- Patrício, 17 anos. Ex campeão de campeonato estadual de capoeira e parkour. – Gabriel diz lendo as informações em um tablet. Ergue os olhos para mim naquele penteado transversal e impecável. – Não podemos esquecer também que é um filho adotivo dos morros. – ele riu. – Tem como ocupação principal barman do próprio morro, um dos mais proativos e carismáticos. Principalmente com a clientela feminina. – ele assoviou.
Então ele se movimenta ao meu redor, a fim de me tirar alguma reação sabendo todas as minhas informações pessoais.
- Não só trabalha como Barman, como também enfrenta campeonatos de capoeira do submundo, conhecido pelos apostadores como o Trevo. – Gabriel soltou uma risada tão alta que senti meu corpo gelar. Odiava me sentir nervoso pelo desse desgraçado que quis socar a cara dele. Mas sua distância oscilava muito.
No entanto...
- Já terminou o seminário? – Bati palmas. – Parabéns, você deve ser o queridinho da professora que sempre chupa no fim da aula. E nunca vai saber se é mérito ou uma puta. – virei o rosto para encará-lo, bem do meu lado que nem vi. – Tudo isso pra contar minha vida, achei que fosse me revelar a suposta verdade sobre meu passado. VOCÊ É LOUCO, SEU IDIOTA?
Os olhos deles esbugalharam como se tivessem quebrado, mas os fechou após alguns segundos do choque, afastou um passo e aquela distancia parecia perfeita.
- Se não querem me matar, então me deixem ir.
- Você é idiota ou o que? Acabamos de falar que você foi sequestrado e mentiram pra você. – disse Caju, sem eu saber se aquela contorcida em seus lábios era um riso ou uma armação de rosnado.
- Ou a pancada que te dei. – disse, deixando meus pensamentos escaparem, mas arrancando mais um rosnado dele. Seu amigo, pirulito, segurou em seu ombro, como se o acalmasse.
- Vamos logo. – disse Gabriel. – Você vai saber a verdade. – ele já se virava como se imaginasse que eu fosse segui-lo.
- E se eu não quiser?
Quando ele virou o rosto para saber se eu disse mesmo aquela frase, foi o momento perfeito para meu tronco ir para baixo e minha perna girar em uma meia lua direto em sua cara.
E eu já estava pronto para enfrentar sem medo da morte, apenas com ódio de um adolescente metido querendo controlar a minha vida quando ouço o clique de uma arma e sentir o metal em minha testa, me paralisando ofegante e suado no mesmo instante. O garoto de moletom roxo que estava quase aproveitando para correr com minha distração, congelou. Eu não faço ideia de quem está controlando tudo como se tivesse poderes do tempo, mas com certeza deve ser muito mais forte que Gabriel.
Apenas desvio os olhos para as pernas da pessoa, o que me confunde por um momento, ao me deparar com pernas nuas e douradas, um par de botas negras, e subindo um pouco meus olhos, uma saia escura cor de vinho.
E quando ergo os olhos para cima, olhos afiados como a luz do sol no meu rosto me encaram de cima, debaixo de um chapéu fedora vinho Borgonha e roupas da mesma cor.
Sou escoltado de volta para a minha casa, meus familiares estão amarrados e suas bocas tapadas. Não pode ser, penso, passando na frente deles. Estas pessoas realmente me enganaram por todos esses anos? Em vez de me protegeram, estavam apenas me roubando?
Só não entendo o que eu poderia ter de tão valioso.
O balcão que antes seria colocado potes de café e copos, estava enfileirado de seguranças e ela no final, mexendo um liquido verde com a colher, sem me encarar.
Eu realmente nunca vi uma garota igual esta. E isso está me fazendo questionar seriamente se ela é tão barra pesada com trejeitos finos como de um Deus ou uma patricinha sonsa que se acha com um exército de garotos com algum bagulho doido no sangue.
- Patrício, o nome? – perguntou ela erguendo os olhos para Gabriel a sua frente, como se minha presença fosse invisível.
Essa diaba sonsa.
Seus olhos afiados desviaram para o lado e baixo, antes de erguê-los para abrir num suave sorriso. – Acho que o trevo se limita diante de mim.
Acho que Gabriel acabou de ser superado em quem é mais metido.
- O que querem de mim? Por que eu seria tão valioso? Não entendo.
- Vai descobrir se for com a gente. – ela propôs. – Nunca se perguntou porque eles nunca realmente mostraram do que você é capaz?
Franzo minhas sobrancelhas, querendo olhar para trás e perguntar a eles mesmo isso, mas sustento ela.
- Eles querem o ouro dentro de você só para eles. – disse, se levantando e me encarando diretamente nos olhos dentro daquele rosto triangular. Algo neles disparou um brilho sincero. Talvez só como uma mecha soltou do rabo de cavalo e emoldurou suas sobrancelhas negras em contraste com a pele alva.
- E vocês não?
Ela soltou um riso de asco.
- O que você é temos dezenas. – Ela disse. Mas revirou os olhos, estendendo a mão. Um dos seguranças pôs uma arma na mão dela, e ela esticou o braço diretamente para a cabeça dos meus pais.
- Te convencer é difícil. Além de ser muito teimoso e audaz, mas se tem mesmo um pingo de consideração por esses ladrões, acho melhor vir comigo.
Tão tentador, mas olhando para a carinha dela, tão traiçoeiro.
Antes de tomar uma decisão, ela sente um vento ríspido em seus cabelos com meu riso de asco.
- Tem dezenas de mim, mas ainda quer a mim. Só quem pensa assim são traficante. E muito provavelmente o que tem dentro de mim, deve ser uma cocaína poderosa.
Gabriel e os outros são como eu, nem chegaram a ameaçar minha família. Eu podia enfrentar muito bem eles, mas essa garota é cruel como eles, como aqueles assassinos do morro, mas esta, esta é afiada e fina como vinho.
Além do mais, o que falei para ela fez tanto sentido que, em vez de assustá-la, me assustou.
E quando menos esperei, estava adentrando uma das maiores casas que já vi na minha vida.
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Máfia do Sangue de Luz
RomancePatrício viveu uma vida de fuga junto de sua familia, até que um dia um grupo de soldados adolescentes mafiosos invadem sua casa e tentam levar ele, chefiados por uma poderosa jovem mafiosa chamada letífica. Sua família nunca revelou porque queriam...