Cole olhava perplexo para mim enquanto Helena espalhava um monte de areia pelo cômodo. Depois, acendeu umas velas e as colocou em forma de pentágono. Parecia uma seita, e eu estava ficando com medo, entretanto, o olhar de Helena me acalmava um pouco. A última coisa que ela fez foi se sentar no meio do pentágono e fechar os olhos.
Cole colocou sua mão direita no meu ombro direito. Eu olhei para trás.
- Você sabe que não precisa fazer isso por mim, né? – Eu sei que não precisava. Mas eu queria. Precisar é diferente de querer. É a mesma coisa de querer uma guitarra ou sei lá, qualquer coisa inútil. Eu preciso? Não, mas quero.
- Eu sei, Cole. Mas você é o meu melhor amigo, e eu não vou te abandonar. – Coloquei minha mão sobre a mão dele.
- Você me conhece há 1 dia e eu já sou seu melhor amigo? – Eu tirei minha mão e fiz uma cara de brava. Cole apenas riu. – Brincadeira.
- Eu não te conheço há 1 dia, idiota. – Me virei para olhar para Helena, ainda com os olhos fechados. – E além do mais que...
- Dá para vocês dois pararem de conversar? – Helena abriu os olhos, com uma expressão feroz. Eu me aquietei e Cole também. – Fechem os olhos também, vocês vão sentir a transformação!
Revirei os olhos e cruzei os braços, me encostando na coluna mais próxima. Observei Cole e ele fechou os olhos e se sentou de pernas cruzadas no chão. É sério que eu teria que fazer o mesmo?
Fechei meus olhos e me concentrei. Para ser sincera, eu não sentia nada, só a mesma ansiedade de sempre. Tentei pensar nos meus pais, mas não queria reviver o trauma novamente. Abri os olhos e não percebi nada acontecendo, Helena e Cole ainda estavam nas suas respectivas posições e eu me tornava cada vez mais cética.
Não, eu vou tentar outra vez.
Me concentrei novamente. Meus pensamentos variavam entre animais fofinhos para morte e sangue. Era melhor pensar em animais fofinhos. Quer dizer, eu amava unicórnios quando tinha 8 anos. Ainda amo. Me fazem lembrar que o impossível pode ser possível, é só você imaginar. Pensei em coelhos, também. Coelhos brancos que me lembram de Teddy, meu primeiro animal de estimação que meus pais me deram de aniversário.
- Alex. – Ouvi a voz da minha mãe, não consegui abrir os olhos para vê-la.
Senti meus pelos se arrepiarem, e o barulho da chuva lá fora aumentava.
- Filha, isso é para você. – Minha mãe, jovem, os cabelos negros caindo como dominós, me entrega uma adaga dourada. A minha adaga. – É para você se proteger, para você ser independente.
Esse momento é o que eu mais me lembro da minha infância com a minha mãe. Significativo e reconfortante para mim.
- Isso aqui também. - Minha mãe me entrega Teddy, o coelho branco.
Mas o quê? Isso não foi no mesmo dia.
Ouço a chuva aumentar e ficar mais frio. De repente, estou na neve, andando sozinha. Chamo por alguém, mas ninguém escuta.
Ando pelo nevoeiro, colocando as minhas mãos sobre meus braços para me aquecer. Vejo sombras de cavalos e pessoas, e então corro para ver.
Os guardas reais, parados no chão, olhavam para Teddy, o coelho, de maneira estranha. Senti meu sangue ferver quando vi aquelas figuras. Minhas mãos alcançaram o galho mais próximo, e eu pude jurar vingança ali mesmo.
Até ver que Teddy, o coelho, na verdade era meus pais.
E eles estavam sangrando e pedindo por ajuda. Gritei o mais alto que pude, mas meus pulmões se enchiam de água. Não conseguia respirar.
Meu corpo se choca contra a neve.
Ouvi a voz de Helena no fundo, chamando por Cole.
- Nós ouvimos a chuva e a chuva nos ouve. – Ela pronunciava. – Deixe que nós sejamos livres e visíveis.
O momento foi tão rápido que eu acho que desmaiei. A única coisa que eu me lembro foi ter visto através das minhas pálpebras uma luz. Minhas forças se acabaram e eu me deixei levar. Por sinal, eu ainda sentia a neve molhada nos meus braços.
Meus olhos se abriram num súbito. Helena estava de joelhos na neve, e meus cabelos molhados. Em suas mãos estava um balde vazio, e sua cara era de assustada. Me perguntei onde estava toda a água.
Estava em mim.
Eu me vi na casa de Helena novamente. Voltei à realidade.
- Você ficou maluca?? – Disse, gritando com Helena. Ouvi uma risada, mas não era dela. – Cole?
Ele estava do meu lado, segurando um copo de água. Seu sorriso se iluminou quando seus olhos se encontraram com os meus. Percebi seu cabelo brilhando, mais ruivo ainda. Ele continuava meio pálido, mas agora eu conseguia ver suas veias e sua bochecha corando. Ele estava vivo.
