Ultima noite

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"Uma noite pra viver tudo
Uma noite acordados
Uma noite pra roubar um banco
Rasgar a roupa apaixonados
Uma noite depois noite
Em que a gente termina
Nosso pacto, a última noite
E a melhor de nossas vidas
Uma noite no alto de um prédio
Vendo a cidade por cima
Nós somos mesmo tão pequenos
Isso é a coisa mais linda
Uma noite de supernova
Pois da morte vem a vida
Uma noite pra sua loucura
Que você guarda embaixo da língua
E eu vou correr tão rápido
O vento no meu rosto
Me secando o choro tão envergonhado
Vem do meu lado
Num beijo a gente esquece
O porquê a gente deu tão errado
A mais bonita das despedidas
A melhor noite das nossas vidas
Uma noite pra correr no carro
Uma noite pra ver Deus
No seu olho, no joelho
No seu cabelo embaraçado ao meu
Uma noite pra você rir
Eu vou te abraçar tão bêbado
Sua mão dentro da minha calça
Me faz graça e esquece o medo
E eu vou correr tão rápido
O vento no meu rosto
Me secando o choro tão envergonhado
Vem do meu lado
Num beijo a gente esquece
O porquê a gente deu tão errado
A mais bonita das despedidas
A melhor noite das nossas vidas
Uma noite com a certeza
Que fizemos tudo errado
E a liberdade do abandono
Do futuro e do passado
Sem qualquer destino
Sem qualquer garantia
Minha única promessa é que essa noite
É a melhor das nossas vidas
E eu vou correr tão rápido
O vento no meu rosto
Me secando o choro tão envergonhado
Vem do meu lado
Num beijo a gente esquece
O porquê a gente deu tão errado
A mais bonita das despedidas
A melhor noite das nossas vidas"


ULTIMA NOITE


Três anos tinham se passado desde que saí de Paris, tudo tinha sido tão repentino que eu nem me despedi daquelas pessoas. E agora eles estavam ali, por mim.

Caminhei pelo convés com um misto de tristeza e alegria, tudo estava igual, e ainda assim eu me sentia deslocado. Era uma sensação gelada na boca do estômago, como se algo me lembrasse constantemente que aquela não era mais minha casa, não era meu lugar, mas as pessoas, aquelas, ainda eram minhas amigas, e conversavam comigo como se eu fosse o mesmo cara que tinha ido embora a três anos, como se tivessem me visto na semana passada.

Era estranho ver como a vida tinha seguido para eles, a maioria já no final da faculdade, alguns morando juntos, empolgados com o bebe a caminho, outros namorando pessoas diferentes, mas todos reunidos ali, no Natal, para me ver. Todos, menos uma pessoa.

Quando a madrugada chegou e os pratos esvaziaram, depois que a louça estava lavada, presentes abertos e um a um eles começaram a se retirar, em diferentes estados de embriaguez, puxei Marinette para um canto, para que pudéssemos conversar a sós.

Marinette era a pessoa com a qual eu mais conversava nesses anos longe. Acho que existe um vínculo quando você namora o cara por quem sua ex é apaixonada, e ela não me julgava por ter feito aquilo às escondidas. Mari entendia muito bem de segredos, e agora eu quase não tinha segredos com ela.

— você está desapontado porque ele não veio? — ela perguntou, sem rodeios.

— não. Eu não esperava que viesse. Não é como se tivéssemos nos falado alguma vez desde que eu fui embora.

— eu achei que ele viria, sabe, pelos velhos tempos. Você em NY, Nino está se mudando, Milene grávida, ele mesmo mora longe agora. É um milagre que todos nós estejamos na cidade ao mesmo tempo.

— é Natal. Sempre terá outros natais pra reunir todo mundo.

— não, esse Natal é diferente. A maioria de nós se forma no próximo ano, e isso quer dizer mais responsabilidades, trabalhos diferentes, vidas diferentes. Esse Natal é um marco. Nosso último Natal antes de sermos de fato adultos com responsabilidades, e ele não está aqui.

Amor PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora