〈3/0〉

142 13 6
                                    

C a p í t u l o 3 → A felicidade fugiu.

A felicidade era tanta que até fui obrigada a colocar a mão sobre o peito, tentando sentir o meu coração. Cheguei a pensar que talvez estivesse a sonhar, mas não, aquilo era demasiado real. Ele girou o seu pescoço o mais que pôde, levantando-se da sua cadeira assim que me viu. Larguei a mão da minha mãe e quase corri até aos braços dele, abraçando-o com toda a força que tinha assim que o alcancei.

- Pai... - Murmurei, com os olhos já inundados em lágrimas selvagens, que não tardaram a cair sem a minha permissão. Poder estar nos braços dele de novo era a melhor sensação do mundo. O cheiro adocicado do seu aftershave fez-me recordar certos momentos da minha infância, e eu sorri de imediato.

- Então, pequenina? Está tudo bem, o pai está aqui. Gostaste da surpresa? - A sua voz estava ligeiramente arrastada, rouca e trémula. Ele estava tão emocionado quanto eu, mas não o queria demonstrar. Afinal de contas, os homens não choram.

- Amei, pai. Oh, estou tão feliz por estares de volta! - Levei as duas mãos ao seu rosto, acariciando-o só para ter a certeza que era mesmo real e não fictício. O meu pai estava ali... O meu pai tinha regressado, são e salvo. Houve um momento em que eu fiquei algo confusa. Os meus pais trocaram olhares, mas nada disseram. Entretanto, todos nos sentámos à mesa, e o meu pai fez os pedidos.

- Como correram as coisas? Muitas mortes? - Foi a vez da minha mãe falar, quebrando assim o silêncio que se tinha imposto mal nos sentámos naquelas cómodas cadeiras. Não me parecia que aquela era a melhor questão para começar uma conversa com o marido que tanto ama, mas... Para mim aquilo estava a ser muito estranho, e creio que para Annabeth também.

Nós olhávamos uma para a outra, como se nos questionássemos mentalmente o que se estaria a passar entre os dois. Por norma, eles eram um daqueles casais que, assim que se reencontravam, abraçavam-se e beijavam-se, sem problema algum; não questionavam sobre mortes em combate. Disso nem falavam. Havia ali algo... Alguma coisa não estava bem.

O meu pai encolheu os ombros enquanto pousava o cardápio do restaurante, olhando entretanto para a minha mãe. - O de costume. Conseguimos fazer o que era pretendido, portanto... - Ele arqueou ligeiramente os lábios, mas não chegou a ser algo perto de se chamar de sorriso.

Cansada de tanta tensão que ali se fazia sentir, suspirei pesadamente e pousei as mãos sobre a mesa, nada preocupada com as ditas boas maneiras. - Ok, podem dizer-me o que é que se passa? Estão fartos de trocar olhares um com o outro e nós não estamos a entender nada. Caso não se tenham apercebido a Anna também aqui está, e não somos crianças inocentes que nada entendem. - As palavras saíram-me da boca num tom que não era de todo aquele que eu desejava. Soara um pouco rude, e por isso encolhi-me de imediato, desviando o olhar para não os encarar. Sei reconhecer e admitir quando não falo como deve ser, mas eles já me estavam a irritar.

Anna acariciou o meu braço, e eu ganhei coragem para os encarar de novo. Respirei fundo e aguardei que um deles dissesse algo, mas era como se ambos tivessem palavras entaladas na garganta. - Por favor...? Nós já somos um bocadinho crescidas... Só queremos saber o que se passa, creio que temos esse direito. - Annabeth falou, tão baixinho que eu cheguei a pensar que só eu é que tinha ouvido.

Depois de um longo suspiro e de olhar novamente para o meu pai, a minha mãe mordiscou o lábio e falou então. - Não vos trouxe aqui por acaso. - Começou por dizer, pronunciando as palavras tão depressa que nós mal entendêramos o que havia dito. - E não me refiro a trazer-vos ao restaurante, ou a este encontro com o teu pai, Cassia. - Franzi a testa, sentindo-me cada vez mais confusa.

Annabeth estava tão ou mais baralhada que eu, e a sua expressão falava por si. O meu pai pousou a mão em cima da mão da minha mãe e olhou-me. - As coisas não estão nada fáceis, meninas. Provavelmente viram hoje aquele programa com a Rosemary na televisão, e acredito que estejam assustadas quanto a isso. - Ele fez uma pequena pausa, recuperando o fôlego e a coragem para nos contar o resto. - A vila vai ser evacuada esta noite. Pelo menos, é o que está previsto. - Ele contou, e nós ficámos de queixo caído.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 23, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

SALUTEOnde histórias criam vida. Descubra agora