3 | MAGIA DO CAOS

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Ao adentrar o Palácio da Lua, os visitantes são recebidos por um saguão majestoso, onde a grandiosidade se entrelaça com a beleza refinada. As paredes, altas e imponentes, são adornadas por detalhes intrincados, entalhes em violeta profundo e prateado reluzente. O chão de mármore, polido a perfeição, reflete como um espelho todo o ambiente.

Os móveis, verdadeiras obras de arte funcionais, são dispostos com precisão milimétrica. Poltronas estofadas com tecidos luxuosos convidam à contemplação, enquanto mesas entalhadas exibem a linda madeira de cerejeira envernizada. No centro do saguão, um lustre majestoso, pendendo do teto alto, emite uma luz cintilante que se refrata em mil tons de violeta, iluminando o espaço com um toque de magia.

Aurora suspirou encantada e aliviada, estava fora do alcance dos perigos noturnos e poderia, enfim, repousar. A cabeça girava e a visão era turva, sentia o corpo perdendo as forças e uma pressão nas têmporas.

— Sente-se um pouco — Caleb tinha a moça apoiada em seus ombros.

Aurora afunda em uma das poltronas ofertadas pelo príncipe. Caleb e Damien se sentam à sua frente observando os movimentos lentos e um pouco desordenados da princesa.

— Não deveria usar sua magia nessas condições, Aurora. — Chamar a princesa pelo nome era tão íntimo que só um membro da família poderia fazê-lo. Caleb era um.

— Creio que esse não é o melhor momento para sermões — a voz de Aurora vacilava.

— Vou providenciar quartos para que possam descansar — disse Damien. — Darei comida e água aos cavalos também.

— Agradeço — ela suspira. — O que foi aquilo, quem era aquele homem?

Damien entrelaçou seus dedos, apoiando-se em suas pernas, prostrando seu corpo para frente mais perto da princesa. Cada movimento do príncipe mexia com Aurora, sua força estava subjugando ela sem que Damien percebesse, balançando seu campo de energia mágica e embaralhando sua aura. O olhar violeta encontrou os olhos dourados da princesa.

— Eu não sei ao certo, isso começou há pouco mais de um mês. Um burburinho surgiu das vilas do interior, algo estava fazendo com que os magos ficassem loucos.

— Loucos? — Perguntou Caleb.

— Sim. Ouvimos histórias sobre magos comuns que atacaram outros magos e mataram humanos, sem uma explicação. Não imaginávamos que a coisa fosse se espalhar tão rápido, em pouco tempo já estava por toda parte.

— Coisa? Que coisa? — Aurora se concentrava forças para falar.

— Não sabemos — respondeu frustrado. — É essa energia negra, ela parece consumir a magia e transformar em matéria escura e densa. Eu não acreditei quando vi mas... — hesitou — mas corrompeu metade do reino.

— Quer dizer que aquele homem costumava ser um de seus magos? — Caleb perguntou.

Damien assentiu, mordendo os lábios em preocupação. Os olhos piscaram algumas vezes até fitar Aurora novamente.

— Não sabemos com o que estamos lidando, nunca vi algo assim. — Damien se acomodou na poltrona, mas seu semblante transparecia desconforto. — Mas acho que pode ser algo grande.

— Como o que? — Qualquer coisa que estivesse nas entranhas de Aurora se revirou.

— Não tenho teorias ainda, mas está causando estragos por toda parte. Soube de uma tensão surgindo ao leste com os fadas, parece que alguns humanos quebraram o tratado invadiram suas terras. Dias depois, várias fadas apareceram mortas.

— Será que isso está relacionado com esses ataques em Astraluna? — O soldado mantinha os ombros tensos a postura rígida.

— Com certeza — disse o príncipe convicto. — Mas também acredito que tenha relação com o clima — pausou. — Soubemos da situação em Solarium, parece que a coisa está bem pior por lá.

— Sim — Aurora assentiu. — Há meses a neve cai sem parar, todos os dias a todo instante.

— Isso não é bom — reclamou o príncipe. — Eu ouvi histórias sobre uma força obscura, tão antiga que já estava no cosmos antes mesmo dos deuses.

— A magia do caos — ela completou instintivamente. — Também ouvi as lendas.

— São apenas histórias — Caleb resmungou.

— Eu também pensava assim... até eles invadirem Astraluna e matar todos.

— Você disse que — ela hesitou — o rei está morto.

— E a rainha também. Aquelas coisas invadiram o palácio e mataram todos, só eu consegui fugir.

— Então este lugar também não é seguro — Caleb protestou.

— Não há mais lugares seguros por aqui, mas eu fortifiquei a magia do lugar. Nada entra ou sai do solo sagrado se estiver impuro.

Caleb não parecia convencido, mas se deu por satisfeito naquele momento.

— Por que estão aqui, afinal? — O príncipe insistiu.

— Pensamos que Astraluna poderia nos ajudar de alguma forma — disse a princesa. — Estamos sem comida e as pessoas estão morrendo. Meu pai está desesperado e já não sabia mais o que fazer.

— Em outros tempos, ficaríamos felizes em poder ajudar o povo de Solarium, mas neste caso acredito que estamos todos no mesmo barco.

Aurora sentiu o peso do cansaço em seus ombros, então pediu ao príncipe um lugar para ela e outro para Caleb. Damien se prontificou a conseguir uma cama quente para ambos no mesmo instante. A princesa precisava de ajuda para se movimentar, e ao tentar mostrar um pouco de hospitalidade, o príncipe agarrou seu braço e apoiou o peso de Aurora em seus ombros. No entanto, a proximidade dos dois afetou ainda mais o campo energético dela.

No momento em que os dedos do príncipe tocaram a pele dela, uma onda de pressão inundou a Aurora. Seu corpo, já frágil, pareceu ceder sob o peso repentino, e ela escorregou dos braços do príncipe para o chão. A moça sentiu fortes dores de cabeça e um zumbido tomou conta de seus ouvidos.

No chão, ela se retorcia em dor física enquanto alguns flashes de luz desorientavam seus sentidos. Entre uma piscada e outra, Aurora podia ver uma sombra e olhos negros observando-a, como uma visão de algo que ela sentia familiaridade, mas não conseguia reconhecer.

Tomada por uma opressão mágica inexplicável, Aurora perdeu os sentidos e desmaiou.

LEGADO DO PODER | CAOS (VOL. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora