A Garota da Cafeteria

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Já faz um tempo que sinto uma estranha atração por aquele olhar vermelho, triste e penetrante. Não apenas isso, mas por seus lábios macios e avermelhados, os escuros e compridos fios de cabelo repartidos ao meio, por uma ponta em formato de V em sua testa, as mechas escorriam como uma catarata por seu corpo esguio, hipnotizada por sua elegância e uma inexplicável aura intimidadora.
Há alguns meses ela vem, se senta na mesma última mesa posicionada longe da janela e pede sua xícara de café preto. Sempre usando um colar com pinjente de coração prateado, pendurado na altura do peito e uma sombrinha com rendas. Cada dia trás consigo algum livro interessante para passar o tempo. A cafeteria é um lugar calmo, sem muitos clientes barulhentos, a iluminação é aconchegante e ainda possui aquele cheirinho gostoso de comida pairando no ar, o ambiente ideal para relaxar.
Estou preparando seu café, disponho a xícara branca com detalhes azuis e borda dourada sobre o pires, junto de alguns sachês de açúcar e uma pequena colher. Me aproximo de sua mesa conduzindo o pedido em uma bandeja, os olhos vibrantes e frios como navalha então se viram pra mim e eu ironicamente consigo sentir meu rosto aquecer, não posso deixar que o arrepio subindo pela minha nuca, me desconcerte neste momento, então digo gentilmente:

- Tenha uma boa tarde!

Sorrio enquanto posiciono sua bebida sobre a mesa.
Será que ela sequer nota os efeitos que tem sobre mim? Me perco em meus próprios pensamentos enquanto me dirijo á próxima mesa, quando sem querer piso e escorrego num cubo de gelo que algum cliente provavelmente havia derrubado mais cedo. Sinto meu corpo todo sendo arremessado para trás, levando a bandeja com um copo de suco que se estilhaça em mil pedacinhos, o barulho ecoa por todo o lugar. Estou no chão, enxarcada e cheirando a suco de abacaxi, enquanto todos olham para mim, consigo ouvir as pessoas rindo baixinho na mesa ao lado e então vejo o gerente da cafeteria me olhando por trás do balcão de atendimento, ele balança a cabeça e bufa, mostrando aquele seu olhar de desaprovação. Meus olhos lacrimejam e minha visão fica turva, mas não posso chorar agora, me sentiria ainda mais humilhada. Subitamente sinto alguém me erguer pela palma da mão, eu pisco e duas lágrimas rolam por meu rosto, agora consigo ver com clareza, foi Morgan quem me ajudou a levantar.

- Você está bem?

Perguntou-me com sua voz calma. Nesse momento sinto uma dor no tornozelo, só então reparamos que um caco de vidro havia me cortado. Com os dedos, limpo o pouco de sangue que espele do machucado e olho novamente para frente, desta vez, a moça já estava em frente a porta de saída, com sua sombrinha posicionada ela vai embora, sem ao menos terminar de beber o café ainda quente, deixando apenas um único carimbo do seu batom vermelho escuro na borda da xícara.

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