Eu quase que fui assassinada. Há cinco meses atrás. Isto é de loucos! A minha cabeça ainda não tem capacidade para absorver tanta coisa.
A doutora Beatriz já tinha saído do quarto. Não me disse mais nada de importante, simplesmente explicou as regras do hospital. Ela disse que eu tinha alguém à minha espera do lado de fora, que tinha estado comigo nos últimos cinco meses em que estive inanimada.
Pela porta do meu quarto uma garota loira de olhos verdes entra. Ela não era muito alta, devia ter pouco mais de um metro e cinquenta e trazia vestido umas calças jeans e uma blusa branca.
Se nós as duas éramos conhecidas eu não me lembro dela, o que até é normal já que eu não me lembro de nada.
Olívia? - aquela menina pergunta com uma lágrima quase a cair-lhe do olho.
Eu não a queria magoar por isso retribuí um pequeno sorriso.
- Estou tão feliz em ver-te! Pensava que nunca mais poderia voltar a falar contigo - eu estava a ficar nervosa. Não queria que esta pessoa soubesse que eu não me lembrava de nada. Olho para todos os balões e cartões que estão dentro do meu quarto. Lembro-me de chegar à conclusão de que todos eles tinham sido assinados pela mesma pessoa. Calculo que a loira seja a tal.
- Eu também estou muito feliz em ver-te... - desvio o meu olhar para os balões - Sara
Ela sorri, talvez tenha acertado o nome dela. Por enquanto ninguém podia saber do meu pequeno segredo.
- Olha, eu sei que aquilo que tu passas-te à cinco meses atrás não terá sido nada fácil para ti e talvez seja muito cedo para ter esta conversa contigo, mas o teu pai deixou-te uma última carta. Eu decidi que não devia ler o seu conteúdo, por respeito à nossa amizade. - Sara coloca um envelope branco nas minhas mãos - O almoço será servido daqui a meia hora, espero por ti lá embaixo. - ela passa a sua mão pelo meu ombro, como se fosse um gesto reconfortante, e sai do quarto. Fico assim sozinha outra vez.
Olho para o pedaço de papel que tinha em mãos. Era muito simples só com umas letras escritas à mão no seu exterior.
" De: Pai
Para: Liv"
A Sara disse que esta foi a última carta do meu pai. Será que lhe aconteceu alguma coisa? Apesar de não me lembrar de quem era o meu próprio pai eu acho que não estava pronta para ler aquelas palavras. Decido guardar a carta em uma das gavetas que havia no quarto.
Consigo levantar-me da cama e dirijo-me até ao banheiro, sempre com uma máquina de soro atrás de mim. A primeira coisa que faço é olhar-me no espelho. É a primeira vez que vejo o meu reflexo. Tenho cabelos castanhos ondulados, olhos castanhos, umas sardas na cara e aparentemente sou alta, devo ter quase um metro e setenta. Parece que acabei de nascer... isto é um pouco triste.
Tomo um banho e coloco uma roupa confortável para ir almoçar. Vou até à porta do meu quarto e chamo uma enfermeira que estava ali por perto.
- Desculpe, podia chamar o elevador? Eu precisava de ir até à cantina mas não consigo descer escadas com este aparelho atrás de mim - aponto para a máquina de soro atrás de mim. A enfermeira tira os seus airpods dos ouvidos, estava a ouvir a música "The Archer" da Taylor Swift.
- É claro espere só um minutos - ela desaparece do meu campo de visão.
O hospital até estava bastante vazio. As únicas pessoas que estavam a andar nos corredores eram médicos e enfermeiros, sem nenhum sinal de doentes.
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Memórias Perdidas
RomanceUma garota não se lembra de nada daquilo que viveu. Apenas ficou com um sonho assustador e aterrador sobre algo que ela nunca viu. Como será que ela conseguirá viver em um mundo que lhe tirou tudo e que, principalmente, guarda as suas memórias perd...