Oneshot

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Numa Londres de 1941, durante os incessantes ataques da Luftwaffe, um anjo e um demônio compartilhavam uma convivência peculiar. O intermitente rugir dos motores e as sirenes de alerta aéreo pareciam, de alguma forma, harmonizar-se com as estranhas motivações de Aziraphale e Crowley na Terra.

Um acontecimento inusitado na igreja, onde Crowley salvou Aziraphale e, por capricho das suas atitudes nada demoníacas, também preservou os raros livros antigos, algo que desencadeou um sentimento... inefável no anjo. Aliás, o demônio, apesar de sua natureza, havia direcionado uma bomba contra a igreja para salvá-los dos nazistas. Crowley, mesmo com seus óculos escuros, em meios aos escombros, percebeu o olhar de gratidão do anjo e, num gesto quase humano, ofereceu-lhe carona em seu elegante Bentley.

Dentro do carro, Aziraphale manteve os seus olhos fixos no sujeito que dirigia o automóvel com tanta negligência, mas, ao mesmo tempo, com cuidado para que ambos não fossem alvos do bombardeio.

"Foi muito gentil o que você fez por mim", disse Aziraphale que segurava a alça da maleta de livros no banco de passageiro.

"Cala a boca", Crowley, o mestre do disfarce, respondeu com sua costumeira rispidez, escondendo cuidadosamente qualquer indício de gentileza para evitar punições do inferno. Seu coração, no entanto, dançava uma valsa desenfreada dentro do peito, coisa que somente esse anjo conseguia inspirar.

Observar Aziraphale encontrar contentamento em sua ação altruística, trouxe uma satisfação desconcertante a Crowley. Aquela pequena brecha na fachada habitual do demônio revelava um emaranhado de emoções, um resquício do divino num universo aparentemente profano.

Aziraphale, com sua serenidade peculiar, rompeu o silêncio tenso. "Deve haver algo que eu possa fazer por você... em troca." As palavras pairaram no ar, em um tom que o demônio interpretou como luxurioso e isso o enlouqueceu.

Como Aziraphale poderia se comportar de maneira tão lasciva sem filtrar a pureza de um ser angelical? Tanto que Crowley obstinou na dúvida se aquilo foi um flerte ou o anjo citou a pergunta despretensiosamente, como com certeza ele faria. Mas era tarde demais, pois o pênis do demônio começou a se enrijecer sob os tecidos da sua calça de alfaiataria, lutou para evitar isso.

Crowley sempre notou esses sinais sutis de flerte vindos do Aziraphale com o passar do tempo. Durante a Roma Antiga, cerca de 50 d.C, o anjo vestia uma túnica de linho fino, branca e que evocava sua pureza angelical. O calor desse lugar era tão palpável quanto os clamores dos mercadores e o aroma de azeitonas frescas e vinho. Contudo, quando o demônio se aproximou do loiro que conversava com o vendedor de pergaminhos, pôde notar ele te mirando com um sorrisinho delicado e deixando cair "acidentalmente" a manga da veste para exibir seu ombro.

Mas essa proposta libidinosa dentro do Bentley foi tão abrupta quanto direta.

Crowley ficou tão nervoso com a situação que esterçou o volante rapidamente e virou o carro de forma brusca para que Aziraphale não notasse a sua ereção. Naquele crepúsculo de eventos inusitados, o demônio, com um toque de descuido travesso, transportou garrafas de uísque até o teatro Windmill, um plano malogrado desde o início, pois, como se por um capricho do destino, todas se estilhaçaram dentro da mala durante um bombardeio tão súbito quanto inesperado.

Sim, lá estava ele, o demônio, sacrificando inconscientemente o próprio empreendimento, um gesto de altruísmo para salvar os interesses daquele anjo, seu improvável companheiro.

E Aziraphale, cuja essência era tecida de gentileza e uma empatia quase
tangível, ofereceu-se, em um gesto de gratidão, para tecer truques de mágica, uma compensação pelos reveses sofridos por seu amigo. Não era a retribuição que ele havia imaginado, mas, em sua mente, ao menos afastaria as maquinações do céu ou do inferno. No entanto, um detalhe lhe escapava naquele momento, uma sombra se aproximando em seu rastro: zumbis nazistas, enviados pelo astuto Furfur, estavam em sua perseguição. Tal evento pode ser descartado em prol do fato de ambos estavam vislumbrados com a presença um do outro, com os corações que aceleravam amiúde.

Guimmick {aziracrow}Onde histórias criam vida. Descubra agora