrando um Ramiro inconformado jogado na cadeira de espera.

— Ramiro, o que aconteceu? Cadê minha irmã?

— Ela sofreu um acidente, Kevinho. — o apelido remeteu a um passado distante, que Kelvin não tinha tempo para se lembrar. — os médicos não falam nada! Nada! Meus filhos não podem perder a mãe deles...

— Calma...
Kelvin, inconscientemente encostou a mão no ombro de Ramiro, sentindo o rapaz relaxar um pouco com o toque. Viu, de relance, um médico entrar na sala.

— Vocês são os familiares de Mari Santana?

Kelvin somente concordou com a cabeça.

— O estado é grave. Ela teve traumatismo e está com uma hemorragia interna que infelizmente não conseguimos controlar. Qual de vocês é o Kelvin? Ela está grogue pela anestesia, mas chama por você.

Kelvin já não tinha mais forças na perna e se apoiava inconscientemente em Ramiro. Se apresentou no automático e pos se para seguir o médico. Chegando no quarto, deparou-se com a pior cena que veria na vida, sua irmã, completamente machucada.

— Laranjinha, você veio... — o apelido de infância fez Kelvin derramar várias lágrimas. Sentia tanta falta dedo carinho que tinha entre eles. — vem aqui. — disse com dificuldade.

Kelvin se aproximou, colocando a mão sobre os cabelos de sua irmã gêmea, fazendo um pequeno carinho ali, como fazia no passado. Sua irmã sorriu com o toque.

— Eu tô aqui, meu amor. Eu tô aqui.

Com dificuldade, Mari pegou a mão do irmão e suspirou fundo. Olhou em seus olhos com um olhar de súplica que Kelvin nunca havia visto.

— Eu errei com você. Me perdoa... me per. — ela tossiu, fraca. — eu me arrependo tanto...

Algumas lágrimas desceram pela face, que Kelvin carinhosamente limpou.

— Eu te perdoo, meu amor.

— Eu preciso de pedir uma coisa. Cuida dos meus filhos

— não! Você não vai morrer, Mari.

— Cuida dos meus filhos, a única pessoa que eu confio no mundo. — ela disse sem escuta-lo. — cuida dos meus meninos. — ela disse chorando, em angústia.

— Como se fossem meus. Irei cuidar como se fossem meus, mesmo que você não me pedisse.

— Era pra eles serem seus — ela diz, com um sorriso triste nos lábios. — cuida do Ramiro também, o Ramiro, ele...

Mari começou a tossir freneticamente, fazendo Ramiro, que estava na porta, até então não notado, entrar chamando pelo seu nome.

— eu vou cuidar! Mari! ALGUÉM??? NÃO TEM UM MÉDICO NESSA MERDA? Vai ficar tudo bem Mari, vai ficar tudo bem. Pode ir tranquila.

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