03.

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NITARA COLOMBO

Eu estava sentada no sofá da casa da Cristina e eu sentia o olhar do Héctor queimar o meu corpo. Eu estava tomando vinho tinto e seco igual a todos. A minha ex-sogra estava contando sobre as merdas que o Héctor fazia quando era criança e mostrando fotos dele e da Isis quando era mais novos.

— O Héctor tinha maior cabeção. — Lilith disse. Nós rimos e o meu ex-namorado resmungou, dizendo que isso era bullying.

— Mega mente ou cabeça de nós todos? Fica a dúvida. — Xavier brincou. Eu gargalhei e o Héctor me encarou com os olhos semicerrados. Eu ergui a minha sobrancelha na direção dele.

— Vocês sabiam que a Nitara nunca reclamou da minha cabeça grande? — o moreno perguntou no duplo sentido. Se isso fosse um desenho animado, os queixos de todo mundo, exceto do Héctor, estariam lá no chão e os nossos olhos estariam fora do lugar.

O silêncio ficou extremamente desconfortável até a Isis interrompê-lo com uma música aleatória.

— Se o Papa fosse mulher... — a morena enfatizou. Eu me segurei para não rir. — O aborto seria legal.

— Peca. Pe-pe-ca, pe-pe-ca, goza, peca sangra. — Lilith continuou. — Feminista, rainha do tanque.

— Tanque de guerra... Anti-dominante. Vem anarquizar, assuma o seu corpão. Gorda, magra e média não precisa ser padrão. — Isis continuou. Héctor enrugou a testa, ofendido, ao perceber que os seus pais começaram a prestar atenção interessados nas meninas ao invés de prestarem atenção no que ele falou.

Isso! Ponto para mim, bebê. Nitara um, Héctor zero.

— Nossa, filha... Só falta cortar a franja que você se tornará um projeto de feminista. — Xavier opinou. Eu prendi uma risada pela quebra de expectativa e respirei fundo. Héctor estava igual a mim, mas quando nós nos entreolhamos, ambos fecharam a cara e reviraram os olhos.

Eu hein. Moleque esquisito.

Eu amo que influenciei todos esses espanhóis ao meu redor com o jeitinho brasileiro. Na época que eu e o Héctor namorávamos, ele adorava isso, mas parece que hoje em dia odeia tudo que lembre a minha pessoa a ele. Tanto faz também. Sei o quanto eu sou inesquecível.

— Papai, apesar de eu ser bissexual, eu não sou feminista. — Isis respondeu o pai dela. Xavier enrugou a testa confuso e encarou a filha dele.

— Não? Eu pensei que esse cardume de pessoas bissexuais e lésbicas fossem feministas também. — Xavier disse reflexivo. Engoli em seco e respirei fundo, tentando me equilibrar para não soar um pouco preconceituosa.

— Sim. Eu e a comunidade LGBT somos peixes. — Isis respondeu bem humorada. Ainda bem que ela levou como piada. Com isso, todos se permitiram a rir.

Isso facilmente estaria em um episódio de The Office.

Um lâmpada na mente do Héctor pareceu acender em cima de sua cabeça, entretanto esse era o tipo de momento em que eu sentia medo pela merda que ele estava pensando. Sempre era uma merda catastrófica. Eu o conhecia tão bem que sabia sobre isso.

— Mamãe, vamos jogar algum jogo de tabuleiro! Talvez um uno também... É uma boa. — Héctor sugeriu. Cristina abriu um sorriso de orelha a orelha e deixou um beijo na testa do menino, enquanto eu fuzilava-o com os olhos. Ele sabia que eu era extremamente competitiva.

— Essa é a primeira vez que você fala algo que presta dentro de meses, meu filho! Que orgulho! — Cristina disse orgulhosa. Eu prendi uma risada por isso também. — Vamos jogar uno e depois jogaremos Just Dance, pode ser?

exmas, hector fort.Onde histórias criam vida. Descubra agora