A Conversa

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Quem é vivo sempre aparece, né não? Esses dias uma pessoa me cobrou a atualização dessa fic e eu pensei; ah, porque não? Então resolvi voltar aqui. Kelvin, Ramiro e até mesmo Mari merecem um desfecho, não?

Vamos pra uma conversa difícil?

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Kelvin e Ramiro acordaram juntos, entrelaçados. Suas pernas unidaa, em uma promessa silenciosa que seriam somente um.

Ramiro fora o primeiro a acordar. Observando o rosto pálido, levou seus dedos a cada canto, a cada sarda. Sabendo que aquele momento seria único.

E provavelmente o último.

Kelvin acordou como em um rompante, encarando o homem ao seu lado. Tinha tanto a lhe dizer, mas depois de tanto falar, queria o ouvir.

O encarava com ternura.

Levou suas mãos a barba farta a sua frente e pode deixar-se encarar os olhos castanhos diante de si.

—  Por que você fez aquilo...?

O tom sussurrado deixou claro para Ramiro que Kelvin não tinha intenção de falar realmente aquilo, talvez se quer notou que verbalizou o que sua mente sussurrava com uma frequência perturbadora.

Ramiro suspirou fundo. Seu passado não era algo a que gostava de voltar. Não era algo que estava sempre em sua memória também. Fugia. Mas naquele momento, sabia que precisaria visitar seu ponto mais triste, e obscuro.

Por ele.

Por Kelvin.

— Kevin... eu. — ensaiou. Sua mão percorrendo a cintura de Kelvin, procurando certa segurança.

Olho com olho.

Sentimento com sentimento.

E sentira-se seguro.

"Desde pequenininho eu sabia que era diferente, cê sabe?" o sotaque forte voltava quando o mesmo ficava nervoso. "quando eu cheguei nas terras do patr-meu pai, eu não sabia o que esperar. Eu não sabia o que esperar, Kevin"

Ramiro se levantou, ansioso. Suas mãos espalmadas na coxa, sem saber o que fazer. Mas quis lutar.

Quis falar.

"Comecei a fazer uns serviços pequeninin pra ele ali. Lavrá a colheita. Contar. Assustar os bicho. Quando eu vi, já tava fazeno outros serviço pro patrão."

O preto arfou fundo, recuperando o fôlego.

"Quando eu conheci oce, eu tava nessa vida ainda, pequetito. Mesmo que eu tivesse meus desejo, minhas vontade, não sentia ainda que isso era certo."

Respirou fundo, mais uma vez, tomando coragem pra falar o que queria dizer.

" Desde minino eu sei que gosto de homem. Sempre senti mais vontade de tá perto quando é homem.  Mas eu não aprendi assim, sabe? Uma vez meu irm- O Caio me pegou beijando um menino no canto de trás da fazenda. Sabe o que ele fez Kevin?"

A pergunta era retórica, mas Kelvin respondeu em negativa.

"Deu uma coça ni mim. Mandou eu virar macho. Contou pro Antonio e ele levou ej lá no bar. Fez a falecida Cândida me mostrar o que era ser macho. Aquele dia foi um dos piores dias da minha vida, nunca senti tanto nojo de mim.... eu virei... eu achei que virei. Até que conheci ocê."

Aproximou-se de Kelvin,  ainda sem encostar no mesmo.

"Quando eu vi ocê, eu ainda era um home bruto. Fui me aproximando, de apertaozin em apertãozinho. E tava certo de que eu ia contar tudo procê, até aquela noite."

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