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Não sejam leitores fantasmas ㅜㅜ
(2640 palavras)

'Capítulo 1'

Estou prestes a vestir o uniforme da escola quando reparo num
homem que está a flutuar no exterior da janela do meu quarto.

Não, flutuar talvez não seja a palavra mais indicada; quando me
aproximo, com a saia de azul escura ainda amarrotada na mão, sinto a pul-
sação a ecoar-me nos ouvidos. Ele está pendurado, o seu corpo está
inteiramente suspenso por duas cordas metálicas que me parecem
perigosamente finas, considerando que estamos no vigésimo oitavo andar.
Abano a cabeça espantada como ainda alguém se coloca nestas
situações.

O que será isto uma espécie de um novo desporto radical?
Uma cerimónia iniciática de um gangue qualquer?
Uma crise de meia-idade?

O homem vê-me a olhar para ele e acena-me com alegria, como
se não estivesse a um cabo defeituoso, a apenas um nó solto ou a um pássaro especialmente agressivo.
Depois, com um gesto descontraído, tira um pano molhado de um dos bolsos e começa a esfregar o vidro que nos separa, a sua mão deixando rastos de espuma
branca por onde passa.

Ah. Pois, claro.
Sinto o rosto a arder. Estou há tanto tempo longe que já me esqueci que é assim que se lavam os vidros dos apartamentos da mesma forma que me esqueci como funcionam as linhas do metro, de como não devemos pôr o papel higiénico na sanita e descarregaro autoclismo.

Depois, há todas as coisas que mudaram nos doze anos em que eu e
a minha família estivemos no estrangeiro, as coisas que nunca tive
oportunidade de aprender. Como por exemplo, que as pessoas aqui já não usam dinheiro vivo.

Não estou a brincar. Ainda na outra semana, quando tentei dar
uma nota antiga de cem yuan a uma empregada de mesa, ela ficou boquiaberta a olhar para mim como se eu fosse uma viajante do tempo
que viera diretamente do século XVII.

- Hum, olá? Jiwoo? Ainda estás aí?

Quase tropeço no canto da cama com a pressa de chegar ao portátil, que está encostado a duas caixas de cartão marcadas com a inscrição COISAS POUCO IMPORTANTES DA JIWOO.

São caixas que ainda
não tive oportunidade de esvaziar, ao contrário daquelas que diziam:
COISAS MUITO IMPORTANTES.

A minha mãe acha que eu podia ser
um pouco mais específica com as minhas etiquetas, mas não se pode
dizer que não tenha o meu próprio sistema.

- JIWOOO? - chama a voz agora mais alta da Dahyun.

- Eu estou aqui, 'to aqui - respondo.

- Ah, ótimo, porque a única coisa que vejo é, literalmente, uma parede branca vazia. E por falar nisso... alguma vez vais decorar o teu quarto,
miúda? Já estás aí há, tipo, dois meses e ainda parece um quarto de
hotel. Quero dizer, de um hotel bonito, caro, moderno mas mesmo assim...

- É uma escolha artística minimalista minha, ok? Sabes que gosto de
Simplicidade.
Ela resfolega. Eu sei mentir muito bem, mas Dahyun tem um detetor de mentiras incorporado em si mesma.

- Será mesmo?

- Talvez - minto, virando o portátil para mim. Em um dos lados do ecrã está ocupado com um texto pessoal que ando a escrever como trabalho de casa de Inglês e depois tenho um milhão de pastas abertas porque andei a investigar «como escrever uma cena de um beijo»; são cá coisas minhas. Do outro lado do ecrã está o rosto lindo
e sorridente da minha melhor amiga.

Kim Da-hyun, está sentada na cozinha, ela usa a sua camisa de malha favorita qie eu mesma a ofereci á 3 aniversários passados, as madeixas loiras do cabelo alisadas num rabo de cavalo alto; as luzes em tons quentes aconchegantes que a iluminam formam uma linda imagem que a faz parecer um anjo de 16 anos com muito estilo. As janelas negras como breu atrás de si, e a taça de noodles de yakisoba instantâneos fumegantes que tem à frente, são os únicos indicadores da hora tardia de Atlanta

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⏰ Última atualização: Jan 09 ⏰

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