Bea adentrou a casa quando a mãe de Clara se apresentou formalmente e abriu passagem para elas entrarem. Claro que Beatriz estava nervosa, mas não deixou isso transparecer em seu rosto enquanto sorria educadamente ao conversar com os sogros.
- Então, Beatriz... - começou a matriarca
-Me chame de Bea, por favor.
- Então, Bea, o que você faz além de cantar e tocar muito bem? Você tem algum hobby?
Bea sorriu ao ouvir o elogio que a sogra fizera. Ela era muito mais simpática do que o pai de Clara, que estava de cara fechada desde que elas entraram.
- Eu gosto muito de ler, ouvir músicas... As vezes os dois juntos. Eu faço danças de pole dance e natação.
Bea não deixou de notar o rápido olhar que os pais de Clara deram quando ela falou "pole dance". Berenice apenas sorriu sem mostrar os dentes.
- eu também adoro ler. Que tipo de livro você gosta mais?
Não fale bruxaria! Não fale bruxaria!
- Gosto muito de mitologia.
Berenice pareceu pronta para falar mais alguma coisa, mas um barulho na cozinha chamou sua atenção. Clara devia estar quebrando a cozinha inteira naquele momento.
Beatriz se aprontou para ir até lá, mas Berenice a conteve e saiu para ver se estava tudo bem com a filha. Lúcio, pai de Clara, a encarava de um jeito muito estranho.
Ao contrário da esposa bem vaidosa, que pintava cada fio de cabelo branco que aparecia e estava sempre bem arrumada, Lúcio era um típico homem de cinquenta e tantos anos que não se importava nem um pouco com sua aparência física. Ele tinha a testa enrugada de tanto pressionar as sobrancelhas grossas e grisalhas, cabelos que já estavam perdendo a cor castanha e uma típica barriga de homem alcoólatra. Sem contar no bigode acima de sua boca da mesma tonalidade das sobrancelhas.
Ele não falou uma palavra desde que chagaram. Apenas se sentou na cadeira de balanço de madeira e encarou cada centímetro de Beatriz. Até que se inclinou para frente e proferir as seguintes palavras:
- Bem vinda a família, menina.
Foi um pequeno choque para Bea ouvir aquilo. Nem em mil anos ela imaginaria que aquelas palavras pudessem ser ditas por aquele homem.
- Obrigada, seu Lúcio.
- Só me chame de Lúcio. - bea assentiu - vou lhe contar uma coisa, menina: Quando a clarinha saiu do armário, como vocês dizem, eu não quis aceitar. Fui criado assim, e para mim o certo era homem e mulher. Mas quando ela chegou aqui toda feliz contando sobre você e dizendo para quem quisesse ouvir que estava namorando uma cantora, eu vi que errado mesmo é privar as pessoas de serem felizes com quem elas amam. - ele recostou-se na cadeira e prosseguiu - quando ela me disse que você não come carne... como que chama? Ah, sim! vegana. Quando ela disse que você é vegana, eu me senti meio triste, porque eu sou filho de pais gaúchos que adoram carne. Mas se você é quem faz minha princesinha feliz, eu faço até churrasco vegano se você quiser. E não precisa se preocupar com esse negócio de religião não, viu?! Aqui a gente respeita todo mundo que respeita a gente.
Bea sentiu seu coração se encher de amor ao ouvir as palavras. Seus olhos se encheram de lágrimas de felicidade por finalmente ter encontrado amores onde ela não se sentiria só. Ela não sabia o que falar, então fez um pedido:
- Seu... Lúcio - corrigiu-se - posso dar um abraço no senhor?
Ele levantou da cadeira quase que num pulo e a abraçou. Ele era um pouco menor do que Bea, mas tinha um abraço muito caloroso e cheio de carinho.
- Olhe aqui, menina. Você agora é uma filha nossa também. E vamos logo marcar esse casamento, hein - a risada dele puxou um sorriso sincero de Bea.
✧✧✧
Seis anos se passaram desde aquele dia e tanto os pais de Clara como os de Bea, principalmente a mãe dela, estavam felizes com a união das duas.
Bea tinha lançando mais um álbum naquele ano e Clara lançou seu novo livro que fez um enorme sucesso. Elas finalmente estavam em paz com tudo. E conforme o relacionamento das duas se fortificava, Bea tinha ainda mais certeza de que queria viver com aquela mulher pelo resto de sua vida.
Tudo ocorreu conforme o plano: Bea convidou Clara para irem à praia onde se conheceram, no dia do aniversário de namoro. Para Clara era apenas um passeio para comemorarem mais um ano, mas então a surpresa veio quando Bea a puxou para dentro da água, a beijou e mostrou uma caixinha preta em mãos. Surpresa e felicidade estavam estampados em seu rosto quando Bea abriu a caixinha e um lindo anel dourado apareceu.
- Não vou me ajoelhar, nem nada disso - começou Bea - eu só quero te falar que eu amo você e todos esses anos que passamos juntas só me deu a plena certeza de quero passar uma vida inteira com você. Clara, quer casar co...
- Espera, espera. Quero te mostrar uma coisa antes.
Clara levou a mão ao bolso do shorts que estava usando e puxou uma pequena caixa. Abriu e um anel prateado brilhou na luz do pôr do sol. Ambas riram da coincidência e Clara disse:
- Sabe, eu poderia viver quinhentas vidas, mas sem você elas seriam chatas e cheias de erros. Cometi muitos desses erros nessa vida, mas, Bea Duarte, você é o meu maior acerto. Não sei se conseguiria viver em muitas outras vidas sem te conhecer, mas pode ter certeza de que eu passaria cada uma delas te procurando.
- Se a reencarnação for real, essa é minha melhor vida. Você a fez ser melhor, Clara Castilho. E eu te amo muito por isso!
- Quer casar comigo?
- Quer casar comigo?Elas fizeram o pedido em uníssono e o universo pareceu ter ouvido. Os pássaros voavam e cantavam no alto; o Sol estava se pondo e todo o seu esplendor se espelhava nas águas calmas do mar, enquanto a brisa leve cobria tudo ao seu redor, levando o cheiro salgado do mar a quem estivesse por perto.
Anéis foram postos em dedos e uma promessa foi selada com um beijo doce em meio ao mar salgado que lhes cobria da cintura para baixo.
Uma vez juntas por amor, nada nem ninguém as separariam.
Fim.
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Romance No Mar - Bea Duarte
FanfictionBeatriz Duarte Leme, mais conhecida como Bea Duarte, gravava o clipe da sua nova música "Mar" na praia. Uma mulher que não parava de aparecer nas filmagens, chamou atenção de Bea. Fic não autorizada pela Bea, mas espero que ela autorize!