Capítulo 1 - Patrício do morro de São Patrício

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Era uma casa nova. Nossa antiga havia sido roubada. Em meio aquela história toda de fulano foi na casa do irmão do fulano, eu entendi que alguém comprou essa casa o mais rápido possível e que o bom era por ela ser toda mobiliada.

Eu realmente não lembro como tudo começou. Pareço que sempre foi normal essa vida e só com o amadurecimento fui percebendo que minha vida não era normal.

Levei o ventilador para o quarto. Depois de um pequeno trabalho tentando fazer ele funcionar, dei uma olhada para a janela. Em meio aquele matagal todo, havia passagens pelos matos que passam dos meus ombros. Franzi o cenho para aquilo, me debrucei no peitoril e olhei direito. Suspirei e me afastei.

Me disseram que na primeira vez foi como se o mundo estivesse tremendo. O céu tinha sido tomado por várias luzes e estrondos. Explosões só sentiam seu impacto.

Fui para sala onde meus parentes conversavam sobre essa invasão maluca na nossa antiga casa.

Todas essas janelas abertas me davam paranoia. E o que será que o ser que comprou essa casa pensou ao morar em um lugar cercado de mato? Isso não facilitaria para os bandidos?

Me agachei para pegar a vassoura esquecida no chão quando ouço alguém.

- Olha ali, não é um?

Estranhei.

- Olha ali, mano, é um.

Arqueei uma das sobrancelhas. Estaria falando de um marginal? Mas com essa calma toda, ou ela estava tentando ser discreta?

Me levantei e vi. Era um carro vermelho. Em cima do porta luvas haviam pés descalços e se via uma cabeça um pouco para trás, cabelos grandes. Era uma mulher?

Não parecia ser alguém que fazia mal. Mas meu pai já estava com uma arma apontada. E me perguntei o que caralhos era aquilo que parecia uma vareta pintada de preto.

Me pus do lado dele e encarei a direção da mira.

Eles invadiram. O único adulto que eu enxergava era o cara, que descobri que não era mulher, entrando e se destacando pelo ar autoritário e nada trabalhoso. Ele tinha um sorriso de lado, roupas todas couradas e correntes.

O resto parecia estar no ápice da adolescência. Havia um garoto branco e loiro de cabelo Black Power que parecia ser o braço esquerdo do garoto de preto, com braços para trás e sério. Os outros pareciam tudo ter um ar desdenhoso nos mirando aquelas armas. Todas aquelas armas contra a do meu pai. Em algum momento conversando entrei si para os outros se espalharem, descobri que seus nomes eram Gabriel e Eliakim.

No morro onde morávamos não era anormal ver adolescentes mirando armas em qualquer canto que passasse, até crianças tinham as suas, mas estes, vestidos com essas roupas de combate, com essas habilidades de armamento, com certeza estava fora de tudo que já vivenciei nessa vida.

No segundo seguinte, a arma que meu pai segurava havia sido arrastada perto de mim, me levantei e olhei eles. Minha família estava sob a mira daqueles malditos.

Olhei para o lado e vi um garoto vindo em minha direção. Rapidamente, pequei aquela arma e mirei nele.

Ele riu:

- Você não tem coragem de atirar.

Fiquei com raiva nessa hora, por duvidar de mim. Mas eu realmente não iria atirar. E se eu fizesse, talvez seria o gatilho para aqueles malditos puxarem os deles e explodirem os miolos dos meus pais e minha tia.

Então, como se fosse um cassetete ou uma vara de vassoura, bati nele. Droga. Eu era bom naquilo. Muito bom que cheguei a me surpreender e pegar confiança rapidamente.

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