É sábado, estou na cozinha de casa, preparando o café da manhã. Pego minha caneca favorita, com flores rosa bebê estampadas e despejo o leite e o café, quando percebo a voz de meu irmão chamando.
- Aurora!? Ei!!!
- Ah! Oi?
- Estou te chamando faz tempo, tonta! Suas torradas estão queimando!
Corro para retirá-las da torradeira, já haviam algumas manchas escuras, mas eu ainda conseguiria comer. Com uma espátula eu passo geléia de frutas vermelhas nos pães e formo um lanche.
- Você está muito distraída hoje, mais que o comum. Aconteceu alguma coisa?
- Eu só... só estou muito cansada. Demorei para pegar no sono esta noite.
Apanho meu café da manhã e me retiro da cozinha, antes que Daniel pergunte qualquer outra coisa. Nós somos realmente muito próximos, mas ainda existem coisas que prefiro guardar apenas para mim mesma, ao menos por enquanto.
Como o de costume, vou comer sozinha em meu quarto, enquanto assisto algo no meu projetor que produz imagens na parede lisa em frente a cama, percebo a forma que os raios de sol iluminam as plantas escoradas nos móveis, mas eu ainda não consigo me concentrar em nada daquilo, novamente me disperso e começo a me recordar de ontem a noite, esse é o real motivo de eu estar tão avulsa pela manhã inteira.
É simplesmente impossível parar de pensar na longa conversa que tivemos na cafeteria, esperando a chuva passar. Tudo correu tão naturalmente, pareciamos velhas amigas que se reencontraram após um longo tempo separadas. Falamos sobre inúmeras coisas! Eu bem mais que ela, na verdade. Morgan parecia um tanto reservada, mas interessada em tudo o que eu tinha a dizer, me senti confortável ao seu lado e acredito que ela também.
Mal vimos o tempo passar, porém não pedíamos ignorar que estava cada vez mais tarde e a chuva continuava caindo. Não tínhamos escolha, então decidimos sair juntas, mesmo na chuva, nós corremos até a minha casa e por Deus! Foi tão divertido sentir os pingos de chuva tomando conta de mim, como há muito tempo não fazia. Foi a primeira vez que vi Morgan gargalhar, ela sempre estendia os dedos na frente de sua boca, escondendo o sorriso, de forma delicada.
Ao chegarmos na parte coberta varanda, vimos uma a outra, estávamos encharcadas. A maquiagem havia escorrido um pouco de seus olhos, carimbando rastros escuros sobre seu rosto, a roupa preta que usava, agora contornava muito mais sobre as curvas do corpo dela.- Bem.. devo ir para casa agora.
- Você está louca? - endaguei - Olhe para você! Está encharcada.
- O que seria mais um pouco de chuva para mim?
- Preciso te lembrar de que as ruas são perigosas? - disse enquanto abria a porta de casa - Desculpe, mas eu não posso deixar você ir embora sozinha.
Nós entramos, lhe ofereci uma toalha e roupas secas. Eu estava sentada na cadeira ao lado da janela, quando Morgan terminou sua ducha, ao abrir a porta do banheiro que conectava diretamente para o meu quarto, vapor quente com o aroma refrescante de rosas se espalhou por toda a sua volta, penteando todo o comprimento de seu cabelo molhado, ela usava meu pijama branco, uma camisetinha e um shorts que ficavam mais curtos nela do que em mim, eu não olhei demais, pois queria confortá-la o máximo possível.
Em seguida também tomei banho, e vesti uma camisola rosa pastel de alças finas, babados nas bordas e um pequeno laço na altura do peito, ao voltar para o quarto, vejo Morgan sentada na cama, iluminada apenas pela luz fraca e alaranjada do abajur apoiado sob a cabeceira. Seus olhos refletiam em meio a escuridão.- Seu quarto é muito bonito, eu amei a decoração.
Após observar todos os posters de bandas e séries estendidos pelas paredes do cômodo, meu teclado ao lado da penteadeira e maquiagem espalhada por ela, a garota arrastou levemente o quadril para um dos lados da cama, me sinalizou com a mão, dando dois tapinhas ao lado vazio e um leve sorriso simpático surgiu em seus lábios. Tomei fôlego, peguei um edredom e me deitei ao seu lado, cobrindo nós duas. Desliguei a luz e nos aconchegamos, pude sentir seu braço encostado no meu.
- Vou pegar mais uma coberta, você ainda está fria como um cadáver! - eu disse enquanto me preparava para levantar, mas Morgan segurou meu punho antes que eu conseguisse pôr os pés no chão.
- Não há necessidade. - explicou, aproximando minha mão de seu corpo - veja, nem estou tremendo. Logo vou esquentar completamente!
Então eu esperei e antes que pudesse perceber, adormeci profundamente, com a mão repousada no tórax de Morgan.
Quando despertei pela manhã, ela já não estava mais lá, ao meu lado havia apenas o pijama que emprestei, perfeitamente dobrado. Não pude me conter, levei a camisa branca até meu rosto e senti seu cheiro, que era único, peculiar e adocicado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Monomania
VampireMorgan, a garota que eu secretamente admirava, sempre esteve me observando também, inclusive agora no canto escuro do meu quarto, sem mover um músculo. Eu sei que ela está aqui.