Romance No Mar - Bea Duarte

"Mar"

Bea havia acordado cedo naquela manhã e passara o dia inteiro se preparando para gravar o clipe do seu mais novo hit: Mar.

Inicialmente, Bea achara que "Mulheres que correm" seria sua música de mais sucesso do álbum, se enganou quando "Mar" estourou nas redes e o Brasil inteiro cantava aquele refrão marcante:

Eu duvido que eles
Iriam querer nadar
Contra a correnteza
Bem aqui no meu lugar
Se eu tivesse no seu barco
Nunca iria encostar na água
Mas a gente não ta nem no mesmo mar.

A música foi ouvida tantas vezes que todos aqueles que não a conheciam, passaram a adorar o trabalho. O que, sem dúvidas, deixou Bea feliz. Mas o que seria de um hit sem um clipe, não é mesmo?

Bea acabava de se preparar na van, quando uma pessoa de sua equipe trouxe a trágica notícia:

- Bea, não nos deixaram gravar aqui. Vamos ter que adiar as gravações.

- Adiar? Não, não, não. Nós vamos procurar outra praia, nem que isso leve o dia todo, mas a gente vai grava hoje!

Adiar. De maneira alguma as gravações seriam adiadas! Ela não podia esperar mais. Aquilo já virara seu principal objetivo desde que a música tomou uma grande repercussão nas mídias.

Por fim, encontraram uma praia onde poderiam gravar sem que tivessem problemas.

As câmeras foram posicionadas, as luzes estavam no ângulo certo e o piano já estava na areia. Bea tinha seus belíssimos cachos ruivo natural molhados, maquiagem e roupas já em seu corpo. Agora era só gravar e...

- para! para tudo! - falou um dos câmeras - não tem como gravar com aquela mulher no fundo - apontou ele para uma mulher que se divertia nas águas do mar.

- acho que ela não atrapalha - dizia Bea, sem tirar os olhos da mulher que parecia alheia ao que acontecia. Ela parecia feliz.

- Atrapalha, sim! Não dá para gravar com ela lá. - ele fez sinal para um outro câmera - Lucas, vai lá falar com ela.

Bea levantou da banqueta, ajustou o vestido molhado no corpo e falou antes de sair:

- Não. Deixa que eu vou lá.

Ninguém a retrucou, afinal era a Bea. Quando se interessava por algo, ninguém a parava.

- Oi! - falou, com a voz um pouco mais alterada para que a mulher pudesse a ouvir bem.

A mulher, que até então estava de costas, virou-se para encarar quem a chamava.

Uau! Pensou Bea assim que visualizou o rosto da mulher. Ela era linda! Tinha em média uns vinte e cinco anos, cabelos lisos em um corte curto que a deixava ainda mais atraente. Em seus lábios, um sorriso se formara, comprimindo os olhos pretos dela e deixando marcas de covinhas nas bochechas.
Ela sem dúvidas estava feliz.

- desculpa incomodar - disse Bea quando recordou-se do porquê de estar alí - minha equipe e eu estamos gravando um clipe e precisamos ter uma visão ampla desse lado da praia. Teria como você esperar um pouco daquele lado até a gente terminar?

A mulher nada respondeu, apenas fitava Bea com um certo interesse.

- Ei, eu te conheço! Você não é a mulher que canta "Lilith"?

- Sou eu mesma - riu - Bea Duarte, prazer - estendeu a mão para cumprimentá-la.

- Sou Clara. Clara Castilho, muito prazer. - Clara segurou a mão estendida de Bea, sentindo a palma gelada da mulher - e respondendo à sua pergunta: sem problemas. Eu já estava de saída mesmo.

- Não precisa ir! Nós vamos ficar pouco tempo. Uns vinte minutos, no máximo.

- Eu realmente estava de saída. Vou parar para tomar um café e voltar pro meu apartamento.

- Bom, nesse caso, deixa que eu pago o café. Pode esperar até a gente terminar?

Clara pensou um pouco, mas logo seus lábios formaram um pequeno sorriso.

- Seria ótimo tomar um café com você. Mas prefiro te esperar na lanchonete alí do lado - ela mostrou a Bea onde ficava o lugar.

- Como quiser. Então te vejo lá, Clara Castilho.

- Até mais tarde, Bea Duarte.

Clara saiu da água, deixando Bea para trás.

- Bea!

Duarte olhou para trás e encarou seu câmera acenando para ela voltar.

As gravações do dia foram finalizadas e, apesar de satisfeita com o resultado, Bea não tirava Clara da cabeça.