Capítulo 01

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Amber

Bêbada, cansada, jogada no topo de uma colina ao lado do meu melhor amigo. Deve ser por volta das seis da manhã, raios de luz começam a surgir no horizonte, pintando o céu em tons de rosa e laranja. Olho para Khalil e seus olhos estavam meio abertos com um sorriso bobo, efeito do álcool, assistindo o nascer do sol do começo da melhor estação em meu reino, a primavera.

– Você sabe que temos que voltar antes que meus pais percebam que eu sai para beber com você na noite antes da cerimônia, não é? – levanto minha cabeça que estava encostada no seu ombro.

– Eu seeei, agora fique quieta e me dá um segundo para tentar levantar sem sair rolando pela colina. – falou zombando de si mesmo, misturando uma risada com uma leve tosse, pela garganta seca.

Levanto primeiro me equilibrando na grande árvore que estávamos encostados, puxando Khalil logo em seguida, que se jogou em cima de mim como se fosse um bebê.

– Eu falei para não misturar hidromel com ópio. – disse tentando equilibrá-lo enquanto ele murmurava palavras aleatórias e incompreensíveis. O encosto na árvore e observo sua cara de quem está com a mente em qualquer lugar, menos aqui.

Khalil está com os olhos fechados e a cabeça inclinada para trás, claramente quase dormindo em pé, patético na minha opinião. Penso em o que vou fazer para acordá-lo de vez. Dou um tapa nele. Ele resmungou feito uma criança. Então o bati de novo, com mais força. Dessa vez arregala os olhos e fala:

– Você pretende me bater até eu ficar sóbrio?! – Perguntou com o cenho franzido e um olhar indignado em minha direção.

– Pretendo te bater até conseguir ficar de pé sozinho! – Exclamo fortemente – Preciso voltar para o castelo Khalil, ninguém pode saber que eu saio escondida nas madrugadas para beber com você em um bar qualquer. – Respondo, e vou o soltando aos poucos.

Quando percebo que ele está bem o suficiente para me acompanhar o puxo em direção a descida da colina, ainda tomando cuidado para ele não tropeçar e despenquemos até a rua. Eu observava a cidade enquanto descia a pequena inclinação, era linda. Os tons de laranja ficando cada vez mais claros conforme o sol ia subindo pelo no céu davam um contraste com os coloridos jardins espalhados por toda a capital. Claro que já havia comtemplado minha cidade anteriormente, mas era primavera agora, Aerith ficava mil vezes mais bela. Paro de andar bruscamente quando meu amigo estala o dedo na frente de meu rosto.

– Você estava me ouvindo? Sinceramente Amber, as vezes me pergunto se você realmente gosta de mim ou apenas me aguenta. – Perguntou negando com a cabeça enquanto me olhava, e voltando a andar.

– Eu apenas o aturo. – Brinquei e ele me enviou um olhar indignado levando sua mão ao peito. – É que tenho pena de você sabe? Se não for eu para ser sua amiga, ninguém será. Você é um chato! – Digo me segurando para não explodir em risadas de sua cara pasma com minha fala. Mas não durou muito tempo pois depois de alguns segundos encarando um ao outro caímos em risadas estrondosas.

– Você consegue ser uma vadia de vez em quando. E aliás, saiba que sou eu o sociável da nossa relação, seu único amigo de verdade desde os seis anos.

– E você esqueceu que eu tenho dois irmãos mais velhos – ressaltei o olhando com sobrancelhas levantadas e um sorriso patife.

– Seu irmão está muito ocupado tentando se tornar o próximo governante perfeito, e sinceramente, sua irmã é meio esquisita não acha? E não venha com essa, irmãos não contam como amigos – me rebateu fazendo uma expressão orgulhosa, como se tivesse ganhado uma competição ou algo do tipo.

