Sempre gostei de enigmas, porém, isso foi um jeito extremamente exagerado de dizer que queria uma companhia para olhar o pôr do sol no terraço do prédio mais alto do campus. Isso me cativou o suficiente para que eu usasse meu resto de energia para dar meia-volta e subir até aquele lugar.
Chegando no topo do prédio, me deparo com o garoto misterioso, seus cabelos compridos estavam sendo gentilmente balançados pela brisa da tarde, um cheiro suave de mistura de várias flores e pólvora exalava dele, uma mistura peculiar, entretanto, me agradava.
— Você escreveu esse bilhete? — Eu perguntei.
A resposta era óbvia, mas não custava nada fazer uma simples questão.
— Sim... obrigado por vir, eu gostaria de ter uma testemunha para a minha arte — Ele apontou o dedo para um homem de terno tomando café e logo em seguida disse — Os lírios contém um composto tóxico chamado de licorina que, se consumido em grande dose, gera convulsões, espuma na boca e por consequência, morte. — Logo após Tyler terminar de falar, o homem bebeu o café e começou a convulsionar.
Eu estava completamente aterrorizada após ver essa cena, porém, não consegui gritar, correr ou ter qualquer reação. A pessoa na minha frente deixou de ser o garoto misterioso e se tornou um monstro aterrorizante. Pensamentos como "o que ele vai fazer comigo?", "eu vou morrer agora?", "por que ele fez isso?", "o que eu faço?" e vários outros passaram pela minha cabeça em segundos, até que aquela figura ameaçadora me disse:
— Não se preocupe, eu só faço isso com pessoas que merecem uma punição, porém nunca recebem. Aquele homem especificamente, era um ator famoso que financiava tráfico infantil.
Apesar de minha moral duvidar das ações desse homem, eu fiquei um pouco mais aliviada e finalmente consegui falar:
— Por que você queria que alguém visse isso?
Ele respondeu calmamente, como se não houvesse arrependimento algum em sua alma:
— Eu não sei, talvez tenha sido só uma loucura minha.
De certa forma eu entendia Tyler, fazendo justiça com as próprias mãos, tomando decisões ilógicas por tédio ou outros motivos emocionais. Mas, mesmo assim, acabei de ver um homem morrer de uma forma horrível e eu precisava tomar alguma atitude.
— Eu vou ligar para a polícia. — Eu disse, reunindo toda a coragem que possuía no momento.
— Não me importo, talvez isso torne as coisas até mais emocionantes. — Ele disse, indo em direção ao elevador. — Se quiser me encontrar de novo, venha até a estufa em exatas trinta e seis horas.
Quando ele entrou no elevador e saiu, finalmente pude relaxar um pouco, e a lógica voltou a ter voz na minha mente. Pensei em ligar para a polícia a fim de denunciar tudo, mas eu não tenho prova alguma além das minhas palavras, talvez até mesmo fosse presa por ser a única suspeita. Apenas desci e fui para meu dormitório.
Não consegui dormir direito. Durante toda a noite, o rosto inexpressivo daquele garoto e a cena do homem agonizando vinham na minha mente todo o tempo, e por volta das seis da manhã decidi que não tinha condições de dormir. Comecei a me preparar para a rotina do meu dia, sempre com os pensamentos de "amanhã, mais ou menos esse horário, tenho que estar na estufa", "o que acontecerá comigo caso eu não vá?", isso estava me deixando tão ansiosa que meu coração não parava de acelerar, porém, mesmo com esse sentimento horrível, fui para as aulas, porém não consegui prestar atenção em nada, não respondi nenhuma das mensagens da minha amiga e a evitei durante todo o dia.
Quando todas as aulas acabaram, o palhaço Oliver veio até mim dizendo:
— Você não parece nem um pouco bem, aconteceu alguma coisa?
Quando ele me perguntou isso, senti como se eu fosse importante para alguém. Eu realmente não sentia isso há muito tempo, mas no fundo sabia que essa preocupação não passava de um enfeite, uma cortesia, apenas educação.
— Mesmo se eu estivesse mal, não importa. — Eu respondi tentando encerrar a conversa ali mesmo e acelerei meu passo, mas, ele segurou a minha mão e disse:
— Mas pra mim importa!
Nesse momento meu coração acelerou, mas era totalmente diferente da ansiedade de antes, pois eu estava feliz, aliviada. Aquela mão quente e forte me trouxe tanto conforto e segurança que eu sentia que poderia contar com ele para qualquer coisa. Comecei a chorar, ele me abraçou, e então me levou para um lugar onde não havia quase ninguém.
— Quer falar sobre o que está te deixando assim? — Oliver me perguntou com um tom preocupado e curioso, mas eu não conseguia falar e nem pensar direito, então apenas acenei negativamente com a cabeça e ele me deu uma sugestão:
— Tudo bem, tá afim de ir para algum lugar, distrair a cachola?
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Entre Fórmulas, Sensações e Explosões
RomanceEm "Entre Fórmulas, Sensações e Explosões", conhecemos uma estudante de física dedicada e séria, cujo mundo racional é desafiado por dois pretendentes opostos. Oliver Martin, um entusiasmado estudante de gastronomia, irradia alegria e doçura, preenc...