- O feitiço funcionou!! – Ele abre um sorriso enorme, mais do que já estava, e eu respiro fundo. - Você tinha que ver sua cara quando acordou, parecia um cachorro molhado! – Cole dava várias gargalhadas entre as palavras.
- Eu não achei graça. – Provoquei, e então enxuguei a água dos meus cabelos.
Helena me oferece uma toalha branca. Pego, e me seco por inteira.
- Vamos, então? – Pergunto para Cole, mas Helena me para no meio do caminho.
- Opa, você veio até aqui e acha que eu faço feitiços de graça? – Sua expressão era fria. Nunca tinha visto ela assim, nem quando estava fazendo seu feitiço.
- Ah, desculpa. Quanto você quer? – Eu disse, enquanto tentava achar minha bolsa de dinheiro.
- Desculpa, mas, eu não trabalho com dinheiro.
Meu brilho sumiu.
- É o quê?
- É difícil de explicar. – Ela deu um sorrisinho. – Preciso... que me leve junto com você.
Meus olhos tremiam. Olho para Cole, mas seu rosto está virado para baixo.
- O quê? – Pergunto.
- Eu... bem, quando você mexe com magia é meio óbvio, mas eu descobri que você está indo para o Palácio Real. Eu... preciso ir com você. Preciso que me leve.
Fecho os meus olhos por um segundo, e minha cabeça se mexe para trás enquanto jogo meus cabelos para longe do meu rosto.
- Ok, Vossa Majestade. O que você quer em um castelo? – Brinco, olhando para os lados e depois me virando para Helena.
- Longa história.... – Ela cruza os braços e inclina a cabeça para o chão. Percebo sua feição mudando.
- É que... nós não temos espaço no cavalo. – Digo, tentando dar uma desculpa convincente. – Acredito que terá de procurar outra ajuda.
Ela me encara, friamente.
- Eu sei que está mentindo.
Passo a língua pelos meus lábios enquanto tento descobrir outra desculpa. Eu... não sei o que penso de Helena.
- O que você quer? Encontrar seu príncipe encantado? – Provoco, chegando mais perto. Sua altura é tão baixa que eu me sinto como aqueles gigantes que vivem na floresta das Trevas.
- Não um príncipe... na verdade. – Ela sussurra, tão rápido como a velocidade da luz.
- Como.....?
- Alex, deixe ela ir com a gente. – Cole segura meu braço. Sentir seu toque, agora ainda mais presente, me acalma.
Encaro Helena, e seu olhar é como um cachorrinho golden retriever abandonado na chuva.
- E... por que eu deveria?
- Bom, nós não pagamos ela, certo? – Seu sorriso como a neve se ilumina de novo, e eu cedo.
- Tá, beleza. – Grito, levantando os braços para a cima. – Mas, se me atrapalhar, eu juro que corto sua garganta.
Ela dá um gritinho animado, e me abraça.
- Obrigada!!! Mal posso esperar para ver todo aquele lugar lindo de pertinho!!!
- E não venha me encher com esses papos de aura e essas coisas do tipo, beleza? – Corri para a porta, enquanto Helena pegava sua bolsa e colocava pequenas garrafas dentro dela.
- Beleza! – Ela sorri, e pude ouvi-la cochichar para Cole que minha aura era vermelha, porque eu sou muito raivosa e intimidante, mas o amor existia em mim também. Não concordo com ela.
A chuva tinha parado, e o cheiro de enxofre invadia minhas narinas. Que lugar mais esquisito para se morar.
Miles estava parado, e relinchou quando me viu.
- E aí, amigão? Tomou muita chuva? – Me aproximo dele, fazendo carinho em seu queixo. Ele se afagou em mim, e eu abracei seu corpo. – Vamos para mais uma viagem?
Ouço os dois se aproximarem, e Helena tranca a porta de sua casa com uma chave antiga. Monto em Miles, e Cole reproduz o movimento.
- Eu...não sei montar em um cavalo. – Helena admite, e eu reviro os olhos.
- Vamos, princesa. – Ofereço minha mão. – Sabe mexer com magia mas não sabe subir em um mísero cavalinho?
Ela segura em mim, e então se assenta perfeitamente. Cole solta uma risadinha.
- Podemos ir, viajantes? – Pergunto.
- Com certeza. – Os dois pronunciam na mesma hora.
Eu certamente não esperava encontrar amigos. Quer dizer, Helena não é minha amiga. Só é uma conhecida que eu devo um favor gigantesco, e se esse for o favor, já me libera de um fardo.
Minhas mãos tremem enquanto seguro a guia de Miles.
Por favor, Universo ou Deus, não deixe nenhum dos dois me trair.
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The King's secrets
FantasiaEm uma terra totalmente imaginária, Alex tem seus pais mortos pela realeza. Sua fome de vingança faz sua história ser mais do que apenas um orfã: ela agora é uma sobrevivente. Conhecendo Cole, uma surpresa inesperada, os dois partem numa missão tota...