〈2/0〉

249 22 10
                                    

C a p í t u l o 2 ⤏ Tenho uma surpresa para ti.


Naquele instante, senti uma pitada de medo e outra de terror a invadir o meu ser. Aquilo não podia ser mentira. Como é que ela ia adivinhar tal coisa? Aquilo era um programa em direto, não havia maneira de fazerem uma montagem. Eles não iam simplesmente brincar com coisas tão sérias como um sismo. A minha mãe voltou a mudar de canal, e tudo o que nós víamos era um cenário de puro desespero, pânico ao mais alto nível, destruição por toda a parte. Era pura e simplesmente horrível. A imagem era tremida, a jornalista tentava relatar o acontecimento enquanto também lutava para se manter em pé. Por trás dela havia pessoas a correr de um lado para o outro em pânico, e edifícios a desmoronarem-se como se tratassem de construções de papel.

- Mãe...? Achas que é verdade? - Ela sabia sempre detetar as mentiras, fosse sobre o que fosse. Ansiei que a sua resposta fosse não e que me dissesse que estava tudo combinado, mas nem ela acreditaria nisso. A minha mãe, que é uma pessoa que já viu de tudo a acontecer diante os seus olhos, apresentava uma expressão tão assustada quanto a minha. Estaria, de facto, o fim do mundo a chegar? Seria desta que iríamos todos morrer?

- Cassia, minha querida... Está tudo bem. Vai ficar tudo bem, meu amor. - Não que a minha mãe não fosse pessoa de demonstrar os seus afetos e de me tratar por nomes mais carinhosos, mas tê-la a tratar-me por meu amor fazia com que tudo parecesse ser muito mais sério. Depois de um breve suspiro, ela levantou o seu braço e rodeou o meu corpo com o mesmo, puxando-me melhor para si. As pequenas carícias que fazia no meu braço faziam com que eu me arrepiasse, mas mesmo assim ela não parou, e não pararia mesmo que eu lhe pedisse.

- E se não passar de uma mentira? E se for tudo combinado? - A minha cabeça estava feita num oito. Por um lado eu acreditava no que tinha acabado de ver no nosso televisor, mas ainda havia uma parte de mim que desconfiava de tudo. Já passámos por tanta coisa deste género, que já não me admirava nada.

- Não me parece, filha. Eu compreendo as tuas dúvidas, mas digo-te que isto não é farsa nenhuma. Dois dos melhores canais de todo o mundo não iriam deitar tudo a perder só por causa de uma senhoreca que afirma que o fim do mundo está para breve. - A mãe suspirou pesadamente e manteve o olhar no canal de notícias. O sismo era de tal forma violento que, quando eu voltei a olhar, já tinham perdido o contacto com a jornalista. Desviei o olhar quando a câmara caiu ao chão e mostrou, em direto, os vários cadáveres que ali estavam. Incluindo o da jornalista, que era a que estava mais perto.

- Credo... - Murmurei, com as lágrimas nos olhos. Só quando a minha mãe se apercebeu do quão aquilo me estava a afetar é que foi capaz de mudar de volta para o canal onde Rosemary ainda se encontrava sentada e com o seu ar sério e sereno. Já o público... Algumas senhoras tinham saído de lá, e outros estavam completamente assustados. Estávamos todos...

Acabei por me levantar do sofá num movimento rápido e brusco, desfazendo-me do meio abraço e dos carinhos que a minha mãe me dera sem aviso prévio. Massajei as têmporas, como se isso ajudasse a resolver a confusão em que a minha mente se encontrava, e depois levei uma das mãos a uma mecha de cabelo, ajeitando-a. Por breves instantes, o meu olhar cruzou-se com o da minha mãe e eu pude entender que ela estava confusa com as minhas ações, mas também preocupada. De facto, eu não sabia o que fazer e estava a começar a sentir-me entrar em pânico. Precisava de sair de casa o quanto antes.

- Mãe, acho que vou sair um pouco. Arejar, refrescar as ideias, ou pô-las em ordem. - Encolhi os ombros e os meus lábios curvaram-se ligeiramente, formando uma espécie de sorriso. Precisava mesmo de dar uma volta, de preferência sozinha, e pensar no que tinha acabado de ver. Pensar naquilo que podia estar para acontecer.

SALUTEOnde histórias criam vida. Descubra agora