04.

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      Certa manhã, Shang Qinghua acorda assustado, respirando ar frio e seco em seus pulmões. Seu cérebro perseguiu o final de um pesadelo; terrores distantes e imaginários que escorregam como areia por entre os dedos.

-Qinghua... - murmura Mobei-Jun, a voz profunda do sono. Shang Qinghua olha para baixo e encontra uma longa mão com garras segurando a mão trêmula do humano. - O que há de errado? Você está chorando.

- Eu estou? - Ele estende a mão e sente a umidade em seus olhos. - Desculpe, meu rei, eu acabei de ter um sonho ruim.

Ele enxuga as lágrimas pegajosas.

-Com o que você sonhou?

-Eu...- ele tentou se lembrar exatamente o que era. Era algo com escamas, azul, opaco, como um céu nublado. Garras, afiadas como facas, e o silvo ardente quando os dentes afundaram em seu pescoço, com a intenção de despedaçá-lo, ao contrário das mordidas brincalhonas de Mobei-Jun.

-Não me lembro-diz ele finalmente, as últimas tangentes do sonho se banindo. - Eu acho que foi apenas um daqueles pesadelos bobos com monstros e outras coisas.

        Mobei-Jun se aproxima de Shang Qinghua, quase como se estivesse abraçando-o com todo o seu poder e escamas, apenas leve o suficiente para não esmagá-lo até a morte. Ele chia. 

-Não há nada de bobo em um pesadelo.

        Shang Qinghua quer chorar. Como é que o máximo que ele sentiu conforto em muito tempo deve vir da besta que vai matá-lo? O destino é um pouco cruel

-Não se preocupe com isso. Eu estou bem!- Ele suspira. - Você está...apertando muito forte...

-Se Qinghua insistir... - Mobei-Jun murmura antes de começar a relaxar dele. - Eu devo ir. Fique.

       Shang Qinghua pisca. 

-O quê? Aonde você vai?

-Eu preciso fazer os preparativos.-  É tudo o que ele disse, um tanto enigmático. - Eu não vou demorar, não se preocupe.

-Eu não estava me preocupando- ele bufa - Eu só pensei que você ficaria aqui por mais tempo, com hibernação e tudo isso. Apenas durma e faça o que as cobras demoníacas fazem para se divertir.

      Mobei-Jun arqueia uma sobrancelha. 

-Normalmente, mas algo sem precedentes aconteceu. Voltarei. - Ele diz, deslizando lentamente pela entrada da caverna, a longa cauda preta desaparecendo na escuridão.

      Shang Qinghua espera alguns minutos antes de seguir. O túnel é profundo; a única luz que vem da boca do covil de Mobei-Jun. Ele aperta os olhos, lembrando que o Naga havia deslizado sem esforço por esses túneis enquanto o carregava para baixo. Ele deve ser capaz de ver no escuro, o que definitivamente é uma desvantagem para Shang Qinghua. Enquanto tenta fugir, terá de manter os ouvidos atentos ao som das balanças.

       O ar também está frio. Frio e rançoso e pousando em sua pele desconfortavelmente. Ele ainda está vestindo as vestes daquele dia, já que, bem, cobras demoníacas gigantes não mantêm um guarda-roupa por aí. Seu material fino e revelador faz pouco para mantê-lo aquecido, então ele decide que precisará encontrar uma pequena pele da próxima vez.

      Shang Qinghua viaja por alguns minutos antes de encontrar seu primeiro obstáculo; um garfo. Ele sente as paredes enquanto elas se dobram, franzindo a testa quando não consegue sentir nenhuma corrente de ar ou sinais óbvios de saída nas proximidades.

.      Sabendo que Mobei-Jun pode voltar em breve, ele volta para a toca.

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