O Bebê do Jeon

Perdido

Não sei por quanto tempo estou encarando meu reflexo no espelho do banheiro. Meu cabelo está uma verdadeira bagunça, há olheiras abaixo dos meus olhos e minha expressão cansada denuncia a minha noite mal dormida.

Como? Essa era a pergunta que rodava em minha cabeça desde aquele dia, quando voltei da regressão e quando Jeon se certificou que era seguro me deixar sozinho, ele foi embora. Na verdade, fingir que eu estava bem se tornou uma das minhas especialidades.

Mesmo que eu tivesse voltado da regressão, não me sentia bem. Estava me sentindo cansado, perdido e um pouco deprimente; não disse nada, nem uma palavra sobre isso com Jungkook e o deixei ir.

E foi aí que eu caí na real.

Como eu pude fazer aquilo? Como pude ser tão fraco e sensível? Fiquei vulnerável, mostrei um lado que não deveria, fraquejei na frente dele. Agora, ele poderia muito bem usar aquilo contra mim ou, quem sabe, usar aquilo para rir e se divertir como bem entender, até mesmo me moldar ao seu bel-prazer.

E aquilo não deveria ter acontecido. Eu não deveria ter regredido, não deveria ter o deixado se aproximar de mim, não deveria ter cruzado a linha. Por Deus, ele até sabia onde era a minha casa agora! Mostrei à ele o meu quarto, meus bichos de pelúcia e meus objetos de conforto na regressão, aceitei que ele comprasse até mesmo coisa para mim sem me importar muito com as consequências.

Sai do pequeno cômodo, voltando para o meu quarto e dando de cara com a pelúcia de tartaruga sobre a cama.

Por isso todos riem de você, podia ouvir a voz de meu pai ecoando em minha cabeça naquele momento. Você precisa crescer, não ficar gastando dinheiro com pelúcias.

Lembro-me que foram por causa dessas palavras que eu fiquei com dificuldades para regredir durante duas semanas seguidas...

Balancei a cabeça, não querendo pensar mais nisso. Tratei de pegar uma camiseta de cor amarela, um macacão jeans e meus All Stars amarelos de cano alto; passei um pouco de corretivo para esconder minhas olheiras e sai do quarto.

Taehyung havia ido embora alguns minutos depois de Jungkook, então éramos só eu e Mooncake naquela manhã. Coloquei ração no pote e troquei a água antes de entrar na cozinha, abrindo a geladeira e pegando a caixa de leite. Preparei vitamina de banana e ovos mexidos com tofu e tomate, me forcei a comer e me despedi do bichano, pegando minha mochila.

Chegando no ponto de ônibus, me arrependi de ter tomado café, pois sentia a comida pesando em meu estômago, me deixando enjoado. Subi no ônibus, sentando bem no fundo e colocando os fones, me distraindo com o desenho que eu assistia no YouTube.

Eu tinha noção do que estava fazendo. Estava fugindo de novo, tentando distrair minha mente para não pensar muito, fugindo dos meus próprios problemas, como sempre fazia. Fugindo do que eu deveria fazer em relação às sessões de terapia com Jungkook e sobre o fato de ele querer ser meu cuidador; de como eu confiava nele na minha regressão e me mostrava vulnerável e de como eu não queria que isso acontecesse de maneira alguma.

Primeiro, para mim, meu cuidador deveria ser uma pessoa em que eu confiaria plenamente e totalmente, além de amá-la de forma incondicional e verdadeira.

Resumindo, deveria ser alguém que eu pudesse chamar de namorado ou namorada, e não uma pessoa qualquer que ficaria comigo por alguns momentos e depois partiria.

Segundo, aquilo estava fora de cogitação. Na primeira vez em que confiei assim em alguém ao ponto de mostrar todos os meus lados, minha personalidade, medos, defeitos, qualidades, tudo de que eu era feito, acabei sendo destruído da maneira mais brutal possível, ao qual me deixou mais traumas do que eu era capaz de suportar.