No qual Kou Yusuke sempre continuaria esperando;

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[🍄] Querem saber um fato muuuuuito interessante? A flor na capa da história é misótis, também conhecida como "não-me-esqueças".
Beijinhos
xoxo


Sentado em uma desgastada cadeira de balanço, o velho homem sentia a brisa bater em seu rosto, trazendo consigo o cheiro de terra molhada graças às intensas chuvas que anunciavam o fim do longo período de inverno no qual passaram.

As últimas gotas da água salgada ainda caiam ao chão, enquanto nuvens densas e cinzentas cobriam toda a vasta visão do céu azul que ele poderia ter. O som da água indo de encontro a terra diminuía gradativamente, como uma melancólica melodia que chegava ao fim, sendo aos poucos substituída pelo cantar dos pássaros escondidos em meio às diversas árvores ao longo de todo aquele pedaço de terra.

Sentado em sua varanda, balançando vagarosamente em sua antiga cadeira de balanço, o velho Kou Yusuke segurava um kiseru em sua mão direita. Seus dedos já calejados, tanto pela idade quanto por segurar sua katana por anos seguidos, passavam vagarosamente pelo acabamento do cachimbo bem conservado.

Em sua mão oposta - em seu pulso, se fosse mais específico - ainda permanecia a mesma pulseira que usara desde a infância que, diferentemente do cachimbo, estava velha e desgastada pelos anos de uso contínuo. Yusuke nunca a tirou, desde que a colocara pela primeira vez, assim como a outra pessoa que possuía uma semelhante a sua, ele nunca a desamarrou de seu pulso.

Nem quando foi para a guerra, nem mesmo agora. Ele não a tiraria.

Aqueles objetos que guardou consigo ao longo dos anos, eram suas últimas lembranças sobre quem foi em toda sua vida. Sobre o que tinha vivido em sua juventude. E sobre os amores que cultivou no mais profundo de seu coração.

E todos aqueles sentimentos, todo o carinho e saudade, eram diariamente cultivados. Tal como as diversas plantas para fins medicinais em um canto específico de seu jardim, que já haviam de ter sido tratadas e bem cuidadas há anos atrás pelas mãos mais gentis que ele conhecera; assim como ele mesmo fôra.

O vento soprou mais uma vez, dessa espalhando o agradável cheiro doce que apenas as flores de cerejeira carregavam. Cheiro esse que apenas poderia ser sentido próximo a casa de Yusuke, aos pés da Montanha Akayama, onde ele, teimosamente, insistia esperar.

Todos os dias, sentado na mesma cadeira de balanço velha e desgastada, o homem se punhava a observar a entrada no sopé da montanha. Esperando que, por entre as árvores e os caminhos traiçoeiros que levavam até o topo, a montanha o devolvesse para si o que a muito tempo ela havia tomado.

Yusuke esperava. Todos os dias desde os seus vinte e seis anos. O tempo o ensinou a ser paciente para esperar a volta daqueles que tanto amava, mesmo que não fosse de seu feitio.

Ele havia se tornado um especialista nisso. Porque fosse em sua infância, enquanto aguardava incansavelmente em frente ao portão do clã Seki, ou agora, ele continuaria esperando pela volta daqueles que tomaram seu coração.

Reencostado sobre o apoio da cadeira, o velho homem soltou um suspiro leve enquanto fechava os olhos. O vento soprando os cabelos, agora brancos graças a idade avançada, enquanto os cheiros das flores se misturavam em sua volta. Acolhendo-o em um embalo tranquilo, adormecendo-o tranquilamente após anos de incansável espera.

Quando o kiseru escapou por entre dedos fracos, caindo em um som oco aos seus pés na varanda, o lugar se fez ainda mais silencioso quando o som da respiração cansada cedeu lentamente. Embalado em um sono sem sonhos por toda a eternidade.

Porque por mais que ele tenha o feito a vida toda, Kou Yusuke não precisava mais esperar.

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