Caminhando pela rua do comércio, noto os mercadores chegando aos poucos, alguns já abrindo suas lojas, os artigos eram variados. Tecidos exóticos, peles, sedas. O cheiro de especiarias, frutas, legumes e temperos diversos, colorindo as barracas ao meu redor. Com os pés doloridos e fedendo a álcool, apressei o passo com Khalil reclamando de minha rapidez repentina, provavelmente tinha tantos calos nos pés quanto eu.

Passando pelas pessoas que se amontoavam, ouvi uma voz feminina alta e vibrante a minha esquerda, só poderia ser a única a estar com tamanha energia nessa hora do dia.

– Bom dia Dona Vera – disse acenando para a senhora de cabelos grisalhos presos em um coque bem feito. Com seus olhos de cor de mel que expressavam bom humor.

– Bom dia vossa alteza! – Abrindo um sorriso doce – O que a princesa estaria fazendo na rua do comércio tão cedo assim? Achava que um dos privilégios de ser da realeza era dormir até um horário mais preguiçoso.

Dona Vera era muito querida por mim, me tratava como se eu fosse sua filha, sempre que estava na cidade eu passava em sua loja para dizer um oi e dar um abraço. Acho que todo esse afeto que adquiri foi por causa de seu jeito gentil e excêntrico com tudo e todos, e claro que também pelo fato de ela nunca ter me dedurado para os guardas da realeza quando me pegava fazendo algo que eu não deveria.

– Bom, não conte a ninguém, mas eu meio que dei uma escapadinha ontem a noite com Khalil – respondi retribuindo o sorriso.

– Por que vocês dois sempre estão se envolvendo em problemas? – disse dando a mim e Khalil um olhar reprovando nossa atitude – Oh, mas vocês estão fedendo a como bêbados da esquina.

– Isso deve-se ao álcool ainda presente em nós – Khalil com uma cara besta.

Pude sentir seu olhar julgador mesmo que soltando um riso ao olhar em nossas caras acabadas.

– Não seria nesta manhã que a elevação dos melhores jovens espadachins para aquele grupo especial da rainha?

– São os Espinhos de Aço, e nossa princesinha aqui conseguiu ser a mais nova entre os jovens que entraram esse ano. – Khalil enfatizou.

– Tenho treinado desde os doze anos, para ficar boa o suficiente para minha mãe me aceitar no grupo sem que pareça ter sido "apenas porque sou princesa". – Disse fazendo aspas com meus dedos e revirando os olhos, bufando logo em seguida.

– E que ótimo jeito de mostrar responsabilidade a rainha se não passando a noite na farra e chegar atrasada para sua cerimônia. – Dona Vera se levanta, indo atrás da barraca, volta com duas xícaras em mãos – Peguem vocês aqui, tomem isto e ficarão mais apresentáveis para o evento. – Um líquido escuro e morno. Café, com algumas especiarias, receita da própria Dona Vera. Simples, mas nesse momento um salvador de vidas, da minha com certeza. Estava amargo e desceu aquecendo minha garganta. Olhei para Khalil que torcia a boca e apertava os olhos, eu sabia que ele odiava café amargo, mas nesse momento qualquer coisa para nos tirar desse estado deplorável.

Em quanto botávamos para dentro aqueles amargues, Dona Vera pegou uma garrafa de vidro cheia com água gelada, gotículas escorriam pelas laterais refletindo a luz do sol, que subia cada vez mais alertando o tempo passando e como nós já deveríamos estar no castelo pelo menos.

– Agora hidratem-se – após esvaziar as xícaras, cada um de nós começou a dar grandes goles de água diretamente da garrafa, A sensação da água descendo, posso sentir chegar em cada parte do meu corpo que gritava de secura. Me senti menos acabada, estava me espertando um pouco mais a cada gole. Santa seja Dona Vera!


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Um capítulo mais introdutório pra vocês, hoje vou postar 3 capítulos, fim de semana posto mais! Não esqueçam de votar!! 